Boa Midia

Cadê a esquerda amiga?

Continuação da série 2019 Retrospectiva mato-grossense.

Em São Félix do Araguaia o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, aos 91 anos, debilitado, enfrenta grave doença e se encontra abandonado pelas lideranças políticas, sindicais e dos movimentos sociais de esquerda, que tão o procuravam no passado, quando sua voz era uma das mais respeitadas pelos socialistas e comunistas da América Latina.

Continuem lendo a série 2019 Retrospectiva mato-grossense.

 

Cadê a esquerda amiga?

 

Dom Pedro Casaldáliga enfrenta doença e solidão
Dom Pedro Casaldáliga enfrenta doença e solidão

Silêncio total e absoluto. O corpo frágil, vencido pelo passar dos anos e o Mal de Parkinson já não mais reage aos estímulos do cérebro. Aos 91 anos o prelado que inspira a Igreja Católica Progressista luta pela vida preso a uma cama num minúsculo quarto na casa onde mora há décadas. A duras penas faz um vacilante sinal com a mão esquerda numa saudação que se completa plena com o brilho de seu olhar – inalterado por seu quadro de saúde. Esse cenário é parte do calvário do bispo emérito da prelazia de São Félix do Araguaia, na cidade do mesmo nome.  Seu complemento é mais trágico ainda, pois atinge a alma que move o pastor mais conhecido do Brasil no exterior: a ausência da militância do PT, PCdoB e do PSOL; dos grandes líderes nacionais da esquerda, do comando do MST, dos artistas famosos que sempre o citam enquanto referência. da cúpula sindical. TODOS, sem exceção, o abandonaram. Pere Casaldàliga i Pla ou Dom Pedro Casaldáliga ou ainda Pedro, que é como gosta de ser chamado, agoniza na solidão.

Um pequeno e barulhento ventilador, no piso, no quarto de Pedro, com seu vaivém desengonçado e incessante, ameniza  o calor, que é marca registrada na região.

Estive ao lado de sua cama na sexta-feira, 22 de novembro. Ao longo de três dias não vi nenhuma movimentação de visitantes. Uma desgastada cadeira de rodas, ao lado de seu aposento, testemunha sua vida na casa onde mora em São Félix do Araguaia, sob os cuidados de dois enfermeiros, dois cuidadores de idosos, duas funcionárias que fazem a limpeza e da onipresente dona Diolice Dias de Farias, uma goiana que desde 1992 é o braço direito de Pedro. Sem permanência constante, mas sempre atento, o padre Ivo Cardozo, da Prelazia – no bom sentido – é o cão de guarda: filtra a tentativa de aproximação dos jornalistas que não rezam pela cartilha da esquerda e sequer permite ser fotografado

A solidão de Pedro deixa a esquerda numa dualidade. Durante a prisão do ex-presidente Lula da Silva, militantes ideológicos e partidários montaram acampamento ao lado da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, onde o mesmo ficou trancafiado. Em São Félix do Araguaia nenhuma cara aparece ao longo da enfermidade do pastor, que começou em agosto de 2015, quando fraturou o fêmur da perna esquerda e se submeteu a uma cirurgia com o médico Antônio José de Araújo, no Hospital Pio X, em Ceres (GO). “Eu o levei pra lá, onde foi atendido pelo SUS“, revela padre Ivo.  No único momento de descontração com a reportagem, o sacerdote disse que “idoso não quebra fêmur na queda; ele quebra (o fêmur) e cai”.

 

Redação blogdoeduardogomes com foto

 

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