Boa Midia

Paletó, o triste episódio abafado pela mídia

Assessoria mostra Emanuel Pinheiro nos braços do povo
Assessoria mostra Emanuel Pinheiro nos braços do povo

Nos primeiros dias de agosto de 2020 Cuiabá estará em ebulição política com as convenções partidárias municipais. Tudo aponta que o nome mais forte para a disputa da prefeitura será o de Emanuel Pinheiro (MDB), que tentará a reeleição. Uma engrenagem molda o perfil de Emanuel Pinheiro, de tal modo, que dificilmente alguma candidatura conseguirá sufocar a sua, a menos que o Ministério Público feche o cerco sobre ele e que o Judiciário bata o martelo sobre o tristemente famoso episódio do Paletó, tão providencialmente abafado pela estrutura de mídia, marketing, comunitária e política que a cada dia que se passa mais e mais sufoca a indignação coletiva que tomou conta dos moradores da tricentenária cidade de Moreira Cabral quando o episódio mostrado na tela da televisão chegou às salas cuiabanas despertando o sentimento de repulsa ao grotesco das cenas no vídeo apresentado.

O episódio Paletó é detalhado no boxe O CASO.

Imediatamente após a exibição do vídeo, Emanuel Pinheiro tomou Doril. Por alguns dias não foi visto nem mesmo em seu gabinete. Depois, aos poucos, foi retomando os espaços políticos respingados pelo episódio. Nos primeiros momentos a Imprensa abriu manchete para os vídeos em que políticos receberiam dinheiro que seria propina ou mensalinho. As manchetes não resistiram por muito tempo.  O silêncio coletivo tomou conta do jornalismo, salvo uma ou outra nota a respeito. O que era crítica virou empenhado elogio ao prefeito. Houve uma virada de página.

Sem nenhuma citação ao episódio Paletó, a Imprensa focaliza Emanuel Pinheiro em todas as editorias, incluindo notinhas que tentam mostra-lo figura do povo, e em inflamados artigos sendo que alguns levam o jamegão de tradicionais aduladores do poder independentemente de quem o exerça.

A engrenagem citada é perigosa arma, principalmente quando se sabe que a memória política não é o forte do brasileiro. O gigantismo midiático sepulta Paletó, que sai de cena abrindo espaço a um prefeito cuiabano, perdidamente apaixonado por sua terra e que leva adiante uma administração de fazer JK se revirar no túmulo.

As redes sociais quase não abordam a questão Paletó. É preciso observar que Cuiabá é cidade prestadora de serviços públicos. A prefeitura tem cerca de 18 mil servidores, que por óbvias razões não se manifestam. Somem-se a eles aproximadamente 60 mil familiares dos mesmos. Somem-se ainda os que gravitam nos núcleos dos grandes caciques políticos que compartilham o poder – em sua amplitude – com Emanuel Pinheiro. O sufoco empregatício fere de morte a capital mato-grossense.

Cabe ao Ministério Público a resposta que a ética, a moralidade, a probidade e o respeito ao erário público cobram. Sem prejuízo do princípio da presunção da inocência, mas o episódio Paletó não é exemplo de moralidade e tem que ser visto com olhar crítico.

Tenhamos em conta que Emanuel Pinheiro exercita uma estranha capacidade de articulação política. Isso ficou bem evidenciado em 2018 na eleição de seu filho Emanuelzinho para deputado federal. Sobre isso leiam De pai para filho, no rodapé.

Peçamos a Deus que em agosto de 2020, quando as convenções escolherem os candidatos a prefeito de Cuiabá o episódio Paletó não seja mais – como agora –  uma nódoa nos meios políticos e um desafio aos promotores de Justiça que atuam em sua investigação, mas que não passe de uma triste página das relações na penumbra entre homens públicos, devidamente esclarecida e julgada pelos tribunais.

O flagrante onde nasceu o Paletó
O flagrante onde nasceu o Paletó

O CASO –  Ha dois anos, em agosto de 2017, a Rede Globo exibiu vídeos gravados ao longo da legislatura da Assembleia Legislativa, de 2011 a 2014, em que deputados estaduais e ex-deputados estaduais aparecem recebendo pacotes de dinheiro de Sílvio Corrêa, à época chefe de Gabinete do então governador Silval Barbosa.

Assim nasceu o episódio Paletó.

José Domingos guarda dinheiro numa caixa; Ezequiel observa
José Domingos guarda dinheiro numa caixa; Ezequiel observa

O modus operandi da entrega a todos foi o mesmo. Paralelamente a curtos diálogos no gabinete de Sílvio, o anfitrião contemplava o parlamentar com o mimo financeiro, que tanto ele quanto Silval delataram ao Ministério Público com homologação pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que se tratava de pagamento de mensalinho em troca de fidelidade parlamentar de modo a não interferir na mecânica do funcionamento da máquina governamental.

A fila dos que receberam dinheiro é grande. Emanuel Pinheiro (à época no PR) foi um deles, e no ato, do bolso já abarrotado de seu paletó, ele deixou cair um pacote da dinheirama – assim a sabedoria popular lhe deu o jocoso apelido de Paletó.

Luciane Bezerra também pegou dinheiro com Sílvio Corrêa
Luciane Bezerra também pegou dinheiro com Sílvio Corrêa

Ezequiel Fonseca (PP), que na legislatura seguinte (2015/18) seria deputado federal, abocanhou um naco da dinheirama.

O mesmo fez José Domingos Fraga (PSD), que se reelegeria, e em 2018 não disputaria mandato eletivo.

Alexandre Cesar (PT), que era deputado, pegou sua parte, e após cumprir o mandato exerce a função de procurador do Estado.

O petista Alexandre Cesar também aparece nos vídeos
O petista Alexandre Cesar também aparece nos vídeos

Hermínio Barreto (PR) era deputado estadual; em 2015 seria suplente de deputado federal e em 9 de maio de 2018 morreu num acidente na BR-364 próximo a Jaciara.

Airton Português (PSD), ex-deputado, acompanhado por sua irmã Vanice Marques, ex-secretária de Turismo do Estado, também embolsou.

Luciane Bezerra (PSB), que depois seria prefeita de Juara e perderia o mandato por corrupção punida com cassação pela Câmara Municipal,  travou um diálogo franco pedindo mais dinheiro ou aquilo que segundo Sílvio e Silval seria mensalinho. Outras figuras também foram contempladas com a generosidade do governador.

De modo geral, todos negam e tentam encontrar as mais diferentes justificativas, como é o caso de Ezequiel – como mostra o vídeo da TV Globo – que foi orientado por José Domingos para guardar a dinheirama nas meias.

 

De pai para filho

 

O deputado federal Emanuel Pinheiro da Silva Primo

Emanuel Pinheiro não se deixa abalar por denúncias nem críticas. É um estrategista político, que conseguiu a proeza de se aposentar na Assembleia Legislativa com salário integral de deputado estadual, antes de chegar aos 34 anos – foi contemplado com as benesses do Fundo de Assistência Parlamentar (FAP). No ano passado, lançou seu filho Emanuel Pinheiro da Silva Primo, candidato a deputado federal pelo PTB e o elegeu com uma votação expressiva conseguida em Cuiabá e municípios vizinhos.

Um sábio ditado nos ensina que não lugar onde um burro não entra desde que puxado por seu dono. Pois bem, o garoto Emanuel Pinheiro da Silva Primo, dito Emanuelzinho,  foi lançado candidato a deputado federal. Sem nenhuma experiência ou vivência política recebeu 76.781 votos. Estratifiquemos a votação: segundo mais votado em Cuiaba, com 27.376 votos. e terceiro em Várzea Grande, com 11.723. O eleitorado que o elegeu tem a seguinte distribuição geográfica na dita Baixada Cuiabana e adjacências: primeiro lugar em Chapada dos Guimarães (2.187),  Santo Antônio de Leverger (2.069), Nossa Senhora do Livramento (2.768), Nobres (1.187) e Juscimeira (886); segundo lugar em Acorizal (451), Jangada (790), Rosário Oeste (1.193) e Planalto da Serra(276).

Qual motivação política teria o eleitor em Nossa Senhora do Livramento para fazê-lo campeão de votos naquele município?

Qual motivação teve o motorista para inundar as ruas de Cuiabá com veículos envelopados com a chancela Emanuelzinho?

Muito estranha a concentração da votação em alguns municípios. Talvez a delação premiada que teria feito o ex-secretário municipal de Saúde em Cuiabá, Huark Douglas Correia possa abrir caminho a uma investigação por parte do Ministério Público Eleitoral sobre a votação de Emanuelzinho (agora Emanuel Pinheiro da Silva Neto). Huark é acusado pelo Ministério Público de desviar uma montanha de dinheiro da Saúde Pública num esquema que envolve a Prefeitura de Cuiabá até o pescoço.

 

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Divulgação Prefeitura de Cuiabá

2, 3 e 4: Sobre vídeos da TV Globo 

5 – Agência Câmara

1 comentário
  1. Ruth Oliva Diz

    Ainda temos jornalistas em Cuiabá meu amigo Brigadeiro
    Ruth Oliva – professora – Cuiabá – via Facebook

Comentários estão fechados.

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