Boa Midia

Violentos, mas bola que é bom…

No início da década de 50 surgiram no Atlético Mato-grossense dois jogadores – Aírton Vaca Braba e Pinto Guarda Civil – que entravam nos adversários para quebrar mesmo. Sem muita intimidade com a bola, apelavam para o jogo desleal para suprir suas deficiências técnicas – recorda Uírton de Castilho, que jogou no Mixto por vários anos e levou muitas botinadas dos dois.

 

Pinto Guarda Civil, que atuava no meio campo, além de descer o sarrafo pra valer nos adversários, ainda ameaçava prender quem reagisse ou reclamasse do seu jogo viril. Por ser guarda civil, Pinto valia-se dessa condição para impor sua autoridade sobre os adversários dentro do campo.

Campeonato de 1952: Mixto e Atlético Mato-grossense disputavam um jogo dramático no campo do hoje Liceu Cuiabano. A certa altura do segundo tempo, o ponteiro esquerdo Ubirajara, do Mixto, pegou uma bola no meio de campo e correu em direção à linha de fundo, perseguido por Aírton, para cruzar para a área adversária.

Nem bem Ubirajara executou o cruzamento, depois de aplicar um drible no seu marcador, Aírton deu um violento soco na cara do adversário, derrubando-o desacordado. Estava formada uma confusão da grossa, com os mixtenses tentando pegar Aírton de qualquer jeito. Com o tumulto envolvendo jogadores e torcedores, a partida foi encerrada.

Ubirajara era sargento do 44º Batalhão de Caçadores, hoje Batalhão de Infantaria Motorizado e em cujas dependências na Avenida Lava-Pés, bem pertinho do Liceu Cuiabano, a notícia da agressão chegou rapidinho. Em poucos minutos baixou no campo, ainda tumultuado, uma guarnição do Exército caçando Aírton Vaca Braba por todos os lados…

Ainda bem que o dirigente mixtense Zelito Figueiredo, percebendo a gravidade da besteira cometida pelo zagueiro atleticano contra um integrante das Forças Armadas, teve a feliz iniciativa de sumir com Aírton Vaca Braba do campo antes que os furiosos militares chegassem para vingar a agressão ao companheiro…

Aírton Vaca Braba, depois de parar de jogar bola, defendendo por muitos anos o Paulistano, o Atlético Mato-grossense e o Mixto, virou um dos mais folclóricos treinadores que já passaram pelo futebol mato-grossense. Como médio volante, que jogava até no gol se fosse preciso, ganhou notoriedade pela sua voluntariedade e disposição incomum de lutar pela vitória, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Graças a essas virtudes, foi considerado pelo radialista William Gomes o jogador-símbolo da raça alvinegra, um grande or¬gulho da tribo mixtense.

Homem simples e de pouca cultura, Aírton Vaca Braba era chamado de mestre, em razão da sua competência no exercício do ofício de marceneiro e carpinteiro. Funcionário da extinta Comissão de Estradas de Rodagem de Mato Grosso, Aírton Vaca Braba rodou por todo o Estado indiviso construindo pontes de madeira. Para os filhos, Aírton Vaca Braba deixou uma herança que consideram bilionária: a dignidade.

Pai de 12 filhos de dois casamentos, mestre Aírton Vaca Braba conseguiu formar todos eles – exceto dois falecidos – a maioria com no mínimo dois cursos de nível superior. No esporte, dois seguiram as pegadas do pai: Admir Neves Moreira e Zito. Formado em Educação Física e Geografia, Admir foi jogador e treinador do Mixto. Seu irmão Zito jogou no Palmeiras, do Porto, mas se destacou mesmo foi no futebol de salão de Mato Grosso.

Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino

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