Boa Midia

O silêncio mato-grossense

Em Mato Grosso quais foram os fatos mais relevantes na semana que chega ao fim neste sábado, 18? Diria que o movimento da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), o manifesto liderado por Rodrigo Rodrigues para que a Justiça passe a limpo o escândalo do Paletó, o incêndio criminoso de uma viatura na Delegacia de Água Boa e a questão da verba indenizatória dos deputados estaduais.  Os episódios relevantes não se limitam a essas quatro citações, pois o período foi marcado por muita violência, omissão administrativa do governador Mauro Mendes  etc. Porém, avalio que Mato Grosso foi omisso ao manter tais eventos em silêncio, optando por temas que tem tese são externos.

Os quatro fatos:

A Aprosoja esperneia para não fazer a contribuição compulsória do Fethab Milho  e não encontra respaldo entre os ruralistas no poder. Onde anda Wellington Fagundes? Neri Geller? Nelson Barbudo? Cesar Maggi? Sílvio Fávero? Carlos Bezerra? Otaviano Pivetta? Beto Farias? Janaína Riva? Daniel da Itaquerê? Dr. Eugênio? Fernando Gorgen? Mauro Rosa? Delegado Claudinei? Jonas Canarinho?  Adriano Pivetta? Dr. João? Dilmar Dal’Bosco?  Dalva Peres? Dr. Gimenez? Francis Maris? Nininho?  Pedro Ferronatto? Xuxu Dalmolin? Eduardo Botelho? Egon Hoepers?  Dr. Leonardo? Raimundo Nonato Abreu Sobrinho?  Valmir Moretto? Bia Sueck?  Romoaldo?  Lafin? Rosana? Noburo Tomiyoshi?  Humberto Bolinha? Luiz Binotti? José Elpídio?  Jayme Campos? Valter Miotto? Arnóbio Vieira?  Fábio Faria? Selma Arruda? José Medeiros? Max Russi, Carlos Sirena? José Odil? Juarez Costa, Valcir Casagrande, Betão Bortolini, Carlos Avalone, Iraldo Ebertz e tantos outros que se elegeram com apoio do eleitorado do agro?

O jornalista Rodrigo Rodrigues quer o óbvio: o julgamento do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, por sua conduta ultrajante recebendo pacotes de dinheiro, a ponto de um cair do bolso de seu paletó – essa dinheirama, segundo o ex-governador Silval Barbosa seria mensalinho.

O incêndio da viatura, que foi totalmente devorada pelas chamas, nos revela que além do pequeno efetivo policial daquela cidade, a mesma não tem unidade do Corpo de Bombeiros Militar para proteger seus 25 mil habitantes.

A presidente da Assembleia, Janaína Riva (MDB) discute com seu colega Ulysses Moraes (DC) sobre o teto da VI; a deputada o quer integralmente, ou seja, no montante de R$ 65 mil mensais – o maior do Brasil – e Ulysses pechincha para R$ 32,500.

Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça
Dando milho aos pombos  – Como diz a letra de Milho aos pombos, do meu contemporâneo de juventude em Governador Valadares, Zé Geraldo.

O silêncio é quase coletivo enquanto isso as mãos alimentam os pombos.

Pena que seja assim nesta ensolarada terra de terrorismo fiscal e tributário, onde a Assembleia sempre se omite em defesa do cidadão quando o Estado o confronta, como no caso do Fethab Milho. Sobre essa questão Mato Grosso não poderia se calar. Afinal, o que está em jogo é a espinha dorsal de nossa economia, o agronegócio. Calar sobre uma questão como essa é delegar poder a outros para que nos representem numa questão vital para o mato-grossense.

Pena que seja assim na Terra de Rondon, onde a impunidade é marca característica sobre o vídeo onde aparece o paletó, sobre Grampolândia Pantaneira, rombo de R$ 30 milhões no Detran, escândalo Consignum, MT 100% Equipado, Máfia das Ambulâncias, Secopa, MT Integrado, Sustentável e Competitivo, propina para cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado etc. Pelas mais diversas razões e até mesmo por acomodamento para não contrariar o poder, o mato-grossense não se manifesta sobre tema assim, considerado delicado. Rodrigo Rodrigues não quer nada além do óbvio, mas prega no deserto. Na Assembleia não se ouve voz cobrando apuração – até porque não se fala em corda na casa de enforcado. A Câmara de Cuiabá, por ampla maioria, sustenta que Emanuel Pinheiro seja senhor de extrema honorabilidade

Pena que seja assim no quase continental Mato Grosso onde os municípios são tratados a menor. A ausência do Estado fora de Cuiabá é palpável: Água Boa tem o Hospital Regional Paulo Alemão e a Penitenciária Regional Major Zuzi, mas não tem Corpo de Bombeiros Militar, sendo que a unidade mais próxima fica em Nova Xavantina, distante 80 quilômetros. Os moradores precisam de cobertura dos bombeiros; o hospital e o presídio exigem uma unidade daquela corporação na cidade, que elegeu o deputado estadual Dr. Eugênio (PSB) – Dr. Eugênio junta seu silêncio ao silêncio coletivo e não esperneia por seu município, para garantir sua confortável presença na base de sustentação de Mauro Mendes na Assembleia.

Pena que seja assim nessa difícil quadra da vida onde faltam recursos para insumos básicos de saúde, para melhorar a rede física escolar, para cumprir a constitucional recomposição geral anual (RGA) com os servidores do governo, para investimento em segurança e pesquisa, mas sobra dinheirama para mimar os 24 deputados estaduais com VI mensal de até R$ 1.560.000 e anual de até R$ 18.720.000 – isso sem contar salário e a estrutura funcional do gabinete com telefonia, combustível, veículos, Correios e dezenas de barnabés sendo que alguns também mamam na VI. Chega ao ridículo a maneira como esse caso é tratado por alguns poucos que o abordam: tentam desqualificar Ulysses e conferem ar de mocinha do faroeste a Janaína, quando deveriam criticar o deputado por querer matar meio porco e deixar a outra banda engordando no chiqueiro, e questionar a deputada por sua voracidade sobre o coitado do erário público que tanto já sofreu nas mãos de seu pai, o ex-deputado José Riva.

O cidadão

Evidentemente que o cidadão não tem obrigação de sair atirando pedras sobre todos os erros da classe política. Isso é bem claro. Porém, há cidadãos especializados na ocupação das redes sociais para críticas externas (a Lula, Dilma, Bolsonaro, STF, José Dirceu, Damares, Aécio, Haddad etc) mas que se omitem sobre as questões locais. É preciso cobrar posicionamento a essa turma. Sem prejuízo aos seus comentários sobre o plano nacional eles também devem fazê-lo aqui.

 

A imprensa

É preciso que fique claro: o mercado mato-grossense não investe na mídia. Nem a TV Centro América sobreviveria sem mídia institucional. O cidadão que poderia participar de um entre aspas projeto para melhoria da nossa Comunicação, não o faz, mas enche a boca criticando jornalistas.

A mídia vive a dualidade: ou se rende aos anúncios públicos ou baixa as portas. Essa incestuosa relação tem duas vertentes: o que a faz como se fosse crime famélico e o o mala acostumado a morder,  e que se sente bem assim.

Dinheiro público em mídia não é crime, muito embora diante da nossa realidade seja imoral. Há orçamento para gastos publicitários que provocam a chamada alça de caixão – se um larga vem o outro e põe a mão. Há também o famoso jabá. No apagar das luzes do poder de José Riva a Polícia Federal apreendeu em sua casa uma lista com 107 nomes de jornalistas, radialistas, apresentadores de TV e veículos de Comunicação, que receberiam por fora para o blindarem. Poucos tocam nessa lista e a Imprensa a amoita – como diria o homem simples.

O que acontece com a Imprensa se repete nos meios literários: quem faz assinatura de jornal ou revista locais e compra livros?  Um exemplo sobre isso: se um amigo monta bar, seu círculo de amizade lhe dá preferência, para ajudá-lo. O mesmo acontece em outras áreas comerciais. Mas, se alguém escreve um livro, o conhecido logo o procura pedindo dois exemplares: um pra ele, outro pro cunhado que adora ler. Há alguns anos falei sobre isso numa entrevista à TV/AL e sugeri ao escritores que se debruçassem sobre essa realidade.

Nossa Imprensa sempre é governista. É Mauro, é Emanuel Pinheiro, é Botelho, foi Pedro Taques, foi Riva, foi Silval, foi Blairo, foi Dante, foi Jayme, foi… Não há preocupação com jornalismo investigativo; a Imprensa se acomodou. Silval somente caiu em desgraça jornalística porque os escândalos de seu governo somente se tornaram públicos após a posse do sucessor Pedro Taques. No auge de Grampolândia Pantaneira, todas as letras atingiam os policiais militares citados, e as mesma poupavam Pedro Taques, Do outro lado da notícia o internauta lê, pouco se importando com a autoria da matéria, mesmo que ela seja assinada por alguém da fraternal lista dos 107 de Riva.

Mais um exemplo do governismo gutembergueano: Silval e Riva elaboraram listas com nomes de supostos mensaleiros. Ambos falaram sobre figuras destronadas. Essas listas viralizaram. ´E o princípio do rei morto, rei posto.

Dura constatação: a Imprensa (há exceções) não tem interesse por fatos fora do perímetro delimitado pelo Trevo do Lagarto e o Coxipó da Ponte. Isso é péssimo e nasce dos vínculos umbilicais de donos de empresas de Comunicação com o governo – a notícia somente está onde há interesse em agradar o patrão poderoso. Então viva o Paiaguás, a Assembleia, o Alencastro…

Acontece que a Comunicação mudou com o surgimento das mídias sociais. O cidadão não deve se acomodar esperando pelas notícias tradicionais.  Paralelamente e na ausência dela é seu papel opinar, sugerir, questionar, criticar, denunciar. No entanto, em Mato Grosso, com as devidas exceções, Imprensa e mídias sociais são siamesas na arte do silêncio coletivo sobre temas que incomodam os donos do poder.

Resumo

Não é fácil o verdadeiro jornalismo em Mato Grosso. Não é fácil por falta de patrocínio comercial. Não é fácil porque os  leitores buscam volume de notícias, independentemente de seu conteúdo ou falta dele, o que escanteia e desqualifica textos pesquisados, isentos e bem elaborados. Na disputa entre o qualitativo e o quantitativo, o segundo dá goleada.

Stanislaw Ponte Preta certa vez disse: Restaurese a moralidade ou locupletemo-nos todos! Sem prejuízo de sua essência essa frase pode ser adaptada para restaure-se a cobrança ou silenciemos todos nesta terra do Patrono da Comunicação, o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Pensem nisso. Reflitam. Estamos buscando um belo telhado pra uma casa com o alicerce seriamente abalado sem ninguém que tente restaurá-lo

 

Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes

FOTO: Ilustrativa

7 Comentários
  1. Inacio Roberto Luft Diz

    Quanta cacetada nobre ‘Brigadeiro’ – acho que vou errar o cálculo aqui para não postar esse comentário

  2. Marília Saraiva Diz

    É bem Mato Grosso

    Marília Saraiva – professora – Cuiabá

  3. Arthur Ferreti Diz

    O senhor é uma bênção continue assim
    Arthur Ferreti – produtor rural – Sorriso – via Facebook

  4. Deputado Dr. Eugênio Diz

    Leio todos, Brigadeiro. O senhor é referência. Obrigado pelos textos. Reflito muito ao lê-los
    Dr. Eugênio – deputado estadual pelo PSB – via grupo WhatsApp Boamidia

  5. Airton Iappe Diz

    Meu nobre Eduardo! Li e compartilhei com todos os contatos que tenho do Agro.

    Airton Iappe – jornalista – Água Boa – via grupo WhatsApp Boamidia

  6. Danilo Sossai Diz

    Também estou compartilhando. Muito bom!

    Danilo Sossai – Designer gráfico – Cuiabá – via grupo WhatsApp Boamidia

  7. José Borba Diz

    Quanta dignidade meu amigo Brigadeiro

    José Borba – Cuiabá

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