Boa Midia

Eleição em Água Boa e café requentado

Bom café tem que ser quente

Apreciador do bom café sabe que aquela bebida perde o sabor e desce atravessada, quando requentada. Esfriou, acabou! Na vida, também é assim. Uma vez rompida a relação de amizade nunca mais será como antes a confiança. Café à parte e somente como analogia. O calor eleitoral do momento é apropriado para uma conversa franca com Rondonópolis e Água Boa – que sempre carinhosamente chamo de Água Muito Boa. Isso, por conta da ruptura de Blairo Maggi com aquela que é a maior praça do agronegócio no Centro-Oeste e do desligamento de Maurício Tonhá com a Cidade Coração do Brasil.

 

Rondonópolis é uma grande cidade, metrópole emergente, e na proporção do tamanho são suas demandas. Em junho de 2003 o presidente Lula da Silva inaugurou o terminário ferroviário de Alto Araguaia. O apito do trem naquela cidade sacudiu a população rondonopolitana . Começava assim o sonho com a industrialização. Blairo era governador e sua liderança foi fundamental para canalizar indústrias para a sua Rondonópolis, levando inclusive uma fábrica da Cervejaria Petrópolis, dona da marca Crystal, deixando de lado Cuiabá que é polo cervejeiro.

Em dezembro de 2012, sem solenidade, o que aconteceria depois, o trem fez a terra tremer em Rondonópolis, onde a Rumo Logística opera o maior terminal de cargas agrícolas da América do Sul. Dois antes, em 2010, Blairo se elegeu senador. Um ano após a vitória para o Senado Blairo transferiu de Rondonópolis para Cuiabá a sede de seu grupo empresarial Amaggi. A estranha ruptura do senador com a cidade que acolheu sua família há 40 anos foi frustrante para a população rondonopolitana. Funcionários foram demitidos. A empresa que divulgava o nome do município ganhou novo endereço. Blairo perdeu a legitimidade para brigar por indústrias na Terra de Rondon.

Foi uma ruptura que pegou de surpresa a cidade. Abertamente Blairo dizia duas coisas: nunca mais seria candidato – está cumprindo – e que Cuiabá era o melhor endereço para seu grupo – não arreda pé dessa convicção.

A presidente Dilma Rousseff perdeu o mandato, e seu sucessor, o presidente Michel Temer, levou Blairo para o Ministério da Agrícultura. Sempre voltado ao agro, enquanto ministro, Blairo não canalizou recursos para os municípios. No apagar das luzes do mandato de Temer, esse disse a Blairo que liberaria R$ 100 milhões pra que ele o destinasse ao que julgasse melhor em Mato Grosso. O ministro destinou a dinheirama para o Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, em dezembro de 2018, e não teve a sensibilidade de, ao menos dividi-lo em partes iguais entre a Saúde da capital e da cidade que um dia foi sua.

Maurício é um dos personagens que mais destaquei nos últimos anos em meus textos e sempre o associei ao segmento pecuário e ao município de Água Boa, que o acolheu e o fez vereador, prefeito e empresário de ponta no ramo leiloeiro, de tal modo que seu Megaleilão é citação obrigatória quando o texto focaliza os negócios em thatersal presencial ou virtual. Nunca imaginei que um dia Maurício pegaria a BR-158 e se mandaria com sua empresa e domicílio residencial para Cuiabá. O mundo é uma caixinha de surpresas.

Em junho de 2018 cobri a inauguração da sede da empresa leiloeira de Maurício na imponente Avenida Historiador Rubens de Mendonça, em Cuiabá. Com argumento semelhante ao de Blairo, ele me disse que a matriz da empresa na capital seria mais interessante. Em nossas conversas ele sequer admitia falar em possibilidade de candidatura, tanto a partir daquela data – da inauguração – quanto alguns anos antes. A última vez que o ouvi com pensamento político foi em 1010, quando lançou seu nome ao governo, mas o PR – seu partido à época – o desconsiderou optando por apoiar a reeleição de Silval Barbosa.

Agora vejo Maurício entusiasmado e correndo 25 horas por dia atrás dos 18.375 eleitores de Água Boa na tentativa de conquistar a prefeitura novamente, empunhando a bandeira da canalização de empresas para o município. que tanto quanto Rondonópolis no passado, sonha com uma ferrovia para chamar de sua – nesse caso a FICO, que dará ao Vale do Araguaia uma saída sobre trilhos para Mara Rosa (GO), onde alimentará a Norte-Sul.

Avalio que se trate de uma luta inglória, que lhe causará decepção, Isso, porque a transferência da sede de sua empresa para Cuiabá lhe toma a legitimidade de advogar a causa a que se propõe; e porque sua mudança domiciliar para a capital esfriou sua relação com Água Muito Boa  – é a analogia do café requentado, que no contexto político não desce bem em Água Boa.

Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes

FOTO: Meramente ilustrativa

 

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