Entidades protestam contra projeto do Abuso de Autoridade

Nenhum deputado estadual deu as caras. prefeitos se escafederam. Vereadores também tomaram Doril. A classe política mato-grossense não compareceu ao ato na porta da Assembleia Legislativa, na manhã desta terça-feira, 20, para despertar a atenção popular e da bancada federal sobre a necessidade de se pressionar o presidente Jair Bolsonaro pelo veto ao projeto de lei aprovado pela Câmara, no dia 14, e que recebeu o nome de Abuso de Autoridade. Isolados, promotores, juízes, delegados federais e estaduais, agentes prisionais, policiais militares e outros profissionais das esferas forense e da segurança pública aprontaram chororô em alto nível, mas não conseguiram esconder a indignação que tomava conta de todos.
O projeto de lei que pode virar Lei de Abuso da Autoridade nasceu em 2017, no Senado, e leva o jamegão de seu autor, o senador Renan Calheiros (MDB/AL) – que não é figura recomendável quando se trata de moralidade. Em 26 e abril de 2017 o Senado o aprovou. Em 14 deste agosto, a Câmara dos Deputados também o chancelou completando o rito bicameral. Sua sanção, veto parcial ou total é de competência de Bolsonaro, que para tanto tem 15 dias corridos a partir da aprovação pelos deputados. O relógio corre contra os manifestantes de hoje em Cuiabá, outras capitais e Brasília, onde idênticas manifestações aconteceram. Em caso de sanção, o assunto volta a ser discutido por parlamentares.
O temor é generalizado. E isso ficou bem claro nas palavras do promotor Roberto Turin, que esteve à frente da manifestação.
A ausência dos políticos é compreensível. Afinal, boa parte da classe politica ou está na mira da lei ou demonstra solidariedade aos colegas enrolados.
Na Assembleia, para todos os lados que se olha se vê deputado ou investigado, ou processado, ou condenado em primeira instância, ou delatado, ou com bens bloqueados, a começar pelo presidente do Legislativo, Eduardo Botelho (DEM), por suposto rombo de R$ 30 milhões no Detran. Além de Botelho, também são alvos da investigação seus colegas Wilson Santos (PSDB), Romoaldo Junior (MDB) e Nininho (PSD).

Em 24 de agosto de 2017 o Fantástico da Rede Globo exibiu vídeos de ex-deputados estaduais mato-grossenses recebendo pacotes de dinheiro que seriam mensalinho. A entrega era feita por Sílvio Corrêa, que foi chefe de gabinete do governador Silval Barbosa (2010/14). Um dos contemplados com a dinheirama foi o então deputado Emanuel Pinheiro (PR), que em 2016 se elegeu prefeito de Cuiabá pelo MDB. Ao receber a dinheirama Emanuel deixou um pacote cair do bolso já recheado de seu paletó, o que lhe rendeu o jocoso apelido de Paletó.
Transcorridos dois anos do vergonhoso episódio, estranhamente o caso do Paletó aparentemente está abafado. O prefeito de Cuiabá não foi o único a receber o dinheiro. Além dele, foram contemplados os então deputados Ezequiel Fonseca (PP), Alexandre Cesar (PT), José Domingos Fraga (PSD), Luciane Bezerra (PV), Hermínio Barreto (PL) e o ex-deputado Airton Português (PP), que foi auxiliado por sua irmã e ex-secretária de Estado Vanice Marques.
Em delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, Silval e Sílvio informaram que se tratava de mensalinho. Todos os contemplados negam.
AS RUAS – Entre a população há entendimento que a classe política busca sua blindagem com a aprovação do projeto. Há também quem critique o Ministério Público e o Judicário por morosidade, como acontece no episódio do Paletó.
BOLSONARO – O presidente Jair Bolsonaro sofre pressão para vetar parte do projeto. O caso será analisado com tranquilidade por ele e ministros – conforme disse.
O que estabelece o projeto
( e suas punições)
Pena: detenção de 1 a 4 anos e multa
Pena – detenção de 6 meses a 2 anos e multa
Pena – detenção de 3 a 6 meses e multa
Pena – detenção de 3 meses a 1 ano e multa
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – blogdoeduardogomes em 20 de agosto de 2019
2 – Sobre imagem da Rede Globo
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