Escrevo-te esta cartinha
CUIABÁ – Olha, essa campanha Papai Noel dos Correios, pela qual pessoas adotam uma cartinha escrita por uma criança (ou por um dos pais ou responsável, em seu nome) com o seu pedido de presente ao Bom Velhinho traz registros que são mesmo de cortar o coração de qualquer mortal, como bem observou a repórter-editora Aline Almeida em matéria sobre o assunto recém-publicada na revista ‘Única’.
Cartas, você sabe, são uma coisa típica das sociedades tradicionais, das gentes de antigamente, de quem ainda preserva os valores e sentimentos mais elementares e singelos da raça humana.
E o que dizer, então, de cartinhas escritas por crianças externando um tão caro desejo? Impacto emocional que ainda mais se acentua quando se sabe que a maioria delas é oriunda de famílias carentes vivendo esse quase impasse de todo fim de ano em que se sonha presentear os pequeninos, mas às vezes não se tem dinheiro sequer para o pão de cada dia.
Há pedidos de crianças que sobreviveram a uma queimadura generalizada, de outras que ao invés de um presente lúdico gostariam de ganhar uma cesta básica, um colchão especial para doente ou convalescente, pacotes de fraldas, remédios, uma bicicleta para ir à escola e até das que pedem uma colocação no mercado de trabalho para o pai ou a mãe vítima do terrível desemprego.
Atender a um chamado desses, mais do que nossa obrigação, é uma oportunidade rara que nos é dada de nos presentear também, de nos sublimar, elevar-nos um pouco, pelo menos, num tempo e num mundo assim tão limitados por preocupações chãs, rigorosamente de pouca monta quando comparadas às coisas e aos sentimentos que verdadeiramente importam (ou deveriam importar).
É só procurar uma agência dos Correios em Cuiabá e Várzea Grande (são muitas, à escolha) e se inserir na campanha. Mas veja bem: vai só até o dia 21 de dezembro; até lá você escolhe a cartinha compatível com seu orçamento e entrega o presente, que depois os Correios se encarregam de entregar à pequena ou ao pequeno destinatário.
Por mais que pareça óbvio, e redundante até, ainda devemos teimar em dizer que uma ação dessas, tão pequena financeiramente para a maioria de nós, pode fazer toda a diferença na vida de uma criança (na maioria das vezes, também na da família dela, de seus amigos e vizinhos, de sua comunidade enfim).
Toda a força, vida longa ao Papai Noel que, assim como o fugitivo do conto de Jack London, nesta noite de Natal há de seguir pelas trilhas do mundo levando a boa-nova do nascimento do Menino, símbolo maior do renascer para todos os humanos, até mesmo para aqueles que porventura nele nem creem.
MARINALDO CUSTÓDIO, escritor, é mestre em Literatura Brasileira pela UFF
mcmarinaldo@hotmail.com
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