Boa Midia

Lave nossa alma, Cuiabá

Série A ou elite do futebol brasileiro é sonho, mas está perto de se transformar em realidade. Afinal, o que é um empate jogando em casa, para um clube que atravessa a competição sempre no topo da tabela, inclusive na liderança por bom tempo? Bem no centro do continente, onde a população fala com sotaque cantarolado, se desmancha por um pacu assado e não fica sem o guaraná ralado, uma parte reza a São Benedito; outra se agarra a Oxalá, nessa sexta-feira, dia que lhe é consagrado; outros mais apenas fazem figa ou elevam os olhos aos céus pedido a proteção divina. Ecumenicamente o pensamento coletivo explode numa paixão: vai Cuiabá, que a hora é agora.

Não se pode jogar responsabilidade pela classificação do Cuiabá somente nas costas do goleiro João Carlos. Claro que se ele fechar o gol, ainda que o ataque do Dourado não marque, a classificação estará garantida. Mas, sem essa cobrança. Deixemos que a bola role para nós e para o Sampaio Corrêa, nosso antigo e ranheta rival dentro das quatro linhas.

Time jovem fundado em 12 de dezembro de 2001 pelo ex-jogador Luís Carlos Tóffoli, que o Brasil conhecia pelo apelido: Gaúcho, o Cuiabá tem uma bela trajetória. Coleciona títulos regionais e da Copa Verde, disputou Copa do Brasil e o Brasileirão nas séries C e D. Com os dois pés prontos para o adeus a Série B, o Dourado quer passaporte para a principal competição nacional na América do Sul. O elenco é bom, em campo o time sobra, o treinador Allan Al afinou da equipe e o espírito entre os 11 é coletivo. Longe da Arena Pantanal, onde hoje tudo se decidirá, o torcedor está em transe. Também longe do gramado o empresariado do trade turístico começa a fazer contas imaginando o aumento da taxa de ocupação de leitos na hotelaria; os donos de restaurantes, bares e boates esperam vê-los lotados.

Com o Dourado na Série A Mato Grosso entraria no roteiro do turismo esportivo. Conquistar esse ponto hoje significa garantir 19 partidas na Arena Pantanal enfrentando Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Grêmio, Fluminense, Santos, Atlético Mineiro, Internacional e outros grandes clubes. Seria reviver os dias de emoção que a Copa do Mundo de 2014 nos proporcionou dentro do campo, com oitos seleções de todos os continentes, e fora do gramado com a paixão chilena explodindo nas ruas e inundando os ares com o grito de guerra: Chi-chi, lê-lê-lê.

Vai Cuiabá. Vamos com você. Faça chover felicidade coletiva na cidade de Moreira Cabral e do Marechal Rondon, que foi palco pra arte de Bife, Mão de Onça, Pelezinho, Dito Siqueira, Gilson Lira, Luiz Carlos Beleza e tantos outros ídolos do ontem, quando sua fundação sequer era pensada. Vai com a força de sua equipe, a serenidade de comissão técnica e a dedicação do presidente Alessandro Dresch.

Vai Dourado. Garanta a vaga, hoje. Não espere combinação de resultados nem a deixa para depois. Somos povo assolado por uma pandemia e atingidos por suas consequências econômicas. Nos dê a alegria do feito inédito no Brasileirão disputado em pontos corridos. Lave nossa alma, Cuiabá; enxugue nossas lágrimas e nos devolva o sorriso que a amargura da vida tenta sufocar.

Eduardo Gomes de Andrade edita blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Cuiabá, 22 de janeiro de 2021

ARTE: Assessoria do Cuiabá Esporte Clube

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