SÉRIE (II) – Procurador Mauro e o escândalo do Fundo Partidário
Segundo capítulo da série SENADO tem que ter PASSADO. A postagem acontece em dias alternados, sempre às terças, quintas e sábados. Hoje, 28, excepcionalmente o conteúdo chega ao internauta algumas antes do dia 29.
No capítulo inaugural a série foi apresentada, mas sem focalizar uma chapa, como acontece agora, e assim prosseguirá aleatoriamente.
Para acessar o primeiro capítulo busque o título SÉRIE (I) – Senado tem que ter passado
Secreto na política em Mato Grosso não é somente o voto – além dele, há outro: o posicionamento do Procurador Mauro diante dos problemas enfrentados pela população. Quanto ao dito sufrágio universal, nada estranho que seja sigiloso. Porém, sobre tal personagem, o que acontece? Ele é um poço misterioso, que por ser mistério poucos sabem seu conteúdo. Porém, para que o eleitor o conheça, o site narra sua trajetória nas urnas e um escândalo sobre destinação do Fundo Partidário, que por se tratar do PSOL, partido pequeno, passou quase despercebido e não chamuscou a imagem do Procurador Mauro, sempre dedo em riste apontando erros de adversários.
Procurador Mauro é como se apresenta Mauro César Lara de Barros (PSOL), que nunca exerceu mandato eletivo, mas disputou as últimas sete eleições ora concorredo a prefeito de Cuiabá, ora ao Senado, ora a deputado federal, ora a governador. Esse político volta ao centro das discussões, pois disputa a eleição suplementar de 15 de novembro, em razão da cassação da chapa encabeçada pela senadora Selma Arruda (PODE) com os suplentes Beto Possamai e Clerie Fabiana (ambos do PSL). A chapa foi cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (6 a 1), em 10 de dezembro do ano passado, por crimes de caixa 2 e abuso de poder econômico na campanha em 2018.
Procurador Mauro tem 45 anos, é servidor federal no cargo de procurador da Fazenda Nacional lotado em Cuiabá, onde nasceu. Também é músico e cantor da Banda Os Ciganos, grupo familiar cuiabano que é uma das referências do ritmo Lambadão – uma das paixões musicais na capital e demais municípios do Vale do Rio Cuiabá.

Em nenhuma manifestação, protesto ou ato político o PSL se faz presente em Mato Grosso. O partido somente dá o ar da graça a cada eleição, quando se apresenta no horário eleitoral e nas reuniões, sempre contra tudo e todos na esfera política. Mesmo tão ausente, a sigla do Procurador Mauro mantém vínculo permanente com parte da população mato-grossense, e o faz por meio das redes sociais, de forma sútil: lançando mão de Os Ciganos, grupo que tem canais de comunicação, principalmente com o segmento jovem que curte Lambadão.
O Senhor Palanque

O Procurador Mauro exibiu seu cartão de visita eleitoral em 2006, quando concorreu ao governo e foi apresentado pela Justiça Eleitoral e a Imprensa com seu verdadeiro nome: Mauro Barros. Mas, fora do rótulo oficial e da mídia convencional, ele adotava Procurador Mauro. Naquele pleito Blairo Maggi (PPS) se reelegeu tendo em sua chapa o vice Silval Barbosa (PMDB). O estreante em política Procurador Mauro não passou despercebido. Blairo ganhou em primeiro turno, com 922.765 votos (65,39%). Em segundo lugar ficou o senador tucano Antero Paes de Barros, com 279.873 (19,83%). A senadora Serys Slhessarenko (PT) cravou 159.686 ficando em terceiro lugar. Em seguida, o Procurador Mauro coligado como PSTU, mas com Marcos de Castro vice e filiado ao PSOL Em ordem decrescente de votação, o ex-deputado federal Bento Porto (PSC), Josmar Alderete (PSDC), Gugu Vieira (PRP) e Roberto Pereira (PHS). Desde então, é o Senhor Palanque.
O Procurador Mauro pegou gosto pelo palanque. Foi candidato a prefeito de Cuiabá em 2008, quando recebeu 10.833 votos. Em 2010 disputou o Senado recebendo 97.803 votos numa chapa com os suplentes Manoel Parrião Birinha e Gilberto Lopes Filho. Em 2012 novamente disputou a prefeitura da capital, quando conquistou 16.920 votos e seu vice foi José Roberto Freitas Cavalcante. Na eleição de 2014 concorreu para deputado federal alcançando 84.208 votos, mas seu partido não teve votação suficiente para garantir uma vaga na Câmara. Em 2016, pela terceira vez, disputou a prefeitura, mas foi batido no primeiro turno, com 71.336 votos e seu companheiro de chapa foi José Roberto. Em 2018, com duas cadeiras do Senado em disputa o Procurador Mauro correu atrás de uma delas ficando em sexto lugar com 226.053 votos. Foram eleitos Selma Arruda (PSL), com 678.542 votos; e Jayme Campos (DEM), com 490.699. O terceiro lugar foi de Carlos Fávaro (PSD),com 434.972; Adilton Sachetti (PRB) recebeu 333.082 votos; Nilson Leitão (PSDB), 330.430; e na sequência o Procurador Mauro. Em ordem decrescente de votação os candidatos: Maria Lúcia Cavalli (PCdoB), 172.259; Waldir Caldas (Novo), 71.494; Aladir Leite (PPL), 9.325; Gilberto Lopes Filho (PSOL), 6.079; e Sebastião Carlos (REDE), que não teve os votos computados.
Calejado em palanques, o Procurador Mauro jamais ficaria fora da eleição suplementar ao Senado.
Escândalo, também
Misterioso. Assim é o PSOL de Mato Grosso, que é controlado pelo Procurador Mauro com parentes e amigos. Em setembro de 2018, um militante daquele partido e descontente com a forma como o Fundo Partidário estaria sendo usado, denunciou o fato ao site blogdoeduardogomes, que postou a reportagem que se segue. Leiam o texto, cuja postagem foi mantida no original, pra melhor entendimento do internauta.
blogdoeduardogomes, setembro de 2018

Um militante descontente procura a Imprensa e denuncia o direcionamento do Fundo Partidário do PSOL para o Procurador Mauro e o grupo que o cerca. O partido rebate com respostas contraditórias, mas sua principal figura, o Procurador Mauro, esquiva-se e não toca no assunto. Enquanto isso, a campanha avança com troca de acusações entre partidos, mas o PSOL não é atingido pelo fogaréu entre diferentes siglas – essa situação pode mudar a partir de agora, com esse fato revelado por alguém que teve influência junto aos líderes daquela agremiação de esquerda e que enfrenta um delicado momento, com o esfaqueamento do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), por Adélio Bispo de Oliveira, ex-filiado do PSOL mineiro, preso em flagrante diante das câmeras e réu confesso – a polícia investiga se há motivação política para o crime e se Adélio teria vínculo com alguma força política radical contrária ao discurso de Bolsonaro. Em meio ao mar de lama político, cabe a pergunta: Até tu, Procurador Mauro?
A denúncia da manipulação ou direcionamento do Fundo Partidário do PSOL chegou ao blogdoeduardogomes na tarde da quinta-feira, 6. Ela dá conta de que boa parte dos recursos do Fundo Partidário estaria beneficiando o Procurador Mauro e o grupo que o cerca, o que estaria quando nada dificultando a sobrevivência do PSOL, que depende dessa fonte, por não adotar a prática de receber doações.
Neste feriado de 7 de Setembro a reportagem ouviu seu candidato ao governo, Moisés Franz, e o tesoureiro de sua Executiva, Wilson Conceição Lara de Barros, e tentou entrevistar o Procurador Mauro, mas Wilson Lara assumiu a condição de porta-voz do partido mantendo o Procurador Mauro fora da entrevista. Numa conversa amena, Wilson Lara revelou que nesse final de semana os candidatos majoritários do partido farão campanha em Rondonópolis e que na segunda-feira, 10, abrirá espaço na agenda para o Procurador Mauro conceder uma entrevista ao repórter.
Apresentando cópias de notas fiscais emitidas por José Roberto de Freitas Cavalcante na condição de prestador de assessoramento jurídico ao partido – que reforçam sua denúncia -, a fonte sustenta que o PSOL destina cerca de 80% do Fundo Partidário ao advogado José Roberto de Freitas Cavalcante, seu presidente regional. Essa prática acontece desde 2014. Coincidentemente ou não as citadas notas fiscais são em ordem númerica sequenciada (1, 2 e 3) e foram emitidas entre 28 de agosto de 2015 e 22 de dezembro de 2016 com o seguintes valores por ordem de emissão R$ 12 mil (28/8/15), R$ 15 mil (29/12/15) e R$ 40 mil (22/12/16). Também mostrou um extrato bancário com quatro transferências on line do partido para José Roberto, que somam R$ 8 mil. Segundo a fonte, a documentação que comprava a movimentação financeira entre o partido e o grupo do Procurador Mauro está disponível no Tribunal Regional Eleitoral, mas somente “com a frieza dos números”. Em algumas reuniões partidárias essa fonte teria buscado esclarecimentos sobre a “afinidade financeira”, mas sem sucesso. Em razão da estranha relação que “suga os recursos do PSOL e do silêncio sobre a mesma decidi deixar a militância”, revela a fonte.
Mesmo recebendo remuneração, que segundo a fonte, “suga os recursos do PSOL”, José Roberto não conseguiu esclarecer ao Tribunal Regional Eleitoral o fluxo da dinheirama que recebe. Tanto assim, que num dos contratos entre a sigla e aquele advogado, esse de 2015, o desembolso foi além do pactuado de R$ 15 mil e José Roberto recebeu R$ 27 mil, o que levou o Tribunal Regional Eleitoral a se manifestar sobre a prestação de contas nos seguintes termos, “… Todavia o contrato de prestação de serviços advocatícios é só de R$ 15.000, restando os outros R$ 12.000 sem justificativa…“.
José Roberto seria o segundo nome do partido, que é liderado pelo Procurador Mauro. Em 2010 José Roberto foi candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Marcos Magno, que recebeu 5.771 votos (0,39% da votação válida) e em 2014 disputou o governo e seu vice foi Marco Natale (recebeu 5.570 votos ou 0,38% da votação válida). A fonte sugere que a Procuradoria Regional Eleitoral investigue a relação contratual entre o partido e o advogado, que resulta na canalização de praticamente todos os recursos do Fundo Partidário para o segundo.
Tomando-se por exemplo o contrato de 2015, o denunciante observa que se tratou de uma manobra no grupo ligado ao Procurador Mauro. José Roberto era o presidente da sigla, o que não permitia que ele, dirigente partidário o contratasse enquanto advogado. Para dar contorno de legalidade, Wilson Lara, tesoureiro do partido, assinou na condição de contratante tendo por testemunha o Procurador Mauro, que é seu irmão. Essa prática prossegue.
Questionado sobre o direcionamento do Fundo Partidário para o grupo do Procurador Mauro, Moisés Franz negou tal prática; disse que o PSOL é sério e que ele teria se desfiliado do PT – ao qual pertenceu durante anos, “exatamente porque o PT não é sério”. Segundo ele, José Roberto trabalha na condição de voluntário, sem receber nada por sua atuação. A fala de Moisés Franz tromba com o contrato entre o advogado e o partido, com as transferências on line da sigla para seu assessor jurídico e com as notas fiscais emitidas para recebimento do assessoramento; tromba também com a versão apresentada por Wilson Lara, que admite a contratação, mas cita que o valor contratual anual seria de R$ 12 mil. Wilson Lara argumenta que existe uma tabela da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que define o honorário para assessoramento jurídico a partido político em R$ 4 mil mensais, ou seja, se correta a informação que presta, por norma, José Roberto deveria receber R$ 48 mil anualmente. Estrategicamente Wilson Lara descartou a possibilidade de manifestação por parte do Procurador Mauro.
Wilson Lara atribuiu a denúncia a Marcos Magno, que em 2010 disputou o governo pelo PSOL e que nessa condição conhece bem as entranhas do partido. No entanto, o denunciante não foi Marcos Magno. O dirigente debitou a denúncia ao bom desempenho do Procurador Mauro nas pesquisas e acrescentou que nova denúncias deverão surgir, em razão do cargo de senador em disputa e com chance de eleição de seu irmão.
NÃO CUMPRIU – Wilson Lara assegurou que em 10 de setembro de 2018 o Procurador Mauro concederia entrevista ao site para esclarecer a situação. blogdoeduardogomes insistiu em ouvi-lo, mas o PSOL o afastou da reportagem.
Abafa e nova chapa
O Ministério Público Eleitoral não passou a limpo a denúncia do suposto esquema na destinação do Fundo Partidário do PSOL, o que poderia ser a verdadeira razão para a insistência do Procurador Mauro em se lançar candidato em todas as eleições. Tanto assim que novamente ele está em cena. Além disso, petistas o acusam de fazer o jogo da direita ao fragmentar os votos dos comunistas, socialistas e seus simpatizantes.
Dirigentes de partidos conservadores vibram com a candidatura do Procurador Mauro, que segundo eles racha o eleitorado simpatizante com a esquerda e que isso “é fatal ao PT”.
Em 16 deste setembro, em convenção, o PSOL homologou uma chapa partidária ao Senado. O Procurador Mauro a encabeça com os suplentes Gonçalina Pereira de Souza Melo – a Gonça de Melo, e Vanderley da Guia – o Enfermeiro Vanderley Guia.
Os suplentes

Gonça de Melo é cuiabana, radialista e de absoluta confiança do Procurador Mauro. Além disso, tem experiência em palaque – sem sucesso, mas tem.
Em 2016 Gonça de Melo se candidatou a vereadora por Cuiabá recebendo 188 votos. O fracasso não a esmoreceu. Dois anos depois voltou ao palanque na condição de candidata a deputada federal – cravou 645 votos. Não se abateu e contribuiu para abafar o escândalo do desvio do Fundo Partidário do PSOL denunciando por um filiado. Coisas da política!.
O Enfermeiro Vanderley Guia, cuiabano, 42 anos, residente em Cuiabá, foi candidato a deputado federal em 2014 recebendo 1.425 votos, e concorreu a vereador por Cuiabá em 2016 cravando 261 votos.
Patrimônio

O Procurador Mauro integra a categoria dos servidores públicos federais bem remunerados, mas sua declaração patrimonial ao Tribunal Regional Eleitoral ao pedir registro de sua candidatura é tímida. Tem R$ 221 mil.
Procurador da Fazenda Nacional no topo da carreira recebe líquido, em média, R$ 22 mil mensais, mas o candidato ao Senado pelo PSOL se apresenta com pobreza de Jó e pode ser visto como vítima do empobrecimento ilícito.
Gonça de Melo consegue a proeza de declarar que nada tem, a não ser o sol, o PSOL e as estrelas.
Vanderly da Guia tem patrimônio de R$ 193 mil ancorado por uma casa.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Arte: Marco Antônio Raimundo – Marcão
2 e 6 – Flicker de campanha do PSOL
3 – Facebook – Os Ciganos
4 – Arquivo blogdoeduardogomes
5 – Agência Brasil
7 – Sobre imagem da TV Globo
PS – O terceiro capítulo será postado na quinta-feira, 1º de outubro, à noite
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