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Menos presença internacional da Petrobras prejudica Brasil, diz especialisa

Na quarta-feira (23), a Petrobras anunciou uma nova estratégia de mercado internacional visando contenção de gastos e concentração de atividades. Para discutir o assunto, a Sputnik Brasil ouviu Deyvid Bacelar, o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que criticou o foco da atual gestão da empresa.
A estratégia da gigante petrolífera brasileira dará ênfase à Europa, América do Norte e Ásia e prevê o fechamento de ainda mais escritórios. A atividade internacional será concentrada nas cidades de Roterdã, nos Países Baixos; Houston, nos Estados Unidos; e em Cingapura, no país homônimo.
A estimativa da empresa é economizar US$ 13,5 milhões por ano (cerca de R$ 70 milhões), em 2021, com a desativação de escritórios internacionais. A Petrobras Europe Ltd., que funcionava em Londres, terá suas atividades transferidas para a Petrobras Global Trading B.V., em Roterdã.
Desde 2018, dez de 18 escritórios da empresa fora do Brasil foram fechados – China, México, Irã, Turquia, Estados Unidos (Nova York), Paraguai, Japão, Nigéria, Tanzânia e Líbia. Escritórios na Bolívia, Argentina, Colômbia e Uruguai também têm previsão de serem fechados em breve.
A mesma estratégia deve se repetir no Brasil, onde, dos 23 edifícios administrativos da empresa, apenas oito devem ser mantidos após o primeiro trimestre de 2021. A expectativa é que a redução diminua as despesas em até US$ 30 milhões (cerca de R$ 156 milhões) no próximo ano.
Deyvid Bacelar, coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), associa essa nova política às mudanças que a empresa vem sofrendo desde 2016, quando, após o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência do Brasil, Pedro Parente foi nomeado presidente da Petrobras. A empresa é atualmente presidida por Roberto Castello Branco.
“A Petrobras tinha uma atuação como uma empresa integrada, inovadora e por conta justamente disso ela buscava estar presente nos mais diversos mercados em que ela tinha interesse produtivo, tecnológico, comercial e financeiro. Atualmente a empresa, por conta da sua mudança que vem ocorrendo desde 2016, está atuando como uma empresa enxuta e especializada”, aponta o petroleiro em entrevista à Sputnik Brasil.
Entre as principais mudanças aplicadas na Petrobras nesse período esteve a alteração do sistema de preços de combustíveis, que passou a ser balizado pelo mercado internacional causando flutuações e críticas. O coordenador geral da FUP ressalta como a estratégia de enxugamento dos escritórios internacionais está ligada ao atual modelo de gestão da Petrobras.
“Essa diminuição do número de escritórios é a impressão desse encolhimento, dessa diminuição da empresa. Antes era uma empresa que tinha uma estratégia que passava por descobrir novos campos de petróleo, o que exigia justamente mais escritórios espalhados pelo mundo e tivemos grandes descobertas em diversos países. Agora, a estratégia da empresa, dessa nova gestão da empresa, infelizmente passa apenas por vender óleo cru. O que exige bem menos escritórios espalhados pelo mundo”, explica.
A nova estratégia, segundo Bacelar, privilegia na estatal brasileira uma visão de curto prazo, focada em ganhos financeiros para uma parcela minoritária de acionistas. Para o petroleiro, essa é uma mudança prejudicial, uma vez que a Petrobras é historicamente uma empresa ligada à criação de novas tecnologias e ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, o que fará falta diante da crise econômica que o país vive.
“Isso diante da crise que nós estamos vivenciando traz um problema gigantesco para o desenvolvimento regional no Brasil. Se houve desenvolvimento em algumas regiões do país, e aqui citando Norte, Nordeste e Sul do Brasil, foi porque primeiro a Petrobras se instalou nessas regiões”, afirma, apontando que a atual gestão está desintegrando a estatal por meio de privatizações de ativos e subsidiárias e que isso coloca a empresa em risco.

FUP organiza mobilização e prevê greve em 2021

Em nota publicada no site da FUP, a organização afirma que realizará uma série de mobilizações contra a atual gestão da empresa.
“A categoria [dos petroleiros] em reação a todo esse processo de desmonte da empresa, aprovou nas assembleias realizadas até ontem, dia 23 de dezembro, atos e mobilizações que culminarão em uma greve no início do ano”, diz Bacelar.
Ainda sem data, estão previstos atos em terminais baianos contra a venda da refinaria Riam e um Dia Nacional de Luta pela redução do preço do botijão de gás. Uma greve também está prevista para começar na Bahia contra a privatização do Sistema Petrobras e pela reivindicação de direitos, empregos e pela vida.

 

Sputnik Brasil

FOTO: br.sputniknews.com  – Referencial

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