Pequim está mais perto de Vila Bela da Santíssima Trindade e Cáceres
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes

Pequim estará mais perto de Vila Bela da Santíssima Trindade e de Cáceres. Mais didático ainda: a viagem de navio do porto de Santos a Pequim é de 45 dias. Pelos portos chilenos e peruanos a duração da navegação cairá para um mês. Este será apenas um dos ganhos quando consolidados os Caminhos Andinos, tema que será debatido em Cáceres, no dia 10 deste mês de maio, num evento conduzido pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e com a participação de outros ministros, com as prefeita anfitriã Eliene Liberato e outras autoridades mato-grossenses, além de representantes da Bolívia e Peru. Mais: Caminhos Andinos é um nome regionalizado, mas na verdade trata-se da Rota Quadrante Rondon, inserida nas cinco rotas intercontinentais que o presidente Lula da Silva quer consolidar para botar o Brasil frente a frente com sua vizinhança.
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Simone Tebet, Waldez Góes (Desenvolvimento Regional), Carlos Fávaro (Agricultura) e Sílvio Costa Filho (Porto e Aeroportos) irão a Cáceres esmiuçar a Rota do Quadrante Rondon, um polo regional quadrado (daí o nome acrescido com a palavra Rondon) formado pelo Acre, Rondônia e pela faixa de fronteira de Mato Grosso, com 983 km de extensão nos municípios de Poconé, Cáceres, Porto Esperidião, Vila Bela e Comodoro – com 730 km em solo firme.
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A meta é a criação de infraestrutura de transporte terrestre para se alcançar os portos do Sul chinelo e do Norte peruano, com destaque para o grande porto de Chancay, em fase final de construção no Peru, pela chinesa COSCO Shipping, que terá 60% do capital da infraestrutura portuária em sociedade com a Volcan do Peru, que responderá por 40%.

O Brasil quer ganho logístico e o lucro propriamente dito nos dois sentidos da rota. A meta do plano da Rota do Quadrante Rondon elaborado pelo presidente Lula da Silva é embarcar commodities agrícolas do quadrante, por Chancay, via Acre. Mas a extensão fronteiriça abre portas para outros acessos do Pacífico, com garantia de retorno no frete, não no volume no sentido litoral, mas com quantidade de carga compensadora.
Para Mato Grosso a Rota Quadrante Rondon tem duas saídas naturais para a Bolívia e o Chile, sendo uma por Cáceres e outra por Vila Bela. O destino final será o porto de Arica, na cidade chilena do mesmo nome, mas além dos embarques portuários, que serão para a Ásia, sobretudo China, Japão, Coreia do Sul e Vietnã, há um mercado consumidor ao longo da rodovia que atravessa Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba e La Paz, além das demais cidades no trajeto.
Aos bolivianos e chilenos a economia mato-grossense pode oferecer frango congelado, frutas tropicais, móveis, serralheria, implementos agrícolas, calçados, cimento, carne bovina desossada, carne suina enlatada, sementes de soja, ovos, colchões, cerveja, refrigerante, suco de frutas, fécula, carrocerias de caminhões, óleo de soja, açúcar, arroz, feijão, café empacotado, leite, lácteos, madeira serrada, roupas, selaria e outros itens.

No sentido inverso, além do sal, a Bolívia tem importantes insumos agrícolas como ureia, potássio, e sódio, indispensáveis ao agronegócio e importados da Rússia, Ucrânia, Bielorrussia e Canadá, “e estes insumos estão a mil quilômetros de Vila Bela e a 1.500 km de Cuiabá”, observa o prefeito de Vila Bela, André Bringsken. Além disso o lítio utilizado na fabricação de baterias jorra fácil na terra dos hermanos,
Em Rondônia e no Acre serão necessárias grandes obras para a consolidação da Rota Quadrante Rondon. Em Mato Grosso será preciso pavimentar 75 km de Vila Bela à fronteira com a Bolívia, sendo que a obra em 40 km deverá ser licitada pelo governo estadual ainda neste semestre.
Mato Grosso está no centro do continente, o que é considerado ganho logístico, mas para os bitrens descarregarem no Pacífico será preciso duas obras rodoviárias na Bolívia: uma na rota para Cáceres e outra para Vila Bela.

Por Cáceres há um trecho na Bolívia com 340 km sem pavimentação, mas La Paz incluiu aquela carretera – rodovia – em seu plano rodoviário nacional. Para Vila Bela alcançar Arica será necessário pavimentar 240 km, dos quais 75 km Brasil. Do lado boliviano o governador de Santa Cruz, Luís Fernando Camacho Vaca, anunciou a uma delegação mato-grossense que o visitou na semana passada, que seu Estado (Departamento) não tem capacidade orçamentária para a obra, mas que dará o trecho em concessão para exploração por pedágio por 25 anos, ao grupo empresarial que a construir.
As duas alternativas para Mato Grosso chegar a Arica têm bom sentido logístico: a produção agropecuária em Comodoro, Campos de Júlio, Sapezal, Brasnorte, Campo Novo do Parecis, Pontes Lacerda, Nova Lacerda, Conquista D’Oeste, Vale de São Domingos, Figueirópolis D’Oeste, Indiavaí, Reserva do Cabaçal, Araputanga, Glória D’Oeste e Porto Estrela será escoada por Vila Bela; Porto Estrela, Curvelândia, Lambari D’Oeste, Rio Branco, Salto do Céu, Mirassol D’Oeste, São José dos Quatro Marcos, Barra do Bugres, Nova Olímpia, Diamantino, São José do Rio Claro e Tangará da Serra, por Cáceres via San Matias.
A interligação com os países vizinhos, no tocante a Mato Grosso, além de pavimentação também precisa de desburocratização e integração aduaneira. Na Bolívia a central trabalhista COB (a CUT deles) teima na reserva de mercado de volante para nacionais e mantém barreiras chamadas trancas, onde o fígado do policial dita o valor cobrado para liberar a passagem dos leves aos pesadões.
MILHO – No deserto do Atacama, no Norte do Chile, as aves das granjas que produzem frangos para os aviários são alimentadas com ração à base de farinha de pescado. A alimentação deixa a carne de frango impregnada com o sabor de peixe. O Chile tem interesse no milho mato-grossense. Em 2002 cobri uma delegação que foi a Santiago, com apoio do governador Rogério Salles, em busca da integração regional; em 2003 uma missão chilena revelou a demanda pelo cereal numa reunião em Cuiabá com autoridades e produtores rurais, mas àquela época o interesse do governador Blairo Maggi era pela consolidação de um multimodal de transporte rodofluvial para escoar por Porto Velho e Itacoatiara (AM) as commodities produzidas no Chapadão do Parecis.

Ainda temos jornalista em Mato Grosso
Professora Suely Freitas – via WhatsApp – Rondonópolis
Muito bom o seu texto. Parabéns!
Jornalista Cosme Heinar – via WhatsApp – Cuiabá
Impressionante reportagem , cheia de ricos detalhamentos, só mesmo quem conhece para produzir, pena que fica limitado a poucos, deveria ser melhor divulgado
Professor Josué Brandão – via WhatsApp – Rondonópolis
Participei com meu pai, da Comissão Pró-ZPE, em 1989/90 e estive no Palácio do Planalto, quando da assinatura de sua autorização pelo Pres. José Sarney. Você apontou, corretamente, o camiho para o nosso desenvolvimento: integração.
Juiz de Direito Geraldo Fidélis – via WhatsApp – Cuiabá
Excelente texto!
Matéria excelente, detalhada e… longa. Até parece de ‘0 Estado de S.Paulo’, jornal que assino no digital
Parabéns!
Professor e escritor Marinaldo Custódio – via WhatsApp – Cuiabá
Excelente esta matéria. Espero que isso se concretize
Ex-presidente da OAB/MT Renato Gomes Nery – via WhatsApp – Cuiabá
Não creio nesta falácia do Lula isso é para travar a Ferrogrão no Mato Grosso e no Pará
Este material ficou muito bom, eu apenas reafirmo que essa saída para o Pacífico está sim no “radar” do processo da ZPE de MT há muitos anos, antes mesmo da criação da administradora em 92…através do Conselho de Integração e Desenvolvimento Regional-CIDERC, que tivemos o privilégio de presidir por alguns anos…temos algum material a respeito, de qualquer maneira defendemos ferrenhamente a consolidação e livre funcionamento dessas rotas ligando ao Pacífico…que nos coloca “cara a cara” com o centro do comércio mundial deste Século…veja a COMPLEMENTARIEDADE destas conexões no slide anexado, é uma das telas de um material mais completo que vou enviar amanhã, grande abraço
Engenheiro civil Adilson Reis presidente da AZPEC – via WhatsApp – Cáceres
Belíssimo texto, pofundo; matéria investigativa. Aguardando as publicações da “Série Perfil”.