Sou mais um em silêncio
Redes sociais são ferramentas muito novas, mas mesmo assim ocupam lugar de tamanha relevância, que hoje, boa parte da humanidade é influenciada ou se move graças a elas. Sobre Mato Grosso entendo ser necessário discutirmos a participação do indivíduo nessas novas mídias, aproveitando para refletirmos neste primeiro de junho, quando se registra o começo do sexto mês do mandato do governador Mauro Mendes, e o quinto mês da legislatura estadual em curso e da posse da bancada federal mato-grossense.
Em Mato Grosso, nenhum partido ou federação (incluindo os sindicatos) tem tanto espaço permanente de comunicação quanto as redes sociais. Não se trata de fenômeno nem de ciclo. Avalio que entramos numa era de evolução permanente, que mesmo em seus primeiros passos tem força suficiente para fazer correções na esfera política em seu sentido mais amplo, desde que utilizadas com serenidade, seriedade e visão republicana, ou para contribuir com o retrocesso, caso permaneçam caladas ou abordando temas que fogem à realidade mato-grossense.
As redes sociais rondam ao infinito. Nelas, há espaço para tiradas humorísticas, debates esportivos e culturais, para críticas e elogios no plano nacional e na esfera internacional, para se focalizar questões econômicas etc. Mas, salvo melhor juízo, a internet é a melhor seara para cobrança administrativa e do exercício parlamentar. Como nos ensinou o Dr. Ulysses Guimarães, o povo nas ruas mete medo em político. Permitam-me sugerir: adaptemos pra internet a frase do grande democrata.
A Internet poderia ser nosso grande instrumento de pressão política neste Estado que não conhece a si mesmo. Pensemos no grande engessamento administrativo que antecede o governo Mauro – e continua nele – e paralelamente olhemos para as vantagens que levam os donos dos poderes em todas as suas esferas.
O engessamento
Rondolândia não tem acesso rodoviário perene, nem mesmo encascalhado, com Mato Grosso. Em Cuiabá estão paralisadas as obras do Rodoanel Norte, o Hospital Universitário Júlio Müller, o Veículo Leve sobre Trilhos, a Cidade da Saúde etc. A duplicação da BR-163 entre Rondonópolis e Sinop empacou, enquanto a concessionária Rota do Oeste fatura milhões cobrando pedágio. A Zona de Processamento de Exportação (ZPE) e o porto de Morrinhos, em Cáceres, não saem do papel. A termelétrica de Cuiabá está desativada e não há venda de gás natural veicular em Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis. Não se encontra solução para a pavimentação de 140 quiômetros da BR-158, no Vale do Araguaia, no trecho coincidente com a recém-instalada reserva indígena Marãiwatsédé dos xavantes. Temos cidades que dependem de balsas para sua interligação com a malha rodoviária. Mato Grosso e Bolívia continuam de costas um para o outro ao longo de uma fronteira de 983 quilômetros. Cuiabá não recebe indústria de porte há mais de uma década, e nesse período, algumas baixaram as portas. Em Rondonópolis, por pirraça tributária do governo estadual, está fechada a mais moderna fábrica brasileira de tecido de algodão, a Santana Textiles. O governo deu a MT-130 em concessão no trecho Rondonópolis-Primavera do Leste e não há sinal de sua duplicação, como prevê o contrato. Mato Grosso tem centenas de obras inacabadas. A construção da Ferrovia Ferrogrão não sai do papel, do mesmo modo que a ferrovia FICO. A pavimentação da BR-163, que nos interessa, nunca é concluída no Pará. Saneamento desafia as prefeituras e Várzea Grande trata apenas 16% de seu esgoto etc.
Os exemplos acima mostram a incapacidade administrativa do Governo de Mato Grosso e a falta de força política para exigir que a União cumpra sua parte nesse contexto.
Enquanto isso, as mamatas e o exercício deslumbrado de cargos continuam. Deputados estaduais recebem verba indenizatória de R$ 65 mil. E de modo geral, todos procuram sempre puxar brasas para suas sardinhas.
Recentemente o advogado Naime Moraes, pai do deputado estadual Ulysses Moraes (DC) e a mulher do deputado Wilson Santos (PSDB), Adriana Bussiki foram contemplados com cargos comissionados com salário acima de R$ 13 mil no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Vale observar que Ulysses questionou muito o TCE no começo deste ano, quando se costurava a nomeação do à época deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB) para a função de conselheiro, o que acabou ocorrendo. O que acontecerá a partir de agora: Ulysses e Wilson Santos ficarão calados diante da sujeira no TCE delatada pelo ex-governador Silval Barbosa e que resultou no afastamento judicial de cinco conselheiros daquela corte auxiliar de contas em setembro de 2017?
Ao assumir o governo, Mauro baixou decreto de calamidade financeira por 180 dias e disse que se Mato Grosso fosse uma empresa estaria insolvente. Mesmo com a insolvência Mauro ao invés de reduzir, aumentou o número de servidores comissionados. Na Casa Civil o número de apadrinhados políticos ronda a casa dos 300.
Mauro nunca revela com detalhes, diretamente, a situação do governo. Os números abordados são citados de forma embaralhada. Não se sabe quanto se quitou de dívidas anteriores a janeiro deste ano, quanto se pagou a fornecedores e prestadores de serviço em 2019. Há uma névoa sobre o cofre do Paiaguás.
Tribunal de Justiça, Ministério Público e TCE permanecem com o luxo e a ostentação costumeiros, como se fossem poder e órgãos de algum sultanato e não de Mato Grosso, onde faltam insumos básicos até para o funcionamento de postos de saúde.
Em suma:
Onde estão os que navegam nas redes sociais mato-grossenses? Onde estão que ninguém os ouve? Certamente se a internet vestisse a camisa da cidadania – voltemos ao Dr. Ulysses Guimarães – os políticos tremeriam. Como o tremor fica por conta dos internautas a classe política deita e rola. Observam a bancada federal nesse período tão adverso para Mato Grosso, que sequer consegue receber o FEX: O deputado José Medeiros (Pode) está preocupado em ser candidato a prefeito de Rondonópolis. O deputado Nelson Barbudo (PSL), quer ser candidato ao Senado na vaga que poderá ser aberta caso a senadora e sua correligonária Selma Arruda seja cassada pela Justiça Eleitoral. O deputado Emanuel Pinheiro Neto (PTB) ameaça transferir o título eleitoral de Cuiabá para Várzea Grande. A deputada Rosa Neide (PT) assume ares da impetuosidade universitária e se veste de Lula Livre. Selma Arruda se debate nos tribunais pra se manter no cargo.
A Assembleia está impregnada de deputados processados, com bens bloquados, investigados, delatados etc.
Prefeitos e vereadores esttão em cena puxados pelos suplente de deputado federal Valtenir Pereira (MDB) querendo a prorrogação de seus mandatos por dois anos.
Triste realidade. As redes sociais poderiam e muito contribuir para melhorar Mato Grosso, para conseguirmos as correções que precisamos, mas o comodismo, a conivência e a falta de espírito cívico não as move (há exceções e se faz necessário registra-las) . Concluo que somos um povo atípico: guiados por uma classe política pouco recomendável e não temos pés no chão para fazê-la mudar de conduta nem para renova-la.
No registro da conclusão dos primeiros cinco meses do mandato do governador e dos quatro meses das legislaturas federal e estadual brindo o silêncio mato-grossense. O faço anunciando que a partir de agora não mais semearei no deserto. Ao silêncio coletivo junto o meu, mesmo sabendo que intimamente muito me envergonharei dele, mas não tendo força para mudar a realidade cruzo os braços.
Fiquemos em silêncio para sempre. Sejamos marionetes da vida – se é que isso é vida.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Guarde a minha carapuça
Sérgio Marcondes – autônomo – Cuiabá
Meu amigo Brigadeiro eu compreendo sua razão, mas não desanime porque o seu texto é uma luz para nós. Deus no comando
Maria Aparecida – Cidinha – professora aposentada = Cuiabá
Grandes verdades
Estou atordoado com tamanho choque de realidade. Sabia que esse desencanto aconteceria. Foi anunciado. Há tempos venho testemunhando seu hercúleo esforço em tirar o grupo do debate raso, inútil. Quantos fatos e questionamentos relevantes o amigo nos brindou neste diferenciado site, que não receberam nossa atenção devida. Não provocaram as reflexões, debates exigidos, não desencadearam as ações esperadas. Na mídia social as pessoas livremente dão vazão ao que pensam, ao que são. Revelam-se como são, escancaram seu conteúdo. Solidarizo-me com seu desalento, Guerreiro das boas idéias, da BOAMÍDIA. Continue jogando as estrelinhas de volta pro mar. As pessoas, gradativamente, compreenderão que num convívio tão amplo, ilimitado, há que se ter respeito à linha editorial trazida pelo protagonista. Caro amigo Eduardo, você, mais uma vez desenhou o que objetiva realizar neste site. Não abandone as trincheiras da análise crítica construtiva, elucidativa, que sua incomum visão holística e conhecimento respeitavel nos
agracia com textos inspiradores. Quanto a nós, vamos aprendendo que este espaço é precioso demais para picuinhas e ofensas pessoais, ideológicas, menores, rasas. Há que se reverberar, refletir, dar consequências aos temas destacados, de interesse público, trazidos a lume pelo Guerreiro das boas idéias, da BOAMÍDIA, amigo Eduardo.
Sinceramente, não tenho palavras pra agradecê-lo, doutor Waldir Caldas. Deus haverá de recompensá-lo, também por esse gesto de generosidade nesta terra tão árida de sentimentos.