TRANSBANANAL – Governadores xarás e um pesadelo em comum

Dois governadores e muito em comum entre eles. Ambos se chamam Mauro, seus estados são unidos pelo rio Araguaia e os dois alimentam um sonho em comum: rasgar a Ilha do Bananal ao meio dando passagem a uma rodovia pavimentada ligando São Félix do Araguaia a Formoso do Araguaia (TO). Junto ao ambientalistas não se trata de sonho, mas sim, de pesadelo. Caso o compartilhamento da proposta se viabilize será um tiro do pé da logística de transporte mato-grossense. Mais: o casamento das ideias manifestado na sexta-feira, 2, em Palmas (TO) não tem nada a ver com a crença de que agosto seja mês aziago. Nada disso! É o ressurgimento do projeto Transbananal, que no começo desta década povoou cabeças de polêmicas figuras dos meios políticos nas duas margens do Araguaia, e que se apresenta rotulado por uma sigla rodoviária: TO-500 – a polêmica Rodovia Transbananal.
O Mauro governador anfitrião tem o sobrenome de Carlesse. O xará visitante é Mauro Mendes, o político que governa Mato Grosso.
O que querem os dois Mauro?
Querem pavimentar uma rodovia com 90 quilômetros de extensão ligando São Félix do Araguaia a Formoso do Araguaia (TO). Para tanto será preciso que se construa seis pontes, sendo duas sobre o Araguaia (que no curso mais perto de Tocantins é chamado de Javaés). Entre uma ponta e outra da obra, terra indígena onde estão aldeados os carajás, tapirapés, tuxás e os avá-canoeiros..
Essa seria a melhor opção para a ligação da região de São Félix do Araguaia com Tocantins e consequentemente com a Ferrovia Norte-Sul e o porto de Itaqui (MA)?
Nâo.
Qual a melhor rota?

A melhor opção é ligar Alô Brasil (de Bom Jesus do Araguaia) à margem da BR-158) a Luiz Alves, distrito de São Miguel do Araguaia (GO), pela BR-080, numa extensão de 190 quilômetros, com a construção de pontes sobre o rio das Mortes e o Araguaia. No trajeto, ao invés de terra indígena a rodovia cruza as cidades de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Novo Santo Antônio. Mais: essa rodovia seria parte do chamado Contorno – uma espécie de C para desviar o trânsito da BR-158, em seu trecho indígena na reserva Xavante de Marãiwatsédé, com 140 quilômetros de extensão. Essa opção mataria três coelhos com uma só cajadada – ligaria Mato Grosso ao Norte de Goiás, próximo a Tocantins; atenderia as cidades mato-grossense do percurso; e solucionaria em parte o deslocamento do tráfego para fora da área indígena Marãiwatsédé.
A Licença Prévia desse trecho da BR-158 foi assinada em dezembro do ano passado, pelo então presidente do Ibama, Luciano de Meneses Evaristo e leva em consideração as unidades de conservação ao longo do trajeto, a exemplo da Área de Proteção Ambiental dos Meandros do Rio Araguaia, além de refúgios de vida selvagem e de áreas úmidas. Em 13 de setembro de 2018, portanto antes desse licenciamento, a obra recebeu parecer prévio favorável do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, que é ligado ao Ministério do Meio Ambiente.
O que mais pode oferecer a melhor rota?
Ela permitirá que as cargas agrícolas produzidas em Querência, Ribeirão Cascalheira, Canarana, Gaúcha do Norte e municípios no entorno percorram todo trajeto na malha federal por rodovias pavimentadas. Via São Félix do Araguaia e Transbananal há impasse ambiental em parte do trecho de 140 quilômetros sem pavimentação entre aquela cidade e a BR-158, e também nessa rodovia – a área indígena Marãiwatsédé.
E então?
A lógica manda que Mauro Mendes troque o pesadelo pelo sonho. Pelo sonho que pode virar realidade.
Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Washington Luis – Governo do Tocantins
2 – blogdoeduardogomes
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