Boa Midia

A direita está fazendo o dever de casa contra a censura?

Leandro Lima*

MATUPÁ

O avanço da censura e a atuação questionável de setores do Judiciário brasileiro têm preocupado muitos cidadãos que prezam pelas liberdades individuais, pela democracia e pela Constituição. Mas a grande pergunta que ecoa nos bastidores da política e nas rodas de conversa da sociedade civil é: o que a direita brasileira tem feito, de fato, para conter esse avanço autoritário?

A esquerda entendeu, há décadas, que a verdadeira revolução não é feita apenas nas urnas ou nas ruas — mas, principalmente, na cultura, na educação e nas instituições. Quando Lula afirmou que era necessário “tomar o poder” por dentro, com paciência e estratégia, ele não estava brincando. Eles fizeram isso com maestria. Ocupando espaço nas universidades, na imprensa, no meio artístico, nas associações de classe e, sobretudo, no Judiciário, com nomeações bem calculadas. Formaram líderes, professores, escritores, comunicadores. Criaram um ecossistema ideológico.

E a direita? A direita até conseguiu mobilizar milhões nas ruas, elegeu deputados e senadores, criou influenciadores digitais e canais de opinião. Mas se engana quem acha que isso é suficiente. Não se vence uma guerra cultural com memes e vídeos curtos no Instagram.

Recentemente, visitei o gabinete de um deputado estadual aqui em Mato Grosso, conhecido pelo seu discurso conservador e pela defesa dos valores da direita. Cheguei com uma proposta concreta: um projeto de educação financeira para crianças, alinhado aos princípios de autonomia, responsabilidade e liberdade individual. Não fui atendido. E mais: o chefe de gabinete, visivelmente despreparado, ridicularizou o projeto sem apresentar solução alguma.

Esse é apenas um exemplo. Mas é sintomático. Há uma direita midiática, de likes e de frases de efeito, que se recusa a sair da superficialidade e entrar nas trincheiras da formação de base. Quantos livros estão sendo escritos por pensadores conservadores brasileiros? Quantas editoras, escolas, universidades, ONGs ou fundações estão sendo criadas para formar líderes alinhados aos ideais de liberdade econômica, Estado mínimo e valores cristãos?

Em Mato Grosso, temos deputados federais e estaduais que se dizem de direita. Mas o que têm feito com suas emendas parlamentares? Que tipo de legado estão construindo? Quais os projetos concretos para preparar o futuro? Onde estão os investimentos em formação, em centros de pensamento, em juventude, em cultura?

E aproveito para levantar uma questão essencial: e o agro? O agro, que tanto se orgulha dos milhões que alimenta, que se vangloria de representar mais de um quarto do PIB nacional, que se gaba de empregar milhões de brasileiros — o que tem feito para também investir no futuro da nação? Estão preocupados apenas com o próprio bolso, com a próxima safra, com a exportação do mês? Se não ajudarem a construir agora, com investimento em educação, cidadania e formação de base, não haverá futuro para plantar. Um solo fértil não garante colheita se a semente da liberdade e da consciência nacional não for lançada hoje.

Enquanto a esquerda prepara o futuro com estratégias sólidas e permanentes, a direita parece reagir apenas aos escândalos do presente. Faltam projetos estruturantes, visão de longo prazo e, principalmente, coragem de enfrentar os verdadeiros inimigos da liberdade com ações concretas, não apenas palavras.

Se a direita quiser fazer frente à hegemonia cultural da esquerda, precisa parar de terceirizar a responsabilidade para o povo que vai às ruas e começar a construir a base, influenciar a educação, formar intelectuais, ocupar espaços — com seriedade e estratégia.

Chega de direita que vive de curtidas. O Brasil precisa de uma direita pensante, atuante e com compromisso histórico com a liberdade. Porque, no fim das contas, quem não planta, não colhe. E se a direita (e o agro) não começarem a semear agora, o futuro será inevitavelmente vermelho.

*Leandro Lima é conservador, escritor, jornalista e educador. Criador da série “As Três Capivarinhas”, atua com projetos de educação e cidadania voltados para crianças e jovens, além de defender o protagonismo da sociedade civil na construção de um Brasil mais livre e justo

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