Os sonhos bons do bom Dr. Mário Nishikawa

Mário Nishikawa era um sonhador. De olhos abertos sonhava grandes sonhos. Um deles, a navegação comercial na Hidrovia Teles Pires-Tapajós entre sua Alta Floresta e Santarém.
Médico, fundador e dono do Hospital Geral de Alta Floresta. Dr. Mário vivia intensamente a medicina que abraçou enquanto cirurgião e voava nas asas da imaginação pelo avanço da logística de transporte em toda sua amplitude na região que adotou como sua nos primórdios da colonização da área onde um dia Ariosto da Riva lançou as sementes de Alta Floresta, Paranaita e Apiacás.
Em visita a Londrina, no Paraná, onde nasceu, Dr. Mário sentiu sintomas do coronavírus. Confirmado que contraiu a doença se submeteu a tratamento e se recuperou, mas nesta sexta-feira, 25 de setembro, não resistiu às sequelas do vírus e aos 79 anos fechou os olhos para sempre.
Alta Floresta e Dr Mário se fundiam e se confundiam.
Jovem, motivado, Dr. Mário desembarcou em Alta Floresta em 1979 e dois anos depois inaugurou o Hospital Geral, que sempre foi a grande maternidade daquela cidade.
Em 1995, em minha casa, recebi um telefonema dele. À época eu morava em Rondonópolis. Ele estava em Cuiabá. Conversamos, peguei a estrada e fui encontrá-lo na nossa capital. Almoçamos. Voltei pra arrumar a mala, pois uma semana depois embarcaria com ele juntamente com um grupo de pesquisadores para uma viagem pelo Teles Pires e o Tapajós, de Paranaíta e Itaituba – onde começa a navegação no chamado Baixo Tapajós.
Dr. Mário queria mostrar a viabilidade a criação de uma rota fluvial ligando Mato Grosso ao Pará. Entre a navegação, as paradas para observação e a coleta de materiais e de informações com ribeirinhos, demoramos seis dias no trajeto. Ele, humilde, ajudava os dois cozinheiros, mas não se desgrudava dos pesquisadores, se inteirando sobre tudo.
Até então o havia visto uma vez, um ano antes do nosso almoço. Foi em Alta Floresta, onde o entrevistei sobre o (quase) projeto da ligação de Rondônia com o Pará, por rodovia, cruzando Colniza, Juruena, Nova Monte Verde, Alta Floresta, Carlinda, Novo Mundo e Guarantã do Norte. Ele vibrava com a possibilidade, ainda que remota, da consolidação de uma rota terrestre unindo os três estados. Ficou com meu telefone. Quase um ano depois veio o convite para o almoço e a viagem ao estilo da aventura do capitão Antônio Lourenço Teles Pires, só que contando com embarcações e equipamentos bem diferentes daqueles utilizados pelo oficial que morreu num naufrágio no rio São Manoel, o que levou o governo a trocar seu nome para rio Teles Pires.
Em Itaituba embarquei num voo da antiga Varig, para Cuiabá, com escalas em Manaus e Porto Velho. Dr. Mário retornou para Alta Floresta num carro que o esperava.
O conteúdo sobre essa viagem foi publicado (não confundam com postado) no jornal Diário de Cuiabá. Dr. Mário gostou da reportagem que ganhou manchete domingueira. Sempre que ia a Alta Floresta procurava visitá-lo. O via sonhador e com grande capacidade de armazenar e diversificar sonhos.
Alta Floresta perdeu muito com o adeus de Dr. Mário. Mato Grosso, também, O homem passa. É o ciclo da vida, independentemente da causa de sua morte. Porém, seus sonhos ficam como legado de seu caminhar sobre a Terra e sua forma de pensar.
Que surjam nomes capazes de levar adiante os sonhos bons do bom Dr. Mário Nishikawa, que agora é uma estrela no firmamento a indicar caminhos ao desenvolvimento de Alta Floresta, do Nortão e consequentemente de Mato Grosso.
Domo arigato!
Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Hospital Geral de Alta Floresta
Parabéns Eduardo pelas palavras e lembranças ! Dr Mário Nishikawa era um idealista… sua jornada não será esquecida. Tive o privilégio de receber algumas visitas dele… sempre com os olhos voltados para o futuro!!!
Jorge Yanai – médico em Sinop
Foi um alta-florestense apaixonado. Um grande ser humano…
Um amigo que tinha respeito e admiração.
José Vieira – jornalista em Alta Floresta
Lamento o falecimento deste cidadão exemplar. Ajudou muitos, colaborou com o desenvolvimento de Alta Floresta e região e ainda, foi um baluarte do compartilhar tarefas via Rotary. Abraço e meus sentimentos aos familiares.
Luiz Antônio Pagot – economista e consultor em Cuiabá
Pois é EDUARDO. Tive o prazer de conviver com o Dr. MARIO…..e suas idéias e sonhos farão falta ao nortao……sempre acreditei que o mundo fica menor sempre que perdemos um sonhador
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