Mauro Mendes não paga, Sintep não desiste e a greve avança

Com um discurso desconexo e a cada dia mais esvaziada, a greve dos professores estaduais liderada pelo Sintep (o sindicato da categoria) chega ao seu 37º dia e o impasse que acendeu o estopim para sua deflagração continua: o governador democrata Mauro Mendes teima em não garantir pagamentos assegurados em lei, e Sintep insiste em receber.
Na manhã desta quinta-feira, 4, um grupo com aproximadamente 150 sindicalistas, professores e simpatizantes protestou diante da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e em passeata com carro de som caminhou até a Assembleia Legislativa, onde oradores se sucederam em pronunciamentos na área externa.

Xingamentos ao governador não faltaram. Mentiroso, Pinóquio, mau caráter e outros adjetivos nada recomendáveis foram lançados contra Mauro Mendes. Uma das participantes atacou a Imprensa afirmando que os jornalistas estariam a serviço do governo e contra o Sintep. Um manifestante pediu que ninguém usasse camisa amarela, que segundo ele seria a cor do Bostonaro e de Mauro Mendes; sou peruano desde pequenininho, disse para mostrar que no próximo domingo torcerá contra a seleção brasileira, que enfrentará o Peru na final da Copa América. O agronegócio também esteve no centro das críticas no palanque do Sintep.
A rede estadual de educação tem 390 mil matrículas. No começo da greve quase todos os alunos ficaram fora da sala de aula. No dia a dia o movimento sofreu esvaziamento pelos desgaste natural. Em meio a isso, o governo corta ponto dos grevistas; do outro lado há reação: em 25 de junho, por algumas horas, em Cuiabá, houve bloqueio da BR-364 que liga a capital a Goiás e Mato Grosso do Sul via Rondonópolis, e professores fazem pedágio nos semáforos em Cuiabá pedindo ajuda financeira para comprarem alimentos.
O que acontece

Mauro Mendes considera que se Mato Grosso fosse uma empresa estaria insolvente. Em janeiro, o governador baixou um decreto – mais tarde considerado ilegal – de calamidade financeira por 180 dias. Desde a posse Mauro Mendes escalona salário, empurrou o 13º para dezembro, não repassa a recomposição geral anual (RGA), não cumpre a lei que estabelece realinhamento para ganho real, não paga fornecedores nem prestadores de serviço. Mesmo assim, nesse período anunciou que seu governo destinará R$ 70 milhões para a Imprensa neste ano.
Inconformado com o tratamento dispensado por Mauro Mendes aos profissionais da educação, o Sintep partiu para a greve, mas claro, com decisão aprovada em assembleia. Deu no que deu. O calendário letivo deste ano está comprometido, o transporte escolar está atado por um nó sem ponta. O hoje é grave. O amanhã é um incógnita.

HISTÓRICO – Em 11 de novembro de 2013 o governador Silval Barbosa sancionou uma lei complementar (510) de sua autoria, aprovada pela Assembleia Legislativa que cria um realinhamento para efeito de ganho real. A mesma estabelecia aumento de 5% em 2014; de 6% em 2015; de 7% em 2016; e de 7,69% entre os anos de 2017 e 2023. Sua aprovação foi duramente negociada com o Sintep, mas sua sanção pacificou o espírito grevista que tomava conta de dirigentes da categoria à época.Em dezembro de 2014 o mandato de Silval terminou. O governador Pedro Taques assumiu o governo com um discurso de Estado falido, roubado, assaltado. Aos trancos e barrancos o governador cumpriu a tal lei, mas enfiou os pés pelas mãos travando queda de braço com os servidores para não lhes pagar a RGA O funcionalismo foi para as ruas, ocupou a Assembleia, cercou o Palácio Paiaguás. Taques mastigou, mastigou e bancou o camelô: no apagar das luzes de seu mandato parcelou a RGA de 2018, de 4,19% em duas vezes: a primeira, de 2% em outubro, e a outra, de 2,19% em dezembro.

Candidato à reeleição em 2018 e enxotado pelas urnas no primeiro turno, Taques deu uma banana para a segunda parcela da RGA. Seu secretário de Fazenda era Rogério Gallo, o mesmo de Mauro Mendes, agora
Mauro Mendes assumiu com um discurso tão ou mais tétrico do que aquele que se ouvia de seu guru Taques.
De repente os 40 mil professores estaduais se viram nus no baile: sem RGA, sem receber o resíduo da RGA parcelada de 2018, com salário escalonado, com o 13º empurrado para o final do ano.
Mais: o professor quer a profissionalização do magistério, com a convocação de aprovados em concurso público e a eliminação dos professores contratados.
Mais ainda, mas sem muita convicção – pra rechear a pauta da greve – o professor quer reforma de centenas de escolas e alguns penduricalhos que nem mesmo ele sabe de cor quantos e quais são.
DURA LEX? – Mauro Mendes responde por um governo que gasta mais de 58% de sua receita corrente líquida com a folha salarial, enquanto a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) fixa o teto em 49%. Além de seu decreto de calamidade financeira o governador também se escora na LRF pra dizer não aos professores.
O governador avalia que se Mato Grosso fosse uma empresa estaria insolvente, mas assim continua driblando a RGA e outros direitos do servidor e permanece generoso nomeando barnabés comissionados. Sua Casa Civil tem mais de 265 cabeças coroadas. Sua caneta que contrata gasta mais tinha do que aquela que exonera. E que a RGA não o ouça.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1, 2 e 4 – blogdoeduardogomes
3 e 5 – Governo de Mato Grosso – Divulgação
Cadê os dados jornalísticos que apontam para o esvaziamento da greve? Qual o percentual de escolas em greve? Cadê a famosa imparcialidade jornalística?