Louca aventura pela bola
Semana de preparação do selecionado de Mato Grosso para o jogo contra Goiás pelo Campeonato Brasileiro de Seleções em Cuiabá, lá pelos idos de 55/56. Encerrado o primeiro coletivo, realizado no campo do Colégio Estadual, o técnico Ranulpho Paes de Barros comunicou aos jogadores que como a partida era muito importante, o grupo ia ficar concentrado numa chácara no Coxipó da Ponte.
O acesso à concentração do selecionado tinha que ser feito por uma estrada que passava pela área onde surgiram anos depois duas boates que marcaram época na vida noturna de Cuiabá: a Sayonara e a Balneário Santa Rosa.
Na época estava chovendo muito na cabeceira do Rio Coxipó e com o Cuiabá quase transbordando, suas águas invadiam o pequeno tributário, transformando sua travessia em um grande risco. Três canoeiros foram recrutados para transportar os jogadores de um lado para outro do Coxipó.
No primeiro dia da travessia para a casa da chácara, os canoeiros espalharam entre os boleiros que como o rio estava muito largo, fundo e com a correnteza forte, era um grande risco, para quem não sabia nadar bem, passar de um lado para outro do Coxipó naquela situação…

Pra quê! Foi um tal de jogador inventar na hora diarreia, dor de cabeça e outras doenças que não acabava mais para não atravessar o Coxipó. Entre os que embarcaram na aventura estavam Leônidas, Batista Jaudy, Totó Traçaia, Rubens, Dito Nascimento…
Alguns jogadores que não queriam depender dos canoeiros, para mostrar que eram corajosos, decidiram fazer a travessia nos dois sentidos nadando. Era simples: era só amarrar a roupa na cabeça para não molhar… até que descobriram que um enorme jacaré de papo amarelo estava espreitando-os durante a travessia. A partir desse dia, só Batista Jaudy atravessava o Coxi¬pó nadando, pois ele sabia que aquela espécie de jacaré não é agressiva.
Os jogadores foram alertados pelo técnico Ranulpho Paes de Barros que a casa onde iam ficar concentrados estava precisando de uma boa limpeza. Só que a situação do imóvel era muito mais precária do que os atletas poderiam imaginar.
– Eu nunca tinha visto tanto pernilongo e outros tipos de insetos num único imóvel – recorda-se um dos participantes da seleção daquele ano, Totó Traçaia.
Nem cozinhar na casa os jogadores podiam. Pior para eles, pois na travessia da comida que chegava na concentração geralmente entrava água nas panelas, da chuva ou do Rio Coxipó, e o que recebiam para comer parecia mais uma jacuba.
– Se a gente jogasse a comida na parede da casa, certamente ela ficava grudada – garante um veterano jogador que participou daquela aventura.
PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino
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