Boa Midia

Suborno, uma maldição no futebol

O autor

São muitas as histórias sobre suborno no futebol de Mato Grosso. A prática começou nos primórdios do amadorismo e avançou pelo profissionalismo. E tem gente de muita vivência no mundo da bola que garante que essa praga ainda não foi extirpada do futebol mato-grossense. A diferença é que agora o acerto é mais disfarçado. Só isso!…

 

O centroavante Fião, que fez sucesso no futebol mato-grossense defendendo o Palmeiras, o Dom Bosco, o Operário, além das seleções de Cuiabá e do Estado, diz que nunca existiu esse negócio de um clube dar dinheiro para atleta de outro time para ganhar o jogo.

– No nosso tempo nunca existiu esse negócio de jogador se vender. Como os clubes iam subornar jogadores adversários se não tinham dinheiro? – questiona Fião.

O goleiro Fulepa admite que recebeu dinheiro uma vez para “entregar” o jogo. Seu time, o Atlético Mato-grossense, ia jogar com o Operário, de Várzea Grande, no Dutrinha. Como o clube várzea-grandense precisava ven¬cer, um diretor do tricolor, Rubens dos Santos, ofereceu dinheiro para meio time do Atlético para garantir a vitória.

Comunicado pelos jogadores sobre o que estava acontecendo, o presidente atleticano Auro Matoso foi incisivo: “Peguem o dinheiro e joguem o futebol que vocês sabem jogar…”
Com o dinheiro no bolso, os atleticanos meteram 7×1 no clube várzea-grandense.

***************************************

Em 1957 ou 58, a seleção da capital foi a Campo Grande disputar três jogos pelo Campeonato Estadual de Seleções, cujos classificados para decidirem o título num torneio em pouco mais de uma semana, eram Cuiabá, Campo Grande, Aquidauana, Corumbá e Ponta Porã.

Treinada por Leônidas, que já tinha parado de jogar, a seleção de Cuiabá era uma das favoritas para ser campeã. Por isso, foi uma decepção a goleada que o selecionado cuiabano levou de Campo Grande, na sua estreia, pelo placar de 6×1.

À noite no hotel, depois do jantar, o presidente da Federação Mato-grossense de Desportos, professor Gastão de Mattos Muller, levantou-se e, sem rodeios, citou os nomes de cinco ou seis jogadores que deveriam fazer as malas e se mandar para o terminal rodoviário para retornarem à Cuiabá, porque estavam, a partir daquele instante, desligados da seleção.

Por que tinham sido dispensados? Simplesmente porque o grupo havia se vendido para a seleção campo-grandense…

***************************************

O jogo entre Mixto e Dom Bosco caminhava para o fim e nada do árbitro dar um jeito de facilitar a vida do alvinegro. A torcida mixtense sa¬bia que o juiz estava na “gaveta” e, irritada, correu para o alambrado e passou a xingá-lo, apelando para os mais grosseiros palavrões para obrigar o juiz a cumprir o trato…
Chegou uma hora em que o árbitro aproximou-se de um numeroso grupo de torcedores alvinegros que estava atrás do gol do Dom Bosco e explodiu: “Porra, manda o Acácio cair na área que eu dou pênalti…”

***************************************

– Pô, eu estou avançando toda hora. Vocês têm que jogar a bola nas minhas costas… – essa foi a explosão que o árbitro Orlando Antunes de Oliveira ouviu de um zagueiro mixtense contra jogadores do time adversário numa importante partida do Campeonato Mato-grossense de Futebol já era profis-sional.

A reação do zagueiro, que estava correndo feito um desesperado, não deixava dúvida que o jogador mixtense estava na “gaveta”. O árbitro não se lembra contra quem foi o jogo do Mixto e nem do resultado.

***************************************

O juiz Aírton Franco, escalado para apitar uma decisão entre Mixto e Dom Bosco, foi procurado por um dirigente dombosquino – que tinha sido pugilista e era bamba na compra de um árbitro – que chegou com uma conversa mole, como se não quisesse nada. Mas antes que partisse para a “cantada”, foi despachado, pois o juiz sabia muito bem o que ele estava querendo.

De outra feita, Aírton Franco foi procurado por um diretor do Comercial, de Poconé, que não fez segredo: o clube precisava daquele título que ia disputar contra o Mixto. Era uma questão de sobrevivência do time poconeano. Aírton Franco entendeu o recado e mandou–o na hora a ir bater em outra freguesia…

***************************************

O Dom Bosco teve um diretor, cujo nome era Antonio Bastos, que tinha uma única função no clube: comprar jogadores adversários, principalmente goleiros. E se o resultado de um jogo entre outros times interessasse ao Dom Bosco, era com ele mesmo fazer os acertos, numa boa…

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies