De violão e pássaro
Para quem escreve em jornal (e nos derivativos sites, blogs e assemelhados), tal qual nos ocorre hoje, a voz que vem das ruas, dos transeuntes, das janelas dos carros que passam por nós, do papo nas bancas de revistas e em mesa de bar, nos oferece o melhor termômetro de avaliação/repercussão daquilo que publicamos.
É, precisamente, quando alguém se aproxima e te diz: “Vi o que você escreveu no jornal” ou “você agora também anda escrevendo sobre este assunto? Desde quando?!”.
E quando nos ocorre, a quem como eu que escreve quase sempre sobre arte e cultura, uma repercussão um pouco maior, é o caso de prestar especial atenção. Especialíssima, eu diria. Afinal, não são tantos assim os nossos leitores, em regra.
Então, se numa semana como a que passou (em que publiquei neste ‘Diário’ uma matéria sobre cinema) recebi, dentro e fora do jornal, demonstrações de atenção ao que escrevi, é certamente porque o assunto, de alguma forma, mexeu com as pessoas bem além daquilo que consigo em condições normais.
É que nesse campo de atuação na escrita, como, aliás, em muitos outros, também existem as modalidades mais populares, as que mais seduzem os leitores de todos os matizes e representações sociais.
E o cinema, conforme se sabe, é mesmo muito sedutor tanto para a intelectualidade quanto para as massas, dividindo com a música popular a glória de ser a mais massivamente cultuada dentre todas as artes.
Nem por isso, porém, desejo a partir de agora escrever preferencialmente sobre a arte da telona. Não é a minha praia, minha cultura cinematográfica é muito pequena, quase insignificante se comparada à que tenho da literatura e da música popular, por exemplo.
Não sou crítico de cinema nem alimento a pretensão de me meter a tal, embora, conforme disse na matéria publicada da semana passada, possa escrever eventualmente sobre o assunto sempre que gostar bastante de um filme.
Fico sempre, como sempre, escrevendo sobre literatura, filosofia, música popular, comportamento e outros que tais.
Afinal, permaneço sempre atento às palavras da dupla Sá & Guarabyra na canção ‘Pássaro’: “um tocador de violão não pode cantar / prosseguir / quando lhe (o) acusam de estar mentindo / quer virar pássaro e rolar / no ar / no ar / quer virar pássaro / e sumir”.
E sumir.
MARINALDO CUSTÓDIO, escritor, é mestre em Literatura Brasileira pela UFF
mcmarinaldo@hotmail.com
Publicado na edição desta quinta-feira, 1º de novembro de 2018 no Jornal Diário de Cuiabá Pág. A2 e postado na edição digital daquele matutino em www.diariodecuiaba.com.br
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