BORRALHO (2) – Padre, prefeito e torcedor
São José do Povo com Paixão.
Esse o nome da coligação formada pelo PSDB, PFL, PL e PT que em 2000 elegeu o tucano Antonino Cândido da Paixão prefeito de São José do Povo – ao lado de Rondonópolis e do qual foi distrito. Vitorioso nas urnas, Antonino assumiu a prefeitura prometendo o máximo de sua capacidade em defesa do município, mas não abraçou a prefeitura como única atividade. Afinal, ele era padre e teria que dividir o tempo entre a administração e a evangelização.
Ao conquistar a prefeitura o padre Antonino conseguiu duas proezas: foi o primeiro sacerdote católico eleito em Mato Grosso após a divisão territorial que em 1977 criou Mato Grosso do Sul, e derrotou Geraldo Eustáquio de Carvalho, o Geraldo da Reserva (PMDB), que tentava a reeleição apadrinhado pelo cacique Carlos Bezerra.
Jovem, culto, amante do teatro e apaixonado pelo Vasco da Gama, o sacerdote e prefeito passou a sofrer resistência por parte de vereadores. Desgostoso com o modelo político sequer tentou a reeleição em 2004. O bispo de Rondonópolis, Dom Osório Stoffel, ao qual se reportava, o proibiu de celebrar missa em seu município e autorizou que fizesse celebrações na Igreja São José Operário, em Vila Operária – um dos principais bairros rondonopolitanos.
Prefeito sem base de sustentação na Câmara. Sacerdote sem altar em sua cidade. Padre Antonino pegava a rodovia MT-270 e fazia o curto percurso entre São José do Povo a Rondonópolis, para suas celebrações. Na solidão da viagem, ao volante, com certeza acalentava o sonho de deixar tudo aquilo e voltar pra Chapada dos Guimarães, sua terra. Mais tarde ele faria isso: saiu da política, aposentou a batina e assumiu sua condição de professor.
Manhã de domingo, igreja lotada, padre Antonino ao altar celebra missa. Na homilia, com sua fé e dom oratório, transporta trecho do Evangelho para a realidade do momento. A Igreja o ouve silenciosa. Naquele momento o político não está ali: somente o evangelizador. Ao término, na bênção final, despedindo-se do rebanho católico, ele não consegue evitar que seu lado torcedor fale mais alto. O aspecto partidário era fácil de ser descartado, mas com a paixão – aquela que carrega no sobrenome e dava rótulo à sua coligação – nada podia ser feito e, ele, a todos os pulmões grita:
– O Senhor esteja com Vaaaaaaaaaasco!
A igreja, contrita, responde:
– Aaaaaaaaaamém!
Eduardo Gomes de Andrade – blogdoeduardogomes
FOTO: CBF
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