Trem aniversaria em Rondonópolis à espera da concorrência

Rondonópolis, quarta-feira, 19 de dezembro de 2012. O trem apita pela primeira vez na cidade que é o principal polo do agronegócio no Centro-Oeste. Naquela data, sem corte de fita e discursos, sob o olhar de poucos jornalistas, entrava em operação o maior corredor ferroviário de transportes de commodities agrícolas da América Latina, com 1.658 quilômetros até o porto de Santos. Essa data passa em branco. Não há citação a ela, e se não fosse pelos textos dos poucos jornalistas que presenciaram aquele momento, ela seria volatilizada, pois sequer ganhou espaço na história oral.

Desde então os trens nunca deixaram de circular no trajeto de 1.658 quilômetros da Ferrovia Senador Vicente Vuolo, que liga Rondonópolis ao porto de Santos. A Rumo, dona da ferrovia, não entra em detalhes, mas nas entrelinhas admite que seus comboios escoam anualmente 18 milhões de toneladas das lavouras de Mato Grosso para os navios. Essa movimentação se torna ainda maior quando se considera o sentido contrário do transporte, pela Raízen e a Brado Logística. Essa ferrovia foi construída graças ao arrojo do empresário Olacyr de Moraes, um visionário, que a estendeu da divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul a Mato Grosso, mas não conseguiu continuar à sua frente em razão da falência de seu império de negócios.
A Raízen opera um terminal de distribuição de combustível em Rondonópolis. A Brado Logística, que é subsidiária da Rumo, é pioneira na América Latina no transportae de cargas ferroviárias em dois andares, o chamado double stack, que para melhor entendimento em Mato Grosso – por analogia – é o mesmo que cultivar a mesma área, no mesmo ano, com duas culturas diferentes. Mais simples ainda: é o empilhamento de duas cargas de vagão em um só. Essa operação é feita no trecho de Sumaré (SP) a Rondonópolis.
Com transporte seguro e menos poluente o trem se incorporou à cadeia do agronegócio mato-grossense. Ambientalistas o saúdam num apertado abraço verde motivado pela seguinte fundamentação: uma composição com 100 vagões transporta um volume de carga que exigiria 357 caminhões. O trem emite 14 kg de dióxido de carbono por cada quilômetro percorrido, já os 357 caminhões emitem 762 kg de poluentes em idêntico percurso. Econômico, o trem percorre 374 quilômetros com um galão de óleo diesel, enquanto um caminhão percorre apenas 109 quilômetros. Esse cenário poderá melhorar ainda mais nos aspectos ambiental e econômico caso as locomotivas a diesel sejam substituídas por elétricas.

TERMINAL – O terminal da Rumo recebeu o nome de Complexo Intermodal de Rondonópolis (CIR) e foi inaugurado em 19 de setembro de 2013 pela presidente Dilma Rousseff e o governador Silval Barbosa. Sua construção em parte de uma área de 385 hectares destinado a tal finalidade conferiu à ferrovia o título de maior corredor ferroviário de exportação de commodities agrícolas da América Latina.
Ponto mais ao Norte da ferrovia, o CIR é um dos quatro terminais de embarque em Mato Grosso. Os demais operam em Itiquira, Alto Araguaia e Alto Taquari.

No entorno do CIR Rondonópolis ganhou um diversificado parque industrial que cresce e mantém indicativos de crescimento contínuo para a alegria de trabalhadores de diversas categorias e da insaciável tributação federal, estadual e municipal.
TARTARUGA – No trecho paulista da Rumo a velocidade do trem é menor do que em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso do Sul, por se tratar de ferrovia antiga, construída para o transporte de cargas relativamente leves. Mas, no final de 2018 a Rumo recebeu um financiamento de R$ 2,89 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para literalmente botar o trem nos trilhos. A melhoria da malha ferroviária está em curso e quando concluída, o tempo médio da viagem de Rondonópolis a Santos deverá despencar de 54 horas para 36.
Parte desse financiamento se destina à compra de locomotivas e vagões com maior capacidade de carga, e na melhoria do CIR para aumentar sua estrutura estática de armazenamento de grãos e a criação de espaço para operação de fertilizantes em torno de 7,5 milhões de toneladas anuais e das cargas de retorno oriundas de Santos.
Concorrência da Ferrogrão

Nem com reza brava se consegue saber qual a participação das cargas agrícolas do Nortão e entorno nos embarques da Rumo em Rondonópolis. Mas, uma coisa é certa: boa parte dos trens que escoa commodities para Santos trafega com produtos da safra em Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Santa Rita do Trivelato, Sorriso, Santa Carmem, Tapurah, Vera, Ipiranga do Norte, Sinop, Juara, Porto dos Gaúchos, Tabaporã, Nova Ubiratã, União do Sul, Nova Guarita, Peixoto de Azevedo e Diamantino.
A produção do Nortão cai como luva para a Rumo, mas quando a Ferrogrão sair do papel e entrar nos trilhos essa mamata acaba, pois naturalmente a região escoará suas safras por aquela ferrovia que será construída entre Sinop e Miritituba, que é uma vila na margem direita do Tapajós diante da cidade de Itaiutuba (PA).
O projeto Ferrogrão nasceu junto a empresários do agronegócio e trades, e foi abraçado pelo Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal, em 2016. A ferrovia será concedida e terá 933 quilômetros incluindo dois ramais: Santarenzinho, com 32 quilômetros, entre Itaituba e Santarenzinho no município de Rurópolis; e o de Itapacurá, com 11 quilômetros.
A previsão é que no início da operação a Ferrogrão transporte 42 milhões de toneladas de grãos anualmente. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, defendem essa obra, por julgá-la estratégica. Além das trades, a cúpula dos produtores de soja veste a camisa da ferrovia que dará acesso a um dos mais importantes portos do Arco Norte.
O projeto Ferrogrão está bem alinhavado e poderá ser iniciado no segundo semestre de 2021 para ser concluído em cinco anos.
Com a Rumo e a Ferrogrão Mato Grosso terá um vácuo ferroviário entre Rondonópolis e o Nortão, com cada uma dessas regiões canalizando cargas para a ferrovia mais próxima às suas lavouras. No trecho do vácuo não há produção em escala nem cargas que justifiquem a construção de aproximadamente 500 quilômetros de trilhos.
Resumindo: A Rumo é uma das ferrovias mais lucrativas do Brasil. Com o esvaziamento das cargas do Nortão, seu volume transportado cairá, caso não haja incremento na oferta de cargas com a expansão da agricultura e o desenvolvimento da agroindústria no polo de Rondonópolis.
Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1, 2 e 3 – Christiano Antonnuci – Site público do Governo de Mato Grosso
4 – blogdoeduardogomes
5 – Brado Logística – Divulgação
6 – ANTT – Divulgação
Comentários estão fechados.