MT – Vultos de Sinop

O semeador de cidades no Nortão
Ao inaugurar o loteamento urbano de Sinop, em 14 de setembro de 1974, mais que implantar aquela que seria a principal cidade mato-grossense abaixo do Paralelo 15, o colonizador Ênio Pipino lançava as sementes da ocupação da mais importante fronteira agrícola do planeta. A solenidade teve repercussão nacional e foi prestigiada pelo ministro do Interior, Rangel Reis, que ganhou o título de paraninfo de Sinop.
Homem acostumado a criar cidades no Paraná, Ênio Pipino transferiu a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop) para Mato Grosso no começo da década de 1970, inicialmente comprando a Gleba Celeste, de 198 mil hectares, de Jorge Martins Philip, onde implantou o Projeto de Colonização Celeste, embrião de Sinop, Vera, Santa Carmem e Cláudia, na calha dos rios Teles Pires e Xingu, da Bacia Amazônica. Principal líder da Colonizadora Sinop, Ênio Pipino era sócio da mesma com sua mulher, Nilza de Oliveira Pipino, e João Pedro Moreira de Carvalho.
Antes de ser colonizador Ênio Pipino militou politicamente. Em São Paulo foi juiz de paz, interventor, vereador, presidente da Câmara e prefeito de Presidente Venceslau.
Nascido em Penápolis (SP) em 12 de junho de 1917, Ênio Pipino era filho de um casal italiano. Em 16 de junho de 1995, aos 78 anos, fechou os olhos para sempre, na cidade de Bebedouro (SP). Homem visionário, seu legado, além dos exemplos de honradez, foi a ocupação de boa parte do vazio demográfico amazônico nas calhas dos rios Teles Pires e Xingu, onde brotaram quatro cidades sendo a mais importante: Sinop – síntese de sua atuação empresarial.

SINOP – Ao inaugurar o loteamento urbano de Sinop, em 14 de setembro de 1974, mais que implantar aquela que seria a principal cidade mato-grossense abaixo do Paralelo 15, o colonizador Ênio Pipino lançava as sementes da ocupação da mais importante fronteira agrícola do planeta. A solenidade teve repercussão nacional e foi prestigiada pelo ministro do Interior, Rangel Reis, que ganhou o título de paraninfo de Sinop.
Homem acostumado a criar cidades no Paraná, Ênio Pipino transferiu a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop) para Mato Grosso no começo da década de 1970, inicialmente comprando a Gleba Celeste, de 198 mil hectares, de Jorge Martins Philip, onde implantou o Projeto de Colonização Celeste, embrião de Sinop, Vera, Santa Carmem e Cláudia, na calha dos rios Teles Pires e Xingu, da Bacia Amazônica. Principal líder da Colonizadora Sinop, Ênio Pipino era sócio da mesma com sua mulher, Nilza de Oliveira Pipino, e João Pedro Moreira de Carvalho.
O projeto de colonização expandiu-se por outras áreas e se transformou no principal fator de ocupação populacional no eixo da BR-163, que acabara de ser implantada. A vila, de topografia plana, enfrentava problema com o escoamento de água no longo período de chuvas e não passava de uma clareira na mata, com traçados de ruas e avenidas pontilhadas por isoladas construções de madeira que não iam muito além de serrarias, escritório da colonizadora, hotel, posto de combustível, alguns bares e modestas residências. Para suprir o mercado varejista a Companhia Brasileira de Alimentos (Cobal), estatal do Ministério da Agricultura, enviava regulamente ao lugar uma carreta Alfa Romeo que funcionava como supermercado móvel.

O acesso por rodovia era precário no período das chuvas, com atoleiros na BR-163. A malária ganhava contornos hiperendêmicos na região de Sinop, tanto ao norte após o rio Renato, quanto ao sul onde mais tarde surgiria Lucas do Rio Verde e outras cidades. Mas, nem a doença nem à distância, nem a precariedade da rodovia que somente seria pavimentada em 1985 – pelo presidente João Figueiredo -, nem o isolamento, nada disso impediu que a cada dia mais e mais moradores, sobretudo do Paraná, se transferissem para a cidade de Ênio Pipino.
A vida institucional começou em 29 de junho de 1976, quando Sinop tornou-se distrito de Chapada dos Guimarães numa canetada do governador Garcia Neto. Pouco tempo depois, em 17 de dezembro de 1979, o governador Frederico Campos sancionou uma leI do deputado Osvaldo Sobrinho emancipando Sinop numa área então pertencente à Chapada dos Guimarães e Nobres. O município é sede de comarca de entrância especial, de duas zonas eleitorais, duas varas da Justiça do Trabalho, duas varas da Justiça Federal, comando regional de Polícia Militar, Delegacia Regional de Polícia Civil, Delegacia da Polícia Federal, quartel do Corpo de Bombeiros Militar e uma série de órgãos públicos federais e estaduais; e um quartel do Exército está em construção.
Sinop tem 3.941,958 km², renda per capita de R$ 41.408,12 e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,754. Com 146.958 habitantes é o quarto município mais populoso de Mato Grosso e o maior do Nortão.
FOTOS:
1 e 2 – Colonizadora Sinop
2 – blogdoeduardogomes
Pioneiro na medicina em Sinop

Nortão, 1979. Jorge Yoshiaki Yanai chega à recém-fundada e emancipada Sinop. Na bagagem o diploma de médico outorgado pela Universidade Federal do Paraná. Na cabeça planos para exercer a profissão e se enveredar pela pecuária. Política não povoava sua mente.
Sinop era cidade insalubre, assolada pela malária e também destino regional de vítimas de cobras, escorpiões, abelhas e queda de galhada na região. Cirurgião e ginecologista o doutor Jorge Yanai tornou-se uma das referências em sua área para a população do município.
De referência à líder político o médico subiu ao palanque. Para ele, candidatura era novidade, coisa que encontrou em Sinop e com a qual nunca havia pensado em sua terra natal, Bandeirantes, no Paraná.
As urnas foram generosas com o doutor Jorge Yanai em sua primeira candidatura e ele se elegeu deputado em 1990. Cumpriu o mandato e se orgulha de seu posicionamento em plenário, sempre em defesa do Nortão. A política lhe roubou o título de doutor e lhe deu identidade parlamentar. Virou deputado Jorge Yanai. Em 2002 o senador e candidato à reeleição Jonas Pinheiro o convidou para segundo-suplente de sua chapa, que foi vencedora. Jonas morreu e foi sucedido pelo primeiro-suplente Gilberto Goellner.
Numa composição política Goellner se licenciou no Senado e, Yanai, mais uma vez, perdeu um título para ganhar outro. Deixou de receber o tratamento de deputado e virou senador. Com sua curta passagem pelo plenário entre 06 de maio de 2010 e 09 de setembro daquele ano foi rebatizado. Passou a ser o senador Jorge Yanai. Mais que chegar ao plenário ele se tornou o primeiro senador de origem japonesa, condição essa que lhe deu notoriedade nacional.
Em 2008, o senador Jorge Yanai (DEM) foi candidato a vice-prefeito do empresário paulista Paulo Fiúza (PV) em Sinop e sua chapa foi vencida pelo radialista paranaense Juarez Costa (PMDB). Na eleição de 2014, pelo PMDB, voltou à suplência no Senado, na condição de primeiro-suplente do senador Wellington Fagundes (PR).
PS – O texto sobre Jorge Yanai é parte de um dos capítulos do livro Nortão – BR 163: 46 anos depois publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade sem apoio das leis de incentivos culturais.
FOTO: Maurício Barbant
O padre e sua bela matriz

Uma surrada batina, a estola e uma mala com os poucos pertences de uso pessoal. Isso foi tudo que o padre capixaba João Salarini, da Diocese de Diamantino, levou em 1973 para o local onde o colonizador Ênio Pipino rasgava a floresta para construir Sinop. Naquela cidade padre João Salarini escreveu uma singular página de solidariedade humana, de abnegação e de evangelização.

Nos primórdios de Sinop a malária era hiperendêmica e sacerdote tinha que se multiplicar ora atendendo vítimas daquela doença tropical ora evangelizando. Padre João Salarini soube bem ser plural na cidade que brotava no solo vermelho na calha do rio Teles Pires, no Nortão de Mato Grosso, onde isolamento era marca registrada ao lado da ausência do Estado.
Em 2006 o entrevistei. Ouvi relatos interessantes sobre a colonização de Sinop e da atuação da Igreja Católica naquela região. Figura humana expansiva, mesclava assuntos relevantes com tiradas de bom humor. Logo após me contar o drama de um peão que foi atingido por uma árvore durante uma derrubada com trator e que agonizava no leito da morte pedindo clemência a Deus por seus pecados, mudou de assunto focalizando sua popularidade na cidade. Disse-me que quando caminha pelas ruas até os cachorros dizem: “Lá vai o padre João Salarini”.
Avesso à ociosidade, sobre aposentadoria padre João Salarini dizia que sacerdote somente se aposenta quando morre. Um ataque cardíaco o aposentou aos 78 anos, dos quais 46 de sacerdócio, na madrugada de 3 de setembro de 2007, numa unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Santo Antônio, em Sinop.
Do legado do padre João Salarini ao povo da metrópole que ajudou a construir à margem da Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) na Amazônia Mato-grossense consta a Matriz Santo Antônio e a Catedral Sagrado Coração de Jesus, cuja idealização e construção levam suas digitais.
Morando em Sinop também evangelizou no vizinho município de Vera e aldeias indígenas. Durante alguns anos se ausentou daquela região retornando a Diamantino, onde liderou a construção da catedral daquela bicentenária cidade histórica, que recebeu Theodore Roosevelt e o Barão de Langsdorff.
Em sua homenagem o então prefeito Nilson Leitão propôs e a Câmara Municipal aprovou a denominação de Praça Padre João Salarini ao largo no entorno da catedral de Sinop.
FOTO: Biro Curado
Ênio Pipino lhe disse: “É de gente igual a você que precisamos”

Poeira. Sol. Calor. Mosquitos. Meio zonzo pela longa viagem Plínio Callegaro desceu do carro e pisou no solo de Sinop. Olhou para um cidadão que passava por perto, puxando prosa: “horário bom pra chegar; são 12 horas”. O estranho retrucou: “Negativo. Aqui em Mato Grosso são 11 horas”. O calendário marcava 9 de agosto de 1973. (Assim começou a relação do pioneiro Plínio Callegaro com Sinop e essa se manteve no melhor nível, de ambas as partes, até seu adeus em 28 de janeiro de 2010, portanto há dois anos).
Não restou dúvida. Plínio Callegaro sentiu que aquele lugar era bem diferente de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, onde nasceu, e de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, onde residiu. Essa diferença começava pelo fuso horário, era desafiadora e o motivou ainda mais à luta.
A construção foi rápida e a churrascaria tornou-se a sétima casa na vila perdida nos confins da Amazônia, na calha do rio Teles Pires, município de Chapada dos Guimarães. Freguesia nunca faltou. Todos os dias levas e levas de José, Ricardo, Pedro, Lara, Regina, Renata, Ana, Agenor, Gabriel, Nicolas, Jeisa, Luiz, Cláudia, Mara, Milena, Carlos, Carolina, Selma, Davi, Valéria e dezenas de outros chegavam ao projeto de colonização de Ênio Pipino. Carne também nunca saiu do cardápio. O entusiasmado dono do estabelecimento mantinha pescador pra garantir peixe frito, grelhado e ensopado. O charque era presença constante nas mesas. Frango caipira e leitões criados no quintal diversificavam a oferta. Além disso, Plínio Callegaro comprava vacas em Nobres e Rosário Oeste e as carneava bem ao estilo gaúcho para saciar o apetite da população flutuante de Sinop e os operários que trabalhavam na construção das primeiras casas.
Em 14 de setembro de 1974 a churrascaria de Plínio Callegaro ficou pequena pra tanta gente. Sinop estava em festa naquela data: era a inauguração oficial da vila, por Pipino e pelo ministro do Interior, Rangel Reis, com direito a corte de fita.
Construções brotavam por todos os lados quando em 24 de julho de 1976 Sinop foi elevada à Distrito de Paz de Chapada dos Guimarães. A participação de Plínio Callegaro na luta pela criação do Distrito o fez respeitado politicamente e em 15 de novembro daquele ano elegeu-se vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), precursor do PMDB e que mais tarde retornaria ao nome primitivo. Naquele pleito o Nortão conquistou quatro das 11 cadeiras à Câmara Municipal de Chapada dos Guimarães.
FOTO: Biro Curado
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