PERFIL – Emanuel Pinheiro e o julgamento das urnas

Não é fácil traçar o perfil de Emanuel Pinheiro. Ele é o típico cidadão que se subir ao cadafalso e o carrasco lhe der um minuto para suas últimas palavras, os dois trocarão de lugar e, antes do último suspiro, o executor estará pensando que fez bom negócio.
blogdoeduardogomes posta o perfil dos candidatos ao Senado na eleição suplementar e dos que concorrem à prefeitura de Cuiabá, como é o caso de Emanuel Pinheiro (MDB), que tenta se reeleger.
De berço político e de família política. Assim é Emanuel Pinheiro, que foi vereador por Cuiabá e deputado estadual tendo conseguido a proeza de se aposentar com salário integral de deputado pelo Fundo de Assistência Parlamentar (FAP). Quanto a essa mamata, nada a acrescentar. Se trata de mimo mensal que a Assembleia deposita a uma centena de afortunados, e dentre eles, Roberto França (Patriota), que foi prefeito da capital e quer voltar ao cargo.
Emanuel Pinheiro vereador foi um zero à esquerda. A Câmara de Cuiabá sempre se aliou aos prefeitos, nunca deixou de fazer o jogo do poder. À exceção do gesto de grandeza do ex-vereador Moisés Martins, que em 1980 renunciou ao cargo no último dia do mandato para o qual foi eleito, por não concordar com a prorrogação do mesmo por dois anos, como determinou o regime militar então vigente. No país inteiro somente dois vereadores agiram daquela maneira.

Emanuel Pinheiro deputado foi outro zero à esquerda. Desde 1995 as legislaturas da Assembleia perderam a capacidade do debate, do contraditório. É o que se chama de puxadinho do governo. Se fosse apenas isso, nada demais. Aquele poder é a casa do lugar comum. Porém, há o episódio do Paletó – esse sim, não convence o carrasco nem seu próprio personagem, Emanuel Pinheiro, muito embora ele, por razões eleitorais, o desqualifique a tal ponto que tenta se passar por vítima de poderosos.
Antes do episódio do Paletó é interessante falar sobre Emanuel Pinheiro administrador. Alguns o julgam bom prefeito; outros, não. É difícil avaliá-lo com o mandato em curso, pois não se sabe a extensão do endividamento municipal e o comprometimento da receita com essa dolorosa. Quanto a programas sociais, nada de excepcional. Sobre obras físicas, pouca coisa, se desconsiderarmos a caiação de praças.
Agora, sim, o Paletó.

Em 24 de agosto de 2017, quando Emanuel Pinheiro já exercia mandato de prefeito, a Globo iniciou a apresentação de vídeos onde Sílvio Corrêa, que chefiou o gabinete do ex-governador Silval Barbosa, entregava pacoteiras de dinheiro a deputados estaduais na legislatura de 2011 a 2014 e a suplente da mesma, no caso Airton Português. Emanuel Pinheiro foi um dos recebedores ao lado de Luciane Bezerra, José Domingos Fraga, Antônio Azambuja, Alexandre Cesar, Ezequiel Fonseca, Hermínio Barreto e Airton Português auxiliado pela irmã e ex-secretária de Estado Vanice Marques.
Em delação premiada ao Ministério Publico Federal homologada pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, Silval e Sílvio sustentaram que se tratava de mensalinho. Claro que todos os personagens dos vídeos negam com candura.
O modus operandi da entrega da dinheirama foi o mesmo para todos. Em curtos diálogos Sílvio repassava a pacoteira. José Domingos tratou de guardar a sua numa caixa de papelão. Alexandre Cesar a amoitou numa mochila. Luciane reclamou com Sílvio que deveria receber o quinhão que seria do então mandachuva José Riva. Emanuel Pinheiro seria apenas um político a mais a embolsar, mas ocorreu um acidente de percurso. Do bolso já recheado de seu paletó caiu um pacote com notas de reais. Emanuel Pinheiro tratou de pegar a dinheirama no chão levando tudo na esportiva. A sabedoria popular não perdoou e o apelidou de Paletó.
Quando do episódio do Paletó faltavam mais de três anos para a eleição de agora. Emanuel Pinheiro soube bem administrar a situação fazendo o jogo do poder.
Emanuel Pinheiro tem em seu grupo quase todo o movimento comunitário, que tradicionalmente se atrela ao prefeito independentemente de quem exerça o cargo: com isso, um silêncio holeritizado abafou a voz dos bairros. Ou alguém duvida que os ditos líderes comunitários são contemplados com cargos comissionados para si e familiares?
Seu domínio sobre a maioria da Câmara é visível até para cego, muito embora ele jure que nunca interferiu naquele Legislativo. Os grotescos vaivém da CPI do Paletó bem atestam isso. O presidente da Câmara, Misael Galvão, de tanto ser Emanuel Pinheiro trocou o PSB pelo PTB, pra não sofrer retaliação partidária, uma vez que o primeiro partido é controlado pelo deputado estadual Max Russi, que faz o jogo do governador democrata Mauro Mendes, enquanto a sigla trabalhista reza pela cartilha de Emanuel Pinheiro Neto, que é deputado federal, candidato a prefeito de Várzea Grande e filho de Emanuel Pinheiro, o próprio.

A Imprensa Amiga tratou de conduzir o episódio do Paletó, sem cobrança dura deixando sempre uma brecha para Emanuel Pinheiro o desqualificar. Claro, que coincidentemente com essa generosidade a administração municipal injetava gordas verbas publicitárias nos companheiros do Quarto Poder. No futuro, quando a História mandar a fatura desse período a Imprensa será reportada como sendo instituição cúmplice e que contribuiu para a desinformação do cuiabano sobre esse espinho atravessado na garganta coletiva.
O Ministério Pùblico Federal somente agora, bem recentemente, ofereceu denúncia contra Emanuel Pinheiro e os demais personagens desse episódio e a Justiça Federal acatou a denúncia transformando todos em réus. Essa demora forense é preocupante por algumas razões: há materialidade comprovada em vídeos, há delação premiada que inclusive resultou em benefício aos delatores e as evidências são mais que robustas pelo modus operandi.
Em 15 de novembro Emanuel Pinheiro irá a julgamento político nas urnas. Mais que a escolha de prefeito o voto será plebiscitário. Protegido pelo sigilo da cabine eleitoral o eleitor dirá se absolve ou não o prefeito que tenta a reeleição respondendo por uma Secretaria Municipal de Saúde que protagoniza mais episódios policiais do que ações específicas à sua competência.
Na cabine de votação o eleitor não estará frente à frente com Emanuel Pinheiro pra que esse fale por um minuto. Portanto, somente ouvirá a voz de sua consciência, no centro geodésico da América do Sul, neste país onde o tempo passa e políticos continuam se embaralhando com a dinheirama, que de tanta, é escondida até na cueca e nas nádegas, como acaba de ocorrer com o senador democrata, Chico, de Roraima.
PS – O companheiro de chapa de Emanuel Pinheiro é seu ex-secretário José Roberto Stopa (PV).
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Divulgação Prefeitura de Cuiabá
2 – blogdoeduardogomes
3 – Sobre vídeo da TV Globo em 2017
4 – Site público do Governo de Mato Grosso
CAPÍTULOS – O site postará o perfil dos candidatos ao Senado e a prefeito de Cuiabá.
Anteriormente foram postados os candidatos ao Senado Procurador Mauro (PSOL), Nilson Leitão (PSDB), Pedro Taques (SD), José Medeiros (Podemos) e Carlos Fávaro (PSD)
Comentários estão fechados.