Boa Midia

Mineração o Patinho Feio da Economia de Mato Grosso

Mineração em Peixoto de Azevedo, 2018
Mineração em Peixoto de Azevedo, 2018
Gercino Domingos, geólogo de Metamat mostra a importância histórica, política e econômica da mineração para Mato Grosso

O setor mineral de Mato Grosso, nos seus quase trezentos anos de existência, muito tem contribuído para o desenvolvimento socioeconômico do Estado.

Com advento das descobertas das jazidas de ouro na região de Cuiabá, Poconé, Nossa Senhora do Livramento e no Vale do rio Guaporé (região de Vila Bela da Santíssima Trindade) no século XVIII proporcionou a criação da província de Mato Grosso e sua expansão para o Oeste, além da área abrangida pelo Tratado de Tordesilhas.

Durante o período das descobertas dos garimpos de ouro e diamante foram fundadas várias cidades na província de Mato Grosso, entre as quais se destacam Cuiabá, Poconé, Nossa Senhora do Livramento, Diamantino, Vila Bela da Santíssima Trindade e Rosário do Oeste.

Garimpo em Peixoto de Azevedo 1980
Garimpo em Peixoto de Azevedo 1980

Paralelamente, a atividade mineral deu-se início à implantação de fazendas para a criação de bovinos, além de outras atividades de apoio à extração mineral, que durou até meados da década de setenta do século XIX.

No início do século XX foram descobertas inúmeras jazidas de diamantes na bacia dos rios Garças e Araguaia. Estas descobertas provocaram uma grande migração de trabalhadores (garimpeiros) de várias regiões do país, principalmente da Bahia e do Maranhão para a região Leste de Mato Grosso. Foram fundadas várias corrutelas, algumas das quais transformaram em cidades, a exemplo de Guiratinga, Poxoréu, Alto Garças, Tesouro e outras.

É importante frisar que a região situada no interflúvio dos rios das Mortes e o Araguaia era reivindicada pelo Estado de Goiás. A decisão sobre qual Estado seria detentor da referida área foi decidida via plebiscito realizado por volta de 1918, quando os garimpeiros sob a liderança do Dr. Morbeck, votaram a favor de Mato Grosso.

Na década de 30, do século XX, foram descobertas as minas de diamante das cabeceiras do rio Paraguai (Garimpo do Gatinho e do Pari).

Fábrica de cimento em Cuiabá, 2016
Fábrica de cimento em Cuiabá, 2016

Estas descobertas proporcionaram o povoamento da região Médio-Norte de Mato Grosso e fundação das cidades de Alto Paraguai, Nortelândia, Santo Afonso e Nova Marilândia.

Na década de sessenta foram descobertos os garimpos de diamantes na região de Paranatinga e Nova Brasilândia.
Na década de 70, com o processo de colonização pelo governo do Estado, aliado aos trabalhos de pesquisa mineral da Sopemi, deu-se as descobertas das ricas jazidas diamantíferas da região de Juína, que muito contribuiu para o processo de ocupação da região Noroeste de Mato Grosso.

No final da década de 70, deu-se início as descobertas de inúmeros depósitos de ouro na Província Aurífera de Peixoto de Azevedo – Alta Floresta. Estas descobertas desencadearam um grande fluxo migratório para a região.

No início das atividades garimpeiras houve alguns conflitos com os moradores dos projetos de colonização em fase de implantação, a exemplo de Alta Floresta e outros.

É importante frisar que o garimpo foi a principal atividade econômica da região Norte de Mato Grosso por mais de vinte (20) anos, contribuindo de forma decisiva na consolidação dos projetos de colonização da iniciativa privada, a exemplo de Alta Floresta, Colíder, Paranaíta, Apiacás, Carlinda e fundação de algumas cidades de origem eminentemente garimpeira a exemplo de Peixoto de Azevedo e Novo Mundo.

No começo da década de 80, iniciou a reabertura dos garimpos dos antigos (época dos bandeirantes), na Baixada Cuiabana (Cuiabá, Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger), Poconé, na região do Guaporé (Pontes e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade, Nova Lacerda) e na região Leste, Garimpo dos Araés (Nova Xavantina).

Este boom da mineração em Mato Grosso se deu logo após a divisão do Estado, no dia 11 de outubro de 1977, para a criação de Mato Grosso do Sul, e foi decisivo para a sustentação econômica de Mato Grosso, uma vez que os municípios mais populosos e com maior arrecadação ficaram para o Novo Estado, e Mato Grosso ficou com apenas 38 (trinta e oito) municípios, em sua maioria com pequena população e baixa arrecadação.

Atualmente, a atividade mineral esta presente em todos os municípios do Estado, porém responde por menos de 2% do PIB estadual. Produzimos poucos bens minerais, entre os quais se destacam o ouro, o diamante, as rochas calcárias (pó corretivo, cimento e cal), os minerais e rochas indústrias (argilas, areias, britas, paralelepípedos), a água mineral, as pedras coradas em pequenas quantidades (ametista, quartzo rutilado, opala, etc.), rochas ornamentais (granito em pequena escala) e águas termais (turismo e outro).

É importante frisar que Mato Grosso entra no século XXI altamente dependente do subsolo alheio (com carências de várias substâncias minerais), que já poderiam ser produzidas no próprio Estado.

O Estado é grande importador de insumos agrícolas (fósforo, potássio, nitrogênio, enxofre), de agroquímicos (inseticidas, herbicidas e outros), de rochas ornamentais (granitos, mármores, etc.), de produtos cerâmicos (pisos, azulejos, vasos sanitários, pias, etc.).

A produção destes insumos minerais localmente ajudaria na diversificação da produção industrial do Estado, hoje dependente de quatro setores primários ligados ao agronegócio (soja, milho, algodão e gado) e do setor terciário.

Nas últimas duas décadas grandes depósitos minerais foram e estão sendo descobertos no Estado: depósito de Zinco de Aripuanã (um dos maiores do Brasil), de Níquel em Comodoro, de Ferro em Juína e Cocalinho, de Manganês em Juara e Guiratinga, de Fosfato na região de Mirassol D’ Oeste e Planalto da Serra e outros.

No setor de Geoturismo merece destaque o cinturão geotermal que vai da Serra de São Vicente/ Jaciara/ Juscimeira/ São Pedro da Cipa/ Poxoréu/ General Carneiro/ Barra do Garças, O Domo Araguainha/ Ponte Branca (maior Cratera de Impacto de Meteorito da América Latina), O Sítio Pedra Preta (Paranaíta), as Cachoeiras e Cavernas da região de Chapada dos Guimarães, etc.

Estes sítios precisam ser melhores estudados e divulgados no âmbito estadual, nacional e internacional, para incrementar o turismo em Mato Grosso.

A Companhia Matogrossense de Mineração – METAMAT, empresa de economia mista, regida pela Lei 6.404/76 (Lei das S.A), constituída na forma da Lei Estadual de 3.130 de dezembro de 1971 e Decreto Estadual Nº 329 de dezembro do mesmo ano, vinculada a Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia – SICME, tem por missão garantir ao Estado e a sua população o acesso aos benefícios gerados pelo aproveitamento dos seus Recursos Minerais.

Os objetivos estratégicos básicos da empresa são: fomentar, promover e incrementar o setor mineral do Estado, visando o aproveitamento racional dos seus recursos minerais; resgatar, armazenar, consolidar e divulgar informações sobre a sua geologia; dar suporte à prospecção, a pesquisa mineral e a gestão do meio físico.

Nas quatro décadas de existência da empresa foram realizados diversos trabalhos de prospecção mineral, direcionados para a pesquisa de ouro, diamante, calcários, água mineral, rochas ornamentais, insumos agrícolas, projetos ambientais e outros.

A empresa também já foi pioneira na produção de pó corretivo de calcário para fins agrícolas, na pesquisa de água termal para fins turísticos e outros. A empresa, já foi detentora de vários depósitos e minas de diamante, ouro, calcário, ferro, manganês, água termal para fins turísticos e outros, teve parte de seu patrimônio dilapidado, em função de ingerência política e má gestão administrativa.

Espero que Deus ilumine o atual governador de Mato Grosso, para que o mesmo valorize o setor mineral, que foi a primeira atividade econômica do Estado, como também a responsável pela consolidação do território mato-grossense.

Um Estado tão pujante como Mato Grosso, não pode ficar tão dependente do subsolo alheio e também da exportação de três ou quatro produtos do setor agropecuário (soja, algodão, milho e carnes), exportados em sua maioria para a China. Corremos o risco de que se ocorrer um resfriado econômico na China, seremos afetados por uma pneumonia econômica muito forte.

Para acompanhar a evolução da atividade mineral e planejar políticas publicas para o setor o Estado precisa contar com uma empresa publica de mineração enxuta, formada por uma equipe técnica capacitada e com dedicação exclusiva na execução dos programas definidos como prioritários pelo o governo do Estado.

Os gestores da empresa devem ser pessoas que tenham uma visão ampla da importância da mineração para a geração de empregos e desenvolvimento socioeconômico do interior do Estado.

Gercino Domingos da Silva
Geólogo Sênior/METAMAT
CREA NACIONAL Nº 120400996-1

 

FOTOS:

1 – Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Peixoto

2 – blogdoeduardogomes em arquivo

3 – blogdoeduardogomes em arquivo

1 comentário
  1. GUSTAVO GOMES PEREIRA Diz

    ótimo texto e contextualização. Vamos ficar na torcida e cobrança para com o atual governo do estado em relação a METAMAT, ruim com ela, pior sem….

Comentários estão fechados.

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