Boa Midia

Mato Grosso ganha novo senador

Não é todo dia que se ganha um senador. E não é que Mato Grosso acaba de ganhar, o que lhe permitirá recompor sua representação de três cadeiras no Senado? Isso mesmo. A partir de fevereiro, quando o Congresso retomar os trabalhos, sob novos presidentes em suas Casas Legislativas, teremos em plenário o liberal Wellington Fagundes.

Alguém pode questionar: uê, Wellington se elegeu senador em 2014, depois de cumprir sete mandatos consecutivos de deputado federal? Esse questionamento, sob estreitamento de visão, é válido. Acontece, que ao se olhar a atuação desse parlamentar como um todo não será difícil entender que até então o mesmo se limitou a um informal porém vigoroso gerenciamento da Superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Mato Grosso.

Desde seu longo período na Câmara Wellington se dedicou ao rodoviarismo. Esse ciclo terminou – juntamente com janeiro que também termina – com a exoneração do engenheiro Orlando Fanaia da chefia regional do Dnit, cargo que exercia há cinco anos, por indicação do senador.

Wellington perdeu o Dnit e ganhou a oportunidade de se dedicar ao Senado de modo integral, colocando Mato Grosso como um todo no centro de suas atenções parlamentares e políticas.

Passou! O Dnit passou para Wellington. Não foi um período de conquistas para Mato Grosso, senão vejamos:

No ciclo dnitiano de Wellington – vamos chamá-lo assim – a BR-163 ganhou duplicação quase total no trecho da divisa MT/MS a Posto Gil (de Diamantino). Essa obra teria que ser executada com ou sem a participação do senador por se tratar de rodovia com grande fluxo de veículos, sobretudo pesados. Sobre ela paira uma nódoa que atinge o poder político nacional: sua concessão ao grupo Odebrecht, com a santa mãe União bancando quase toda sua duplicação e a entregando na bandeja àquele grupo de ligação nada recomendável com o governo federal conforme Laja Jato nos mostrou.

Também nesse ciclo (retroagindo ao período de Wellington na Câmara) a BR-364 ganhou pavimentação entre Diamantino e Comodoro, na divisa com Rondônia, observando basicamente o traçado das linhas telegráficas construídas pelo herói Marechal Rondon no começo do século passado. Sobre essa rodovia: havia grande interesse de Blairo Maggi em sua pavimentação para facilitar o escoamento de commodities do Chapadão do Parecis ao terminal de embarque fluvial de sua empresa Hermasa, em Porto Velho, de onde os carregamentos são transportados pela Hidrovia Madeira-Amazonas, em que seu grupo empresarial atua fortemente. Mais: a conquista desse corredor se deve, sobretudo, ser creditada ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que é de Diamantino. O Brasil político ouve, acompanha, não discorda, respeita e atende o grande empresariado e os doutos senhores da toga – nesse caso, Blairo e Gilmar.

O grande gargalo do Vale do Araguaia é a falta da conclusão da pavimentação da BR-158 no trecho de 140 quilômetros entre Alô Brasil e o Trevo para Pontinópolis, que em quase sua totalidade cruza a Terra Indígena Marãiwatsédé; Wellington com seu rodoviarismo não conseguiu atender a essa demanda. Também no Araguaia, a Travessia Ubana de Barra do Garças, Pontal do Araguaia e Aragarças (GO) sempre foi bandeira desse parlamentar, mas essa obra se arrasta desde tempo imemoriais.

Mato Grosso sonha com a BR-242 e tem outros sonhos rodoviários, todos devidamente empacados.

Será que Wellington foi apenas parlamentar dnitiano? Não! Claro que não!

O embrião do Estatuto do Idoso  surgiu de uma proposta de Wellington quando deputado em começo de carreira. A luta pela criação da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) contou com sua participação. Nada mais significante nasceu de seus mandatos, que também se caracterizaram pela sucessiva canalização de emendas parlamentares ao Estado e municípios.

Enquanto Wellington avançava dnitiante sua liderança partidária se esvaziava. Em Rondonópolis, sua cidade, o PL que ele preside regionalmente não ocupa uma cadeira sequer na Câmara, há muito tempo. O partido não consegue nem mesmo lançar candidato a prefeito ou vice.  Em Mato Grosso a legenda do senador administrava, até o ano passado, somente uma grande cidade: Sinop, mas já perdeu o controle político naquela que será a capital de Mato Grosso do Norte. Mato Grosso não tem deputado federal nem deputado estadual liberal e até mesmo a deputada estual Janaína Riva (MDB), nora de Wellington, não o acompanha no plano partidário.

Os dois suplentes de Wellington no Senado não se filiaram ao PL. O primeiro, Jorge Yanai, é filiado ao Podemos. O segundo, Manoel Motta, é uma das lideranças regionais do PCdoB.

Passou! O Dnit é página virada para Wellington.  Que ele aproveite bem os dois anos que lhe restam de mandato no Senado e que ponha Mato Grosso no centro de suas atenções. Aposto que a experiência parlamentar acumulada ao longo de 30 anos, sua visão empresarial e formação acadêmica lhe darão a luz e o discernimento necessários para um bom desempenho em Brasília.

Estamos sob um pandemia com mais de cinco mil mortos e temos um governador – Mauro Mendes – que é fraco administrativamente, nossa bancada federal é do baixo clero e a Assembleia Legislativa muito ligada ao Palácio Paiaguás. Que o Senhor do Bonfim, padroeiro da Boa Terra dos ancestrais do rondonopolitano Wellington Antônio Fagundes lhe abençoe, oxente!

A hora é agora. Mato Grosso espera que seu novo senador tenha bom desempenho parlamentar.

Eduardo Gomes de Andrade – jornalista em Cuiabá

eduardogomes.ega@gmail.com

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies