Torpedeado pelo governo e Assembleia Mato Grosso precisa da bancada federal

Uma das máximas da Federação é o compromisso da União com os entes federativos estaduais e municipais e vice-versa. Por sorte Mato Grosso é amparado por esse postulado, que se bem aplicado será suficientemente forte para retirá-lo da enrascada em que se encontra por obra e graça do ex-governador Pedro Taques, seus aliados incluindo o governador Mauro Mendes, a legislatura que ora chega ao fim na Assembleia Legislativa e a generosidade empenhada de boa parte da mídia. A imprescindível luz no fim do túnel chega até o mato-grossense simbolizada pela Congresso Nacional, nossa esperança nessa terra torpedeada pelo governo estadual e a Assembleia.
Para sairmos da enrascada não podemos contar com o democrata governador Mauro Mendes, que além de arrogante e sem sensibilidade política não é referência enquanto administrador – que o diga seu grupo Bimetal, que mesmo engordado com incentivos fiscais milionários entrou em recuperação judicial.
Também não podemos apostar na equipe de Mauro para sairmos. Basta que miremos o secretário de Fazenda, Rogério Gallo, que assessorou Mauro quando prefeito de Cuiabá e foi nomeado secretário de Fazenda de Taques, por indicação e apadrinhamento do mesmo Mauro. Ora, Gallo exerce com Mauro a mesma função que desempenhou com o governador que o antecedeu. Ou seja, parte da enrascada tem as impressões digitais de Gallo.
Não devemos apostar na próxima legislatura estadual que assume na sexta-feira, primeiro de fevereiro. É preciso que se leve em conta que sete dos 10 deputados reeleitos respondem a algum tipo de ação e, dentre eles, o presidente atual, Eduardo Botelho (DEM), que deverá ser reeleito. Os que continuarão na Assembleia – incluindo quem não é investigado ou processado – e alguns dos novatos estão compromissados até a medula com Mauro e não com Mato Grosso.
Temos uma Assembleia parcialmente tornozeleirável até o trânsito em julgado de sentenças tão esperadas pelo Ministério Público e cidadãos de bem. Com um Legislativo assim não se chega a lugar nenhum.
A Imprensa, sempre cordata e ligada ao governo e Assembleia – com exceção de praxe – se compara ao marisco, que fica espremido entre o mar e o rochedo, uma vez que o mercado publicitário mato-grossense – com destaque para o cuiabano – é praticamente inexistente, muito embora empresários sempre estejam a postos cobrando posicionamentos jornalísticos. Portanto, entre a sobrevivência empresarial com os empregos que ela gera, e a nitidez dos fatos, não tenham dúvida que a opção será a primeira. Para sobreviver e também por costume bem arraigado – novamente com exceção – o jornalismo dobra os joelhos ao poder político.
Nos resta o Congresso Nacional, pois nem mesmo movimento sindical fortalecido temos.
No Congresso, por sua bicameralidade revisora, Mato Grosso tem fôlego no Senado, mas sua composição na Câmara, além de mínima é integrada por figuras do baixo clero – ou seja, na representação federativa, no Senado, todo Estado tem o mesmo peso: três votos; na formatação da Câmara, onde o parlamentar é porta-voz da população, somos pouco mais que zero à esquerda com nossos oito votos expressados – a partir de fevereiro – em sua maioria por rostos sem dimensão política nacional.
Confiemos nos senadores para encontrarmos a gazua que nos abra a porta ao amanhã. Apostemos na Câmara apesar do perfil fraco de seus membros.
SENADO –Wellington Fagundes (PR) é considerado municipalista e bom articulador, até mesmo por adversários. Wellington cumpriu seis mandatos consecutivos de deputado federal; tem experiência parlamentar.
Selma Arruda (PSL) não carrega mácula politica e tem trânsito com o presidente Jair Bolsonaro, o que a credencia e bem.
Jayme Campos (DEM) é turrão e tem responsabilidade pela eleição de Mauro. Independentemente de sua recente mudança de conceito sobre o agronegócio, do qual é um dos barões na pecuária, seu histórico na vida pública poderá ser útil para sairmos da enrascada que ele tanto contribuiu para que caíssemos, ora apoiando Taques ora Mauro ora ambos.
CÂMARA – Mesmo com reduzida representação pode se esperar que a bancada contribua para sairmos da enrascada, independentemente de sua inclinação por Mauro e outros interesses nem sempre confessáveis.
Emanuelzinho (PTB) será um voto à deriva. Não tem experiência política. Foi eleito numa campanha faraônica que levou as impressões digitais de seu pai, o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB) , que protagonizou o grostesco espetáculo de deixar pacote de dinheiro cair do bolso de seu paletó diante de Sílvio Corrêa, então chefe de Gabinete do à época governador Silval Barbosa. Sílvio e Silval sustentam que se tratava de mensalinho a Emanuel, que era deputado estadual. O acusado nega, mas nem sua negativa evitou que a sabedoria popular o apelidasse Emanuel Paletó. Emanuelzinho chegou ao poder num momento de fraqueza democrática do povo, principalmente do eleitor cuiabano. Parlamento decide colegiadamente, e independentemente dele, a maioria fechará questão com Mato Grosso.
Nelson Barbudo (PSL), o campeão nas urnas, foi eleito com voto de protesto contra o PT, mas não tem maturidade parlamentar. Mesmo assim, por seu perfil, deverá assumir bandeiras de interesse de Mato Grosso na área econômica, que é exatamente o setor onde estamos enrascados na esfera pública.
Rosa Neide (PT) tem perfil ligado aos meios sociais. Seguramente defenderá interesses de Mato Grosso que reflitam positivamente sobre o trabalhador – que é sua bandeira.
José Medeiros (Pode) era suplente de última hora do senador Pedro Taques e com sua renúncia assumiu o Senado no final de 2014. É da tropa de choque de Bolsonaro e deverá brigar por Mato Grosso, tanto pelo Estado quanto para fortalecimento do nome do presidente da República.
Juarez Costa (MDB) é um líder regional populista, mas que demonstra ser bom de voto. Cumpriu dois mandatos de prefeito de Sinop e fez boa administração. Quando deputado estadual rezou pela cartilha do então dono da Assembleia, José Riva, condição essa que não o recomenda. Contribuiu para a eleição de Mauro. Deverá assumir bandeiras mato-grossenses.
Neri Geller (PP) tem o perfil do baixo clero. Vereador por Lucas do Rio Verde, duas vezes suplente deputado federal e ex-ministro da Agriculta – cargo que caiu em seu colo numa composição de Dilma Rousseff com o agro e políticos mato-grossenses. Vivo e articulado, mesmo na sombra, sabe costurar e será importante para Mato Grosso.
Leonardo Albuquerque (SD) foi deputado estadual acima da média da legislatura que ora chega ao fim, mas, também tem culpa em cartório pelo fiasco do governo de Taques, ao qual apoiou com unhas e dentes. É muito ligado a Paulinho da Força (SD/SP), que o lançou à Câmara com as bênçãos do prefeito de Rondonópolis, Zé Carlos do Pátio. Essa afinidade poderá ser útil a Mato Grosso quando ele barganhar – no melhor sentido da palavra – apoio a projeto sindical do líder Paulinho por questões de interesse mato-grossense.
Carlos Bezerra (MDB) é deputado há longa data e uma das figuras nacionais de seu partido. Foi colega de plenário de Bolsonaro e conhece os caminhos das pedras. Também tem responsabilidade pela eleição de Mauro e garantiu espaço para apadrinhados no governo dele, mas pode usar sua capacidade de articulação antes que seja tarde demais para Mato Grosso.
RESUMO – Colegiado, o Congresso dificilmente alcança unanimidade em suas decisões, mas por sorte de Mato Grosso a maioria de sua bancada federal poderá encontrar o caminho para sairmos da enrascada, por mais que Mauro e a Assembleia fechem portas, embaralhem a realidade e vivam a lua de mel política do governo com o Legislativo. Esperemos também pelos congressistas mas não nos descuidemos de pedir a Deus, porque o duplo desastre administrativo e parlamentar que se abateu sobre Mato Grosso no começo de 2015 e continua fazendo estragos precisa, sobretudo, de milagre, para ser revertido.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTO: Agência Senado
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