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‘Superfungo’ é transmissível e difícil de ser notado

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta na segunda-feira (7) sobre uma investigação em curso do possível primeiro caso positivo no país do “superfungo” Candida auris.

O Candida auris foi descoberto em 2009 e já se alastrou por mais de 30 países e causa preocupação por ser “multirresistente” a medicamentos e fatal em cerca de 39% dos casos.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o médico infectologista Alessandro Comarú Pasqualotto, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, explicou que o Candida auris é um “agente oportunista”.

“Eles costumam dar doença quando ocorre alguma quebra de barreira, algum catéter é colocado no nosso corpo, a gente faz uma cirurgia, ou as bactérias do nosso corpo morrem porque tomamos antibióticos e esses fungos proliferam”, afirmou.

Segundo o boletim da Anvisa, o diagnóstico ocorreu em um adulto internado no estado da Bahia e foi confirmado pelo Laboratório do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A agência destaca que o fungo “representa uma grave ameaça à saúde global”, e que já havia emitido um alerta de risco anteriormente, em 2017.

Por sua vez, por ser tratar de um fungo do gênero Candida, o referido fungo pode causar uma candidíase, doença que também pode ser chamada de candidose, e que pode se apresentar de forma superficial, a exemplo, na pele, ou ser profunda.

O médico epidemiologista Guilherme Werneck, professor do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), disse que a infecção causada pelo Candida auris pode se agravar se passar para o sangue.

“A infecção do Candida auris é bem complicada, bem mais rara, e pode ser bastante grave se ela passar para o sangue. É possível ter infecções por Candida auris e ela não causar grandes problemas, mas se ela entrar no sangue pode causar uma infecção que é muito grave”, explicou à Sputnik Brasil.

Werneck afirmou que, no entanto, se não passar para a corrente sanguínea, o Candida auris pode conviver com o seu hospedeiro sem causar grandes problemas.
Werneck também disse que a Candida auris já apresentou cerca de cinco mil casos de infecção pelo mundo. Embora o número seja expressivamente pequeno, a resistência do fungo é o que preocupa.

“[A] Candidas auris, a maior parte delas, é resistente aos medicamentos que são utilizados para seu tratamento. Cerca de um terço dessas Candidas é resistente a pelo menos a um medicamento […] e uma quantidade pode ser resistente a mais medicamentos, então o tratamento pode ser bastante complicado em algumas situações”, declarou Werneck.

Além disso, a candidíase não precisa de que uma pessoa já apresente outra doença infecciosa para se desenvolver.

Já Pasqualotto comentou como o fungo pode ser transmitido.

“É contagioso por contato, mas é uma doença rara. Tem um caso apenas descrito no Brasil, tem poucos milhares de casos pelo mundo […] Ele afeta mais comumente pessoas hospitalizadas que estejam invadidas, especialmente por cateteres, que estejam tomando antibióticos, e que sofrem a necessidade de cirurgias e que estão colonizadas por este fungo”, disse Pasqualotto.
Outro problema é a dificuldade de médicos e laboratórios identificarem a presença do fungo.

A razão disso seria o fato de que a maior parte dos laboratórios não tem condições necessárias para a identificação do fungo, ao passo que o mesmo pode ser confundido com outros semelhantes.

No entanto, apesar de ser uma doença que preocupa agências de saúde e hospitais, os dois especialistas explicam que o Candida auris possui um índice de mortalidade que muda de pessoa para pessoa.

“A mortalidade é muito variável e depende muito da gravidade da doença do paciente. Não é claro quanto esse fungo agrega risco de morte. Em geral, o risco de mortalidade é dado pela gravidade da doença do paciente”, contou Pasqualotto.
Enquanto isso, segundo Werneck, o fungo é mais letal em pacientes que apresentam algum tipo de comorbidade, ou seja, que possuem outros problemas de saúde, o que facilita o desenvolvimento da forma sanguínea da Candida auris, podendo levar ao óbito.

A Anvisa informou que uma força-tarefa nacional já está organizada para combater a disseminação do Candida auris.

Risco de pandemia?

Apesar de a Candida auris poder ser transmitida a outras pessoas pelo contato, seja direto ou por via de objeto, isso não significa dizer que o mundo está sob o risco de uma pandemia do fungo da proporção da pandemia de COVID-19.

“A COVID-19 é uma doença transmitida pela via respiratória, enfim, frente às situações de aglomerações ela é facilmente transmitida e se tornou esse problema de contaminação mundial. Esse fungo, embora tenha se disseminado por todo o mundo, ele é um fungo ainda de infecção rara e restrita a pessoas vulneráveis dentro de cenários hospitalares. Eu vejo que em um país como Brasil grande como é, apenas um paciente foi diagnosticado com Candida auris, que ainda é uma infecção muito pouco comum”, disse Pasqualotto.

br.sputniknews.com.br – Foto Sputnik Brasil

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