Boa Midia

VULTOS MATO-GROSSENSES -Blairo Maggi (VI)

Blairo Borges Maggi (PP) deixou o Ministério da Agricultura do presidente Michel Temer em 31 de dezembro de 2018 e cumpriu seu último mês de mandato no Senado em janeiro de 2019. Em fevereiro a Era da Botina chegou ao fim – ou o velho e bom calçado de quem vive na zona rural está à espera de novamente ser enfiado nos pés?
 
Poder ilimitado. Talvez a mosca azul tenha levado Blairo Maggi a sonhar com essa hipótese. Não seria de se estranhar se o governador recém-empossado e rei da soja assim pensasse. Afinal, ele era o centro das atenções em Mato Grosso, onde moralidade na esfera pública era pouco mais que exceção – situação amplamente favorável para a expansão do domínio do homem que tinha nas mãos a chave do cofre mais cobiçado no centro do continente.

 

 

Em 2003, um mês após a posse de Blairo, a legislatura da Assembleia Legislativa foi empossada. O mandachuva José Riva era o campeão nas urnas. Quatro anos antes, em 1998, recebeu 20.776 votos e manteve esse título na eleição de 2002, com 65.389 votos; em 2006, com 82.799 votos; e 2010, com 93.594 votos, repetiu a proeza da votação sempre crescente.

Nas últimas décadas a Assembleia sempre foi insaciável por dinheiro. Blairo ao assumir – Riva sustentou isso em declaração – não concordou em repassar diretamente e por fora  – a chamada  merenda aos deputados. Mas, aumentou o repasse de recursos para aquele poder, o que permitiria ao seu protegido Riva rateá-lo – termo bem apropriado – do modo mais conveniente possível ao conjunto de 23 excelências, que com ele, Riva, se traduzia na legislatura.

O governador não tinha razão para se preocupar com a Assembleia. Seus projetos além de aprovados eram elogiados. Entre os deputados não havia nenhum que pudesse trombar com seu plano político de poder. Era o que se chama de legislatura baixo clero. Lembrem-se que o campeão Riva estava debaixo das asas de Blairo.

Investigações apontam que Alencar Soares teria vendidos sua vaga no TCE…

O primeiro mandato transcorreu tranquilamente. Mato Grosso realmente experimentou um bom período de crescimento e recebeu importantes obras. Após a reeleição de Blairo em 2006 o cenário tomou outro rumo e, quem sabe – volto a falar nela, com a devida vênia póstuma a Machado de Assis – a mosca azul realmente pode ter mexido com a veia política de Blairo, que sempre jura não ser político.

O segundo mandato era tempo certo para planejar a expansão do poder que àquela época passava pela dita corte de contas, órgão técnico da Assembleia pomposamente chamado de Tribunal de Contas do Estado (TCE), com seus sete conselheiros vitalícios (até a expulsória aos 70 anos) escolhidos a dedo pelos governadores que antecederam Blairo e com os deputados estaduais de suas épocas.

Mato Grosso sempre ouviu coisas ditas cabeludas sobre nomeação de conselheiro do Tribunal de Contas do Estdado (TCE). Blairo, até então não tinha seu nome citado nesse cipoal tão comentado nas mesas de bares, conversas entre conhecidos e por quase todos os que bebem água, mas nunca citado na Imprensa em razão do princípio da presunção da inocência, que pode botar na cadeia alguém correto que fale algo sobre determinada figura impregnada de falcatruas, mas blindada pela generosidade do emaranhado da legislação brasileira.

Pois bem!

Em algumas de minhas entrevistas com Clóves Vettorato, secretário poderoso de Blairo, Vettorato me dizia em off que gostaria de ser conselheiro do TCE e até insinuava que eu deveria levantar essa bola. Ouvia, mas não me entusiasmava. Acho que Vettorato não tinha perfil pra aquilo.

Correto. Digno. Vettorato era especialista em empunhar bandeira do grupo empresarial de Blairo. Antes do governo ora brigava pela suinocultura ora pelo fortalecimento da cadeia da cotonicultura; além disso dirigia instituições representativas de segmentos do agro. O TCE não seria indicado para ele.

Investigações apontam que Alencar Soares teria vendido sua vaga no TCE…

Em julho de 2006, aos 60 anos, Alencar Soares renunciou ao seu segundo mandato de deputado estadual (à época filiado ao PP e liderado por Riva) e foi nomeado conselheiro do TCE ocupando a vaga de Branco de Barros, que botou o pijama da aposentadoria.

Em 2009, quando faltava um ano para Blairo deixar o governo e disputar o Senado, Alencar tinha 63 anos e lhe restavam sete anos na doce vida de conselheiro, mas estranhamente ele anunciou que iria se aposentar. Nem madrinha de batismo acredita quando o afilhado diz que vai trocar a mordomia do poder pelo anonimato, estando em pleno gozo de saúde e ocupando lugar nos holofotes da nossa mídia palaciana.

Acho, com muita convicção, que a mosca azul está por trás da inclinação de Alencar para a precoce aposentadoria. Investigações do Ministério Público, depoimentos, delação, cruzamento de informações e de dados de movimentação bancária se convergiram para uma grave denúncia: Alencar teria vendido sua vaga no TCE para o deputado estadual Sérgio Ricardo (também liderado por Riva). Mais grave ainda: a denúncia também inclui recompra (pasmem!) de vaga no TCE, planejamento para levar Éder Moraes (do secretariado de Blairo para o TCE), compra de consciência para mudança de depoimento com desdobramento na obstrução de justiça.

Um episódio triste da vida política mato-grossense que joga na vala comum os personagens Blairo, Alencar SoaresSérgio Ricardo, Riva, Éder MoraesHumberto Bosaipo (ex-deputado estadual e ex-conselheiro do TCE), Silval Barbosa, Gércio Marcelino Mendonça Júnior – o Júnior Mendonça – e outras figuras.  Alencar Soares e Sérgio Ricardo negam a negociata. Blairo jura inocência. Bosaipo ainda não se pronunciou. Silval delatou o caso. Éder Moraes nega e tira o corpo fora. As figuras menores não pesam tanto no contexto, se é que ele existiu, como crê o Ministério Público Estadual e a Procuradoria Geral da República.

PS – Leiam amanhã, 5 de julho, o VII e último da capítulo sobre Blairo Maggi na série VULTOS MATO-GROSSENSES

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Agência Brasil

2 – Guilherme Filho

3 e 4 – Marcos Bergamaso

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