Boa Midia

Jonas Pinheiro, o senador do campo

Durante 23 anos Jonas Pinheiro travou um guerra diária silenciosa com o diabetes, mas foi derrotado em 19 de fevereiro de 2008, num leito de UTI do Hospital Amecor, em Cuiabá, onde estava internado desde  o dia 10 daquele mês. Na véspera de fechar os olhos para sempre a frieza de um boletim médico atestou sua morte cerebral.

Assim, Mato Grosso perdeu seu senador em segundo mandato e que antes cumpriu três legislaturas enquanto deputado federal sempre no PDS que foi rebatizado PFL e posteriormente DEM.

O corpo do senador foi velado e sepultado em Santo Antônio de Leverger, onde nasceu em 23 de março de 1941. O Senado compareceu em peso em seu sepultamento.

Jonas Pinheiro era considerado o principal interlocutor do agronegócio nacional na alta cúpula politica em Brasília. Era o senador do campo.

Com o adeus de Jonas Pinheiro assumiu seu primeiro suplente, o empresário e agrônomo em Rondonópolis, Gilberto Flávio Goellner, seu correligionário.

Sobre Jonas Pinheiro, em outubro de 2002, logo após a sua reeleição ao Senado, publiquei no Diário de Cuiabá o conteúdo que se segue. Entendo que sua história é a contida nesse texto, que mais de 16 anos não precisa de retoques.

A origem pobre de Jonas Pinheiro

Candidato ao Senado se elegeu deputado federal em 1982, pelo PDS, e nunca mais saiu de Brasília

De família pobre, Jonas Pinheiro nasceu há 62 anos, no sítio Vereda, de 1,5 hectare, em Santo Antônio de Leverger. Criado entre o batente e a sala de aula na escola pública, jamais imaginou que um dia chegaria ao Senado.

Jonas Pinheiro se orgulha da origem humilde e não esconde algumas passagens da vida, impostas pelas limitações financeiras dos pais. Conta que somente aos 11 anos viu e usou papel higiênico pela primeira vez. “Quando vi aquele rolo de papel amarelado, cheiroso, bonito, fiquei sem acreditar que servia para higiene. Também pudera, até então eu só usava sabugo de milho ou folha de mato”, conta.

No contato, com os problemas do campo, quando técnico agrícola extensionista da Empaer, pegou gosto pela política. Ouve reclamações dali, escuta sugestões daqui, Jonas Pinheiro passou a viver a realidade de Mato Grosso. Sem poder de fogo, afinal não tinha mando político, decidiu ampliar seus conhecimentos. Com o diploma de técnico formado pela Escola Agrícola de São Vicente (MT) debaixo dos braços, foi para Campo Grande (MS), de onde voltou veterinário, em 1975.

Em 1982, Jonas Pinheiro candidatou-se a deputado federal pelo PDS. Na verdade ele pretendia concorrer para deputado estadual, mas teria sido “empurrado” para aquilo que os caciques acreditavam que seria uma candidatura inglória. Quem pensou assim deu com os burros n’água.

Deputado federal, Jonas Pinheiro transformou seu gabinete em porta-voz da produção primária. Fiel ao PDS, ficou no partido até sua extinção. Em 1986 e 1990 se reelegeu para a Câmara, pelo PFL.

Em 1994, elegeu-se senador tendo por primeiro suplente o candidato a governador pelo PPS, Blairo Maggi (à época filiado ao PPB). No mesmo pleito, expandiu sua força política: sua mulher, Celcita Pinheiro, conquistou uma cadeira de deputada federal pelo PFL.

No ano passado, comentava-se nos bastidores que Jonas Pinheiro poderia ser indicado conselheiro do Tribunal de Contas. Enfrentando problema de saúde que dificultava sua locomoção, e que o levou a se licenciar do Senado, dava sinais que se afastaria dos meios políticos.

A imagem do senador pefelista adoentado, de bengala em punho, foi por terra tão logo o PPS lançou a pré-candidatura do prefeito de Cuiabá, Roberto França (PPS), ao governo. Naquele momento, mais que um nome, a aliança PPS/PFL/PPB tinha uma chapa majoritária ao Paiaguás, com Jonas Pinheiro secundando França.

A chapa França/Jonas não vingou. Contagiado pela perspectiva de mais uma candidatura e pressionado por produtores rurais, decidiu disputar a reeleição, pelo PFL.

Paixões: Dom Bosco e Fluminense

 

Pefelista, sim, suprapartidário, também. Essa frase se encaixa perfeitamente bem ao perfil de Jonas Pinheiro e mais o identifica com os produtores rurais. Afinal, foi com esse espírito, de porta-voz da cadeia agropecuária, que ele abriu a composição da suplência de sua candidatura. “O primeiro suplente… ora, quem escolheu foi a Fundação Mato Grosso”, dizem seus seguidores. Se é verdade ou não, é outro caso, mas que o ungido foi o barão do segmento sementeiro, Gilberto Flávio Goellner, filiado ao PPS, mas que se tornou conhecido ao comandar o recente Agrishow Cerrado em Rondonópolis, isso ninguém nega.

Os filhos, Giorgio e Giane, e os três netos são as grandes paixões do senador, mas o tempo para eles é curto. Tanto ele quanto Celcita são visitas raras na casa da família. Se para os familiares a agenda quase não abre brecha, imaginem só como fica o Jonas Pinheiro torcedor do Dom Bosco e do Fluminense do Rio.

“Era Félix, Galhardo, Oliveira, Assis e Marco Antônio; Samarone e Denílson… não, não me lembro mais a escalação completa daquele Fluzão”, reconhece o torcedor renegado Jonas Pinheiro, que não vê jogo pela tevê nem vai aos estádios. Tempo mesmo, bom e disponível, só para a política. Num dia está em Juína reunido com cafeicultores, noutro voa para São Félix do Araguaia, Água Boa, Marcelândia, Itiquira.

Entre um pouso e uma decolagem, uma reunião e outra, um telefonema ríspido para o diretor de Crédito do Banco do Brasil, Ricardo Conceição, cobrando liberação de financiamento para agricultores, Jonas Pinheiro aplaina a tentativa de reeleição.

Oposição política ele não sabe fazer. Criticar governo, também não. Não é do tipo de político que fere adversário, que cria rusga. Ao contrário, tem a figura do bonachão, sempre risonho e com disposição de ferro para correr o pires quando se trata de pedir prorrogação de dívidas, de ampliar e estender crédito, de pleitear tratamento a melhor para o homem do campo.

Ligação com produtores é forte

 

Alta Floresta, 18 de maio deste ano. O governador Rogério Salles (PSDB) e outros políticos participam da Expoalta, a exposição agropecuária daquele município. Cada um deles falou superficialmente sobre aquela feira. Quando Jonas Pinheiro pegou o microfone para o pronunciamento, um respeitoso silêncio varou a noite. “Participo desta exposição desde sua criação, há 16 anos. Estive em todas suas edições. Estou ligado a (Alta) Floresta desde os tempos de Ariosto (da Riva, o colonizador). Estive solidário com ele, ajudando-o a transportar mudas de frutíferas, de avião, do rio Renato (perto de Itaúba, 250 quilômetros de Alta Floresta) para cá, quando ainda não tínhamos estrada”. Aplausos e mais aplausos interromperam o senador.

Onipresença seria exagero. Mas que Jonas Pinheiro está presente em praticamente todos os movimentos ligados à produção primária mato-grossense, isso está. Respeitado até mesmo por adversários, o senador tornou-se uma espécie de referencial para a agropecuária de médio e grande porte e para a agricultura familiar.

Quando a dívida agrícola extrapolava a capacidade de liquidez dos mutuários do Banco do Brasil, Jonas Pinheiro comandou a CPI Mista do Congresso que apurou as causas do endividamento e da inadimplência. Uma das audiências regionalizadas dessa CPI foi realizada em Rondonópolis.

Ali, produtores denunciaram as mazelas dos seguidos planos econômicos frustrados, que originaram o endividamento. O atual presidente da Famato, Homero Pereira, quase foi às lágrimas ao revelar que era um agricultor falido, quebrado e o maior devedor da agência do Banco do Brasil em Alto Araguaia.

Se havia alguma porteira fechada para Jonas Pinheiro em Mato Grosso, ela se abriu com o resultado da CPI do Endividamento. Afinal, graças a ela aconteceu a renegociação ou alongamento ou qualquer outro nome que se queira dar ao fôlego que os endividados ganharam graças ao trabalho do senador e represente deles em Brasília.

Eduardo Gomes de Andrade – blogdoeduardogomes

FOTO: Youtube

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