Boa Midia

Pedro Taques e a embriaguez política

Consciente e inconscientemente todos nós alinhavamos o histórico de nossa passagem pela Terra. Com Pedro Taques (SD) não é diferente, mas, turrão irrecuperável, Taques teima em borrar com tinta que não se apaga, um canto de sua biografia em construção. Longe de aconselhá-lo e sem intimidade para tanto, mas somente no plano jornalístico, abordo essa quadra da vida que julgo ser uma encruzilhada para ele, jurista  renomado e que foi professor universitário, procurador da República, senador e governador.

 

Não existe ex-político. Uma vez político sempre político com ou sem mandato. Taques não é exceção. Política é embriaguez sem ressaca – por isso prende os que a abraçam.

Ainda sangrando pelo governo que concluiu em 31 de dezembro de 2018, Taques teima em disputar o Senado numa eleição suplementar. Entrou na campanha com esse sangramento agravado pela radicalização de seu sucessor e ex-liderado Mauro Mendes (DEM), que vê a disputa sob dois prismas sem prevalência de um sobre o outro: a possibilidade de eleger o senador biônico Carlos Fávaro, que preside o PSD do ex-mandachuva José Riva, e a chance de massacrá-lo como fez no primeiro turno da eleição ao governo quando chegou ao poder com o vice Otaviano Pivetta (PDT).

Numa campanha manga curta com tempo mínimo no rádio e TV não é fácil se eleger senador na quase continentalidade territorial mato-grossense. Mesmo sabedor desses obstáculos Taques montou uma chapa digna com os suplentes delegado Fausto Freitas Silva e a médica e figura humana Dra. Elza Queiroz, ambos do Cidadania. Turrão e couro grosso, Taques se preparou para ser alvo do esquema Mauro Mendes e da Imprensa Amiga, que sempre gravita no entorno do governador independentemente de quem exerça o cargo. 

Na passagem de outubro para novembro Taques sentiu sintomas do novo coronavírus. Pertencente ao grupo de risco para a doença, por seus problemas pulmonares, que em 2017 por quatro vezes o abalaram e o levaram ao hospital, o turrão se isolou domiciliarmente num final de semana enquanto aguardava resultados dos exames a que se submeteu. A boa notícia veio rápida, não era nada, necas de pitibiribas. Ele, afastado da campanha, não retornou a ela imediatamente pois tinha uma pauta muito relevante em Brasília; sustentar oralmente sua defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra uma decisão unânime do Tribunal Regional Eleitoral, que indeferiu seu pedido de registro de candidatura acatando a tese do Ministério Público Eleitoral de que ele teria usado a Caravana da Transformação, em 2018, para fim eleitoral.

Taques não desiste

Em Brasília Taques bateu prego n’água no TSE, que bem ao estilo da Justiça Eleitoral indecidiu sobre sua situação no agora. Mantida sua candidatura Taques disputará sub judice. O eleitorado está insatisfeito com a classe política dominante e que dominou, e estando ele em desconforto jurídico, sua chance de vitória seria a mesma de um chinês em ser passista com sucesso na Portela ou na Mangueira.

Avalio que o governo de Taques foi fraco, perseguidor e de nariz arrebitado, mas jamais o condenaria pela Caravana da Transformação, que permitiu a milhares de mato-grossenses voltarem a ver a luz do sol, pois se tratava de uma iniciativa itinerante para procedimentos cirúrgicos oftalmológicos. Digo isso com a experiência de quem sobrevive há 40 anos com visão monocular. Não, aquilo não foi promocional! Creio que a Caravana não deva ser incluída entre as promoções pessoais (e familiares) dos governantes nas últimas décadas. Por ela, tiraria Taques do corredor da morte e o louvaria, de coração.

Nunca entrei nos gabinetes de Taques no Senado e no Palácio Paiaguás. O vi em algumas coletivas e entrevistas exclusivas. Sempre o tratei com seriedade, mas mantendo distanciamento. Confesso que por várias vezes presenciei seu primo e chefe da Casa Civil, Paulo Taques, fazer brilhantes pronunciamentos em atos públicos. Brincava com ele pra maneirar, pois estava despertando ciúmes dos aspones e das cavalgaduras que sempre rodeiam o poder. Paulo tentava se conter pra não rir.

O governo de Taques que começou com sirenes anunciando prisões de adversários terminou com o mesmo barulho levando secretários para o xilindró. Testemunhei aquele período.

Taques não recua. Turrão, vai enfrentar as urnas, quando poderia fazê-lo daqui a dois anos caso seja absolvido pelo TSE. Se botasse o espaço de tempo entre novembro de 2020 e outubro de 2022 teria  a volatilização da história oral, principalmente a cuiabana que é muito tênue, como aliada.

Com uma boa dose de coragem Taques deveria sair da disputa alegando respeito à decisão judicial da qual discorda – e que não tem trânsito em julgado ainda – mas pelo andar da carruagem, permanecerá desafiador, e sem notar, pela embriaguez da política, que o leva a se precipitar e borrar a biografia que é dele e escrita somente pelo mesmo,

Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

FOTOS:

1 – Geraldo Tavares

2 – Site www.circuitomt.com.br

 

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