UM NOME AO SENADO – Max Russi
Longe dos microfones e dos gravadores, jornalistas dizem que Eduardo Botelho (DEM – presidente) é dono e Max Russi (PSB – primeiro-secretário) sócio da Assembleia Legislativa. Isso mesmo! Há muitos anos no fundo do poço, o Legislativo Estadual é controlado por deputados que conseguem arregimentar apoio de seus pares. Mas, afinal, quem é Max Russi? A julgar pelo aspecto jornalístico dessa série, trata-se de um dos virtuais candidatos à vaga aberta no Senado com a cassação da senadora Selma Arruda (PODE) e de seus suplementes Beto Possamai e Clerie Fabiana (ambos do PSL), pelos crimes de caixa 2 e abuso de poder econômico. Selma Arruda foi julgada pelo Tribunal Regional Eleitoral que a condenou por unanimidade, e pelo Tribunal Superior Eleitoral (6 a 1), que manteve sua degola. A eleição suplementar com a qual muitos sonham, acontecerá em abril.

A melhor identificação para o paranaense Max Joel Russi é a de político. Nenhum outro título lhe cairia tão bem. Isso, não somente pela quantidade de eleições que disputou desde 2000, e pelos pleitos em que se fez presente indiretamente apoiando familiares, mas também pelo volume de ações judiciais a que responde e por sua presença no governo estadual e na mesa diretora da Assembleia Legislativa.
Todos ao poder
Max Russi chegou à Jaciara, onde tem domicílio, em 1991. Nove anos depois foi o vereador mais votado no município e presidiu a Câmara. Na eleição de 2004 foi prefeito pelo PR do então governador Blairo Maggi, e se reelegeu em 2008.

Em 2016 Max Russi tentou eleger sua mulher, Andreia Wagner (PSB) prefeita de Jaciara. Andreia recebeu 7.078 votos perdendo para o dentista tucano Abduljabar Galvin Mohammad, que cravou 7.956 votos. Abduljabar não é nome de fácil assimilação. Daí, surgiu o apelido Abdo, com o qual se identifica o prefeito daquele município.
Em Jaciara Max Russi perdeu, mas na vizinha São Pedro da Cipa ele deu e dá as cartas. Seu irmão Alexandre Russi (PL) é prefeito reeleito e seu vice é Eduardo José da Silva Abreu, o Eduardo Portugûes.
Estrategicamente os Russi se dividem entre os grupos políticos fortes. Max Russi era grudado ao governador Pedro Taques (PSDB) e agora grudou no democrata Mauro Mendes que sucedeu Taques. Enquanto isso, o mano é filiado e liderado pelo senador liberal Wellington Fagundes – ou seja: vença quem vencer nós somos o poder.
Mais: Jaciara se situa no Vale do São Lourenço, onde Max Russi tem desenvoltura política, apesar do revés na eleição de 2016, quando Andreia foi derrotada. Em Dom Aquino, o deputado convenceu o então prefeito reeleito Josair Lopes (PSB) a renunciar para concorrer à Câmara dos Deputados. Josair se empolgou com a ideia, entregou a prefeitura ao vice Valdécio Luiz da Costa – Zão (PSB). Josair não passou de 18.897 votos, mas ao dobrar com o líder Max Russi, deu uma boa mãozinha pra sua reeleição.

CAPITAL – Em Mato Grosso partidos costumam se submeter a outros partidos. Eleito vereador em 2016 e presidente da Câmara de Cuiabá, Misael Galvão (PSB) passou a ser cortejado pelo prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) para compor sua eventual chapa em busca da reeleição. Filiado a partido de Max Russi, o vereador temia que a direção regional de sua sigla, que é presidida pelo deputado, vetasse sua composição com o prefeito. Daí, Misael se filiou ao PTB.
Pra que fique claro: o PSB gravita à sombra do DEM do governador Mauro Mendes. Os petebistas são liderados pelo deputado federal Emanuel Pinheiro, o Emanuelzinho, que é filho de Emanuel Pinheiro. Regras do nosso submundo político.
Em 16 de dezembro do ano passado, um almoço cujo cardápio foi a composição da chapa de situação para a Prefeitura de Cuiabá, reuniu o senador liberal Wellington Fagundes, Emanuel Pinheiro, Misael Galvão, e o pastor José Fernandes, da Igreja Assembleia de Deus Ramo Madureira.
A iniciativa partiu de Misael Galvão, que é evangélico e pediu para Emanuel e Wellington ouvirem o reverendo sobre política – mais especificamente sobre a perspectiva de apoio daquele líder evangélico à sua eventual candidatura na composição de uma chapa encabeçada com Emanuel. Wellington foi convidado horas antes do almoço, quando participava da entrega da modernização de um posto da Polícia Rodoviária Federal na BR-163/364.
PALETÓ – Emanuel trata a possível candidatura com cautela por conta do deplorável episódio em que ele aparece num vídeo exibido em 2017 pela TV Globo recebendo maços de dinheiro e um dos pacotes caiu do bolso de seu paletó, onde ele acomodava a dinheirama. Isso lhe rendeu apelido de Paletó. Quem lhe entregou os maços de cédulas foi Sílvio Corrêa, então chefe do gabinete do à época governador Silval Barbosa. Em delação premiada Silval sustentou que se tratava de propina. Quando da gravação do vídeo Emanuel era deputado estadual e membro de uma comissão da Assembleia criada para fiscalizar obras da Copa do Mundo de 2014. Outros deputados, no mesmo local, também foram filmados embolsando notas e mais notas de reais.
Se há governo, sou governo
Em 2014 o senador pedetista Pedro Taques se elegeu governador. Max Russi que não é bobo nem nada, tratou de ocupar lugar de destaque na grande bancada de sustentação do novo dono poder.
Em janeiro de 2017, Taques pescou Max Russi na Assembleia e lhe entregou a chave da Secretaria de Trabalho e Assistência Social (Setas). Juntos, eles tentariam pavimentar seus caminhos políticos com ações populistas, sendo uma o programa Pró-Família, de transferência de renda, para complementação do programa Fome Zero do governo federal. Taques e Max Russi lançaram o Pró-Família em junho daquele ano. A proposta era doar mensalmente R$ 100 para familia carente comprar alimentos. Espreme dali, espreme daqui, 25 mil cartões do programa foram entregues nos 141 municípios.
Menos poderoso, mas mais vivo, mais articulado e mais político do que Taques, Max Russi percorreu Mato Grosso com o Pró-Família. Ao invés de insistir na tecla que se tratava de uma política de governo, o que seria interessante politicamente para o governante, o secretário puxava brasa pra sua sardinha. O resultado das urnas em 2018 atesta a rasteira de Max Russi em Taques.
Taques se deslumbrou com Max Russi na Setas e em 2 de outubro de 2017 o removeu para a chefia da Casa Civil em substituição a José Adolpho de Lima Avelino Vieira. Adolpho estava atolado até a alma no escândalo que se tornou conhecido como Grampolândia Pantaneira. Adolpho foi acusado de fraudar o protocolo de um comunicado interno, do então secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, ao governador, denunciando a existência de Grampolândia Pantaneira. Segundo as investigaçaões Adolpho teria identificado o protocolo, para efeito de arquivo, como se fosse um pedido de vereadores por uma rodovia. O desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri, mandou instaurar inquérito para apuração. O caso hiberna. Observem bem como funcionava o governo de Taques, que tinha a participação de Max Russi: o secretário de Segurança Pública para informar o governador sobre gravações clandestinas fez um memorando, quando tal assunto deveria ser tratado cara a cara, com franqueza, profundidade, transparência e muita seriedade.
Na Casa Civil, Max Russi ganhou mais poder, o que reforçava seu discurso na área social com os beneficiados do Pró-Família. Enquanto isso, Taques começava a entrar no chamado inferno astral: secretários denunciados e presos, insatisfação do funcnionalismo público, pressão de prefeitos pelos repasses constitucionais que nunca eram respeitados. Inferno para o chefe. Céu para o subordinado.
Em 2018 Max Russi se reelegeu com 35.042 votos. Taques amargou o vexame de ser o primeiro governador mato-grossense que não conseguiu se reeleger. Mauro Mendes venceu com 840.094 votos; Wellington ficou em segundo com 280.055; e Taques em terceiro, com 271.952.
Mesa diretora e processos
Max Russi integra a bancada do PSB na Assembleia, que se completa com o deputado Dr. Eugênio. Em fevereiro do ano passado foi eleito primeiro-secretário da mesa diretora presidida por Eduardo Botelho. Antes desse cargo seu nome é cogitado para uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado (TCE), que então tinha somente um conselheiro titular: Campos Neto, que o presidia. Os conselheiros Valter Albano, José Carlos Novelli, Waldir Teis, Sérgio Ricardo e Antônio Joaquim, estão afastados desde 2017, por decisão judicial, por suposto recebimento de R$ 53 milhões em propina do ex-governador Silval Barbosa. Outro conselheiro, Humberto Bosaipo, também estava afastado por supostos crimes do colarinho branco, e mesmo nessa condição conseguiu polpuda aposentadoria.

Nos bastidores Maluf e Max Russi disputavam a cadeira, mas Maluf o convenceu e foi contemplado com a vaga assumindo-a em março de 2019 e em dezembro daquele ano chegou à presidência do TCE.
O cargo de conselheiro requer entre outros predicados ilibada conduta moral e notório saber jurídico. À época da articulação para o TCE Max Russi respondia a cerca de 15 processos por improbidade administrativa quando prefeito, que incluem superfaturamento de preços, fraudes em pregões eletrônicos, além de uma ação por questões trabalhistas. Em 2018 o Ministério Público Federal pediu o bloqueio de bens de Max Russi em até R$ 5 milhões por conta de um convênio com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para a travessia urbana de Jaciara (BR-364/163) cuja execução teria sido fraudada. Essa situação nunca foi apontada como impedimento para a indicação do deputado.
Maluf, o ungido, foi denunciado em 2017 pelo Ministério Público por sua suposta participação no esquema de desvio recursos na construção e reformas de escolas estaduais, à época em que o secretário de Educação era Permínio Pinto, que foi preso juntamente com outros acusados. Maluf foi delatado pelo ex-governador Silval Barbosa. O ex-governante disse que o deputado teria recebido R$ 600 mil em propina parcelada mensalmente em R$ 50 mil, durante 12 meses entre 2012 q 2013. O ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Riva, incluiu Maluf na relação de 38 deputados estaduais que teriam recebido mensalinho pago por ele.
Em nome do Pedro

Max Russi chefiou a Casa Civil de Taques no momento mais agudo da relação do governo com as prefeituras por conta do crônico atraso nos repasses constitucionais. O governante evitava os prefeitos e Max Russi o representava para tentar justificar o injustificável.
Numa tensa reunião na Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), Max Russi disse aos anfitriões que o Pedro fazia o possível e o impossível para cumprir a obrigatoriedade dos repasses, mas que não havia recursos suficientes para tantas demandas. Para mostrar que o chefe era bom e honesto Max Russi disse ao microfone que o governador morava de aluguel, que sequer tinha um barracão pra se abrigar. Um prefeito levantou uma questão de ordem e o encostou na parede: disse que um homem que durante muitos anos recebeu salário de procurador da República, que foi senador e exerce mandato de governador não consegue comprar uma casa, é um péssimo administrador, e que essa incompetência é que o impedia de honrar os compromissos do governo com os municípios.
É ele!
Max Russi além de ser o nome do PSB ao Senado, tem o declarado apoio de Eduardo Botelho, que mesmo sabendo que o DEM – seu partido – lançará candidato, não faz mistério sobre seu voto e empenho. Botelho é Max Russi desde menininho.
PS – Esse é o oitavo capítulo da série UM NOME AO SENADO. Leiam os anteriores:
1 – UM NOME AO SENADO: Sirlei Theis
2 – UM NOME AO SENADO: Waldir Caldas
3 – UM NOME AO SENADO – Neri Geller
4 – UM NOME AO SENADO – Nilson Leitão
5 – UM NOME AO SENADO – José Medeiros
6 – UM NOME AO SENADO – Maria Lúcia
7 – UM NOME AO SENADO – Carlos Fávaro
8 – UM NOME AO SENADO – Gisela Simona
Continuem acompanhando a série – única postagem que focaliza os virtuais candidatos ao Senado na eleição suplementar em abril.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Agência Senado
2 – Site Público Assembleia Legislativo – Arquivo
3 – Site www.diaadiadovale.com.br – Jaciara
4 – blogdoeduardogomes em arquivo
5 – Marcos Vergueiros no site público do Governo de Mato Grosso
6 – Francisco Alves no site público do Governo de Mato Grosso
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