Mato Grosso perde Murilo Domingos

Aos 78 anos morre o empresário, advogado e político Murilo Domingos
Murilo Domingos sempre foi ousado, muito embora críticos o chamassem de Murilo Dormindo. Do pai, Elias Domingos, comerciante árabe, herdou a determinação e a ousadia para os negócios que resultou na empresa familiar Casa Domingos, de Várzea Grande, atacadista de secos, molhados e armarinhos presente em todos os cantos de Mato Grosso. Na Universidade de Ribeiro Preto (UNAERP), no curso de direito, aprendeu os meandros da vida. No dia a dia pegou gosto pela política, o que abriu portas para ser deputado federal e prefeito de Várzea Grande.
Santa Rosa do Viterbo, interior paulista, na região de Ribeirão Preto, foi onde Murilo Domingos nasceu em 21 de fevereiro de 1941. Rondonópolis, onde nunca morou, foi seu verdadeiro berço político, em 1994, ainda que por linhas travessas.
Antes de Rondonópolis, Murilo Domingos tentou encontrar o caminho político disputando a eleição para prefeito de Cuiabá em 1992, pelo PRN que pouco antes elegeu Fernando Collor presidente. Seu adversário era osso duro de roer: Dante de Oliveira, que ainda carregava na camisa o cheiro do eleitorado que o abraçava, encantado com sua emenda das Diretas Já. Dante saiu vencedor, mas ele não desistiu.
Dois anos depois da candidatura a prefeito de Cuiabá Murilo Domingos estava nos palanques disputando votos para deputado federal pelo PTB. Tentar, bem que tentou, mas não passou de uma suplência. Ai, Rondonópolis cruzou seu caminho.
Wellington Fagundes (PL) e Augustinho Freitas (PTB), ambos de Rondonópolis, tentavam se reeleger para a Câmara. Os dois eram candidatos natos, mas deveriam autorizar a inclusão de seus nomes à convenção de seus partidos – Wellington o fez, mas Augustinho, não – porque ensaiava desistir da disputa.
Augustinho e Wellington foram reeleitos, mas, antes da contagem da votação, que era em urnas convencionais, e que se arrastava por mais de uma semana, Wellington representou contra o adversário, por sua falha na convenção. Por unanimidade o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) manteve a diplomação de Augustinho e a ação foi parar no Tribunal Superior Eleitoral e de lá para o Supremo Tribunal Federal, que cassou o diploma de deputado de Augustinho.
A decisão final demorou e somente em 30 de outubro de 1996 Murilo Domingos nasceria em Rondonópolis para a política – naquela data foi empossado deputado federal pelo PTB na vaga aberta com a degola de Augustinho.
De uma disputa travada por dois políticos rondonopolitanos abriu-se uma avenida para Murilo Domingos, que tratou de avançar por ela. Em 1998, pelo mesmo PTB, reelegeu-se. Em 2002 tentou o Senado, mas as duas vagas em disputa foram conquistadas por Jonas Pinheiro (PFL) e Serys Slhessarenko (PT).
A revés para o Senado não esmoreceu Murilo Domingos. Em 2004, pelo PPS do então governador Blairo Maggi, disputou e venceu a eleição para prefeito de Várzea Grande. Quatro anos depois repetiu o feito.
A trajetória de Murilo Domingos tem um capítulo destinado à sua preocupação classista com o setor comercial: foi vice-presidente da Associação Comercial de Cuiabá.
CONTRATEMPO – Calmo, Murilo Domingos ouvia mais do que falava. Enfrentou contratempos na prefeitura, principalmente no segundo mandato. Foi afastado do cargo por denúncia de improbidade administrativa. Viveu o fogo intenso da política várzea-grandense, muito complicada e que até mesmo lá, nem todos a entendem e compreendem.
Mesmo sob pressão, nunca se excedia nos pronunciamentos, mantinha sempre o tom conciliador. Nunca foi um grande líder, mas na esfera estadual ninguém deixava de ouvi-lo quando o assunto era política.
ADEUS – No domingo, 31 de março, Murilo Domingos sofreu acidente em sua casa, em Cuiabá. Caiu. Bateu com a nuca no chão sofreu traumatismo cranioencefálico. Foi internado no Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, e mantido numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na tarde dessa terça-feira, 2, familiares confirmaram sua morte encefálica. Por volta de 20h30 o hospital atestou sua morte.
O velório será na Capela Jardins, em Cuiabá, de 7 às 10 horas, na quarta-feira, 3. Seu corpo será sepultado no jazigo da família Domingos, em Ribeirão Preto (SP). Familiares informaram que era desejo de Murilo Domingos ser sepultado ao lado de seu pai, naquela cidade.
Murilo Domingos deixa três filhos: Murilo Elias, Rafael Domingos e Carolina.
Viveu em paz. Fechou os olhos para sempre. Deixou exemplos, inclusive ambientais: à frente da Casa Domingos criou o programa para repovoar o rio Cuiabá, soltando milhares de peixes de espécimes nativas do Pantanal. A sabedoria popular os apelidou de Murilinhos.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTO: Arquivo
Descanse em paz.
José Clemente Mendanha – advogado – Rondonópolis