Boa Midia

Mato Grosso e suas mulheres maravilhosas

Personagens é a série diária que focaliza vultos mato-grossenses. Hoje, véspera do Dia Internacional da Mulher, o site faz uma postagem especial com 11 mulheres que muito bem representam Mato Grosso.

O objetivo é homenagear o universo feminino mato-grossense.

São 11 mulheres postadas aleatoriamente e sem prevalência. O registro nos títulos identifica a data da postagem, que começou em 8 de dezembro do ano passado e que foi interrompida no período carnavalesco, com abordagens temáticas sobre aquele período.

Na segunda-feira, 11,  a série retoma a postagem diária normal, com um personagem a cada dia, e que terá boa presença feminina. Até lá, para maior abrangência de leitores,esta postagem será mantida reverenciando as mulheres.

 

Claudia Cardinale, Cláudia e Cláudia Neuza da Silva

Claudia Cardinale empresta o nome a cidade
Claudia Cardinale empresta o nome a cidade

Final de tarde da terça-feira, 11 de julho de 1978.  O colonizador Ênio Pipino percorre a pé um trecho da Avenida Marechal Rondon sentindo o cheiro gostoso da terra entremeada por raízes das árvores que tombaram. Está feliz. Naquele instante sua Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop) acaba de concluir a abertura daquela e da Avenida Gaspar Dutra. De sua ousadia nascia na quinta etapa do projeto de colonização da Gleba Celeste, a vila de Cláudia, destinada a ser cidade em Mato Grosso.

Certa feita, em Cuiabá, citando que se tratava de registro histórico perguntei ao colonizador se Santa Carmem tinha algo a ver com Carmem Miranda, e ele negou qualquer ligação. Num sorriso à meia-boca comentou baixo: “Carmem (Carmem Ribeiro Pitombo) é nome de uma tia da dona Nilza (a mulher dele)”. Espichei pra Cláudia. É pela atriz? No primeiro momento ele não respondeu diretamente. Ajeitou os óculos, espichou a mão em despedida e foi enfático: “que mulher é essa Cláudia Cardinale”.

Túnis, 15 de abril de 1938. Nasce Claude Josephine Rose Cardinale, filha de um casal siciliano. Morenaço. Boca carnuda. Bunda e dentes perfeitos. Seios grandes e empinados. Cabelo preto. Cinturinha fina. Rosto de traços suaves e firmes. Olhar envolvente. Com tantos atributos assim, essa ítalo-tunisiana virou musa, sex symbol, estrela de Hollywood adotando o nome artístico de Claudia Cardinale.

Pelas mãos, ousadia e os sonhos do colonizador Ênio Pipino, Claudia Cardinale está para sempre no Nortão. Pena que ela não saiba disso.

Cláudia Neuza foi quem primeiro nasceu em Cláudia
Cláudia Neuza foi quem primeiro nasceu em Cláudia

Divisor das águas dos rios Xingu e Teles Pires, 15 horas do sábado 11 de agosto de 1979. Na clareira aberta pelo colonizador Ênio Pipino para a implantação daquela que seria a cidade de Cláudia, nasce sem médico e sem parteira o primeiro bebê da região: Cláudia Neuza da Silva, filha do casal Maria Aparecida e Leonardo Ortolani.

Foi um parto sem médico e sem parteira. Forte, dona Maria Aparecida se virou como pode com a ajuda da vizinhança. O nome Cláudia é agradecimento dos pais a cidade homônima que ajudaram a construir nos confins da Amazônia Mato-grossense.

Os Ortolani, pais de Cláudia, trocaram Diamante do Norte, no Paraná, pelo sonho da colonização da Amazônia. Não se arrependem do que fizeram nos anos 1970, quando deixaram uma região com boa infraestrutura e passaram a viver numa área caracterizada pelo isolamento, com alta incidência de malária e infestada por mosquitos.

Cláudia orgulha-se de sua cidadania. É personalidade em seu município e sempre ouve de pioneiros que nos primórdios da colonização corretores e moradores diziam aos interessados em imóveis na então vila, que ali nascera um bebê com o nome do lugar. “Essa citação mexia com o inconsciente daquelas pessoas e acho que contribuiu para que alguns mudassem para cá”, avalia Cláudia.

Casada com Nivaldo Ferreira da Silva e mãe de Eduarda, Henrique e João Vitor Ferreira da Silva, Cláudia vive na cidade onde nasceu e da qual herdou o nome.

 

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Divulgação

2 – Álbum de família

PS – Trecho extraído do capítulo dedicado a Cláudia, no livro NORTÃO BR-163: 46 ANOS DEPOIS publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade sem apoio das leis de incentivos culturais

 

Sarita Baracat conquistou espaço feminino no universo político

“Leite de cabra é vida”. Com essa frase solta ela interrompe a explicação que fazia para mostrar como desmontou o preconceito masculino que teimava em não aceitar mulher disputando cargo eletivo. Com a voz rouca e mansa, criando um círculo imaginário ao qual contornava com o indicador esquerdo, no sentido anti-horário, acrescentou “todos os dias saía de minha casa em Várzea Grande para assistir aula no Liceu Cuiabano, em Cuiabá. Não havia transporte. Fazia a caminhada a pé, nos dois sentidos. Antes de botar os sapatos no caminho tomava uma caneca reforçada de leite de cabra, ora puro ora com café ou raspa de rapadura”. Ela acreditava que aquele costume matinal lhe deu força suficiente para levar uma vida saudável, que somente terminou na noite da segunda-feira, 9 de outubro de 2017, quando aos 86 anos, em sua casa, fechou os olhos pela última vez.

Foi figura conhecida pelos várzea-grandenses, inclusive os recém-chegados. Todos a chamavam de Professora. Ninguém estava errado. Afinal, dentro e fora das salas de aula o que mais fez foi dar lições de humanismo, apontar caminhos, elevar a voz em defesa de sua gente.

Menina rica, optou pela militância política ao invés de seguir a quase totalidade das moças de sua época, que ficavam na janela sonhando com o príncipe encantado. Seu pai, o empresário sírio Miguel Baracat, e sua mãe, Warda Zain Baracat, também daquele país, viveram um romance em Buenos Aires, onde se refugiaram dos conflitos que começaram com os primeiros habitantes da Síria e que nem Deus sabe quando terminarão. Um navio de passageiros trouxe os Baracat da Argentina para o Brasil, mais precisamente para Várzea Grande, onde seo Miguel montou a primeira padaria industrial do lugar.

A terra foi generosa com os Baracat, que ganharam muito dinheiro, mas a fortuna maior viria ano após ano com uma escadinha de oito filhos do casal, incluindo ela, que chorou pela primeira vez em 29 de dezembro de 1930, nos braços de uma parteira.

Seo Miguel era linha dura. Bem ao estilo sirio, não permitia que ela tivesse a liberdade dos meninos de sua época. Mas, passa tempo e mais tempo e a menina vira normalista, chega aos 20 anos, ganha asas. Militante da União Democrática Nacional (UDN), foi nomeada Tesoureira da prefeitura de sua cidade pelo prefeito e correligionário Gonçalo Botelho. Morena bonita, cabelos encaracolados, desinibida, sorriso envolvente, a tesoureira caia na graça popular.

Da Tesouraria para a Câmara Municipal foi um pulo. Primeira vereadora de seu município ela recebeu a maior votação para o cargo, apesar da resistência machista. Daí foi para a prefeitura na condição de prefeita, a primeira do lugar e uma das pioneiras no cargo em Mato Grosso. A Assembleia Legislativa estava logo ali. Recebeu votos em vários municípios, mas foi o povo de sua terra que a elegeu deputada estadual. Como nos idos da escola voltou a cruzar o rio Cuiabá de segunda a sexta, nos dois sentidos. Só que não mais como antes, mas ocupando um possante importado. Deputada preparada para o embate político, carregava em sua bagagem os diplomas de professora e advogada. Hábil oradora, prendia a atenção do plenário e desencorajava apartes de seus pares.

Em meio à correria política ela encontrou tempo para o amor. Subiu ao altar e se entregou ao noivo Emanuel Benedito de Arruda, o Caboclinho, que presidiu a Câmara de sua cidade.

Os Baracat tiveram dois filhos: Fernando Baracat, que é um dos maiores colunistas sociais de Mato Grosso; e Ernandy Maurício Baracat de Arruda, o Nico Baracat, que foi vice-prefeito de seu município, deputado estadual, chefe do Gabinete do governador Silval Barbosa e secretário de Estado de Cidades; Nico morreu em 16 de junho de 2012, aos 52 anos, num acidente na BR-163, no município de Diamantino. O neto do casal, Kalil Baracat, foi vereador por Várzea Grande e exerceu o cargo de secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Turismo.

Tempo também teve para se entregar de coração ao Clube Esportivo Operário Várzea-grandense (CEOV), que era uma das paixões de sua família. Essa entrega começou quando participou de sua fundação e foi reforçada ao receber a faixa de Primeira Rainha do CEOV.

Ativa, participou das grandes decisões políticas de seu tempo. Teve destacado papel na incorporação do PP pelo PMDB. Exerceu funções públicas relevantes nas esferas estadual e federal.

Seu adeus foi mais um capítulo da sucessão humana. Fica o vazio e seus exemplos que devem ser seguidos por quem escolhe o caminho da vida pública. Descanse em paz Professora Sarita Baracat de Arruda. Sua luta foi importante para a conquista de espaço feminino na política em Mato Grosso.

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTO: Dinalte Miranda

 

Jorilda Sabino, a Cinderela Negra

Quem é ela? Perguntavam os jornalistas que cobriam a Corrida de São Silvestre em 1986. Ninguém sabia de quem se tratava, mas as redações agiram rápido. No dia seguinte as manchetes dos jornais do eixo Rio-São Paulo revelavam que se tratava de Jorilda Sabino, representante de Cuiabá e abriam espaço à Cinderela Negra, medalha de prata naquela prova que é a maior corrida de rua da América Latina.

Cinderela Negra foi o apelido dado à Jorilda Sabino (nesta foto recebendo premiação do então prefeito de Cuiabá, coronel José Meirelles), a representante oficial de Mato Grosso na São Silvestre de 1986. “Cinderela” foi a melhor fórmula encontrada pelos jornalistas para qualificarem a maratonista negra mato-grossense, que certa feita, em Cuiabá, disputou uma corrida descalça.

Jorilda ganhou a medalha de ouro na primeira Corrida de Reis, promovida pela Televisão Centro América em 1985, correndo descalço, o que lhe rendeu o apelido de Cinderela Descalça. Em 1986, 87 e 88 Jorilda repetiu o feito em Cuiabá e esteve no lugar mais alto do pódio.

Mato Grosso ficou pequeno para seu pique e a campeã ganhou o mundo disputando provas na Venezuela, Chile, Japão e Coreia do Sul. A prata na São Silvestre foi o maior feito do atletismo mato-grossense. Paranaense de Umuarama, Jorilda teve infância pobre no bairro Pedregal em Cuiabá. Sua carreira de atleta durou 15 anos.

Em 1996 uma tendinite a retirou das provas. Casada, com duas filhas, a campeã mudou-se para Corumbá, Mato Grosso do Sul.

Jorilda Sabino escreveu a mais importante prova do atletismo mato-grossense. Saiu das ruas. Entrou para a história. Virou lenda viva.

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTO: Arquivo

 

Irmã Adelis, Anjo de luz

Os motores dos tratores ainda fumegavam após a abertura da clareira para fundar Vera, no Nortão, quando Irmã Adelis ali chegou em 1972 pelas mãos do colonizador da região, Ênio Pipino.

Ali, Irmã Adelis iniciou a ímpar trajetória humanitária no Nortão cuidando de doentes, onde a malária e as balas das armas de fogo matavam implacavelmente a ponto de surgir a máxima popular, “aqui se morre de bala ou malária, ou ainda de balária”.

Adelheid Helena Schwaenen era o nome civil dessa religiosa alemã da Ordem Missionária do Santo Nome de Maria. Em 1985, mudou-se para Matupá, também no Nortão, onde fundou o Hospital da Malária.

Irmã Adelis foi bálsamo, consolo e enfermeira de milhares de garimpeiros e dos moradores do Nortão vítimas da malária, a doença tropical transmitida pela fêmea do mosquito anofelino.

Enferma e muito debilitada, Irmã Adelis foi para Maringá no Paraná.

Fechou os olhos em 24 de fevereiro de 1998.

Na terra Irmã Adelis foi anjo de luz. Ao fechar os olhos virou estrela. Brilha no céu.

 

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes – também foto

 

Bruna Viola, nossa Flor Mato-grossense

Bruna personifica a beleza da mulher mato-grossense
Bruna personifica a beleza da mulher mato-grossense

 

Cuiabana da gema ou de tchapa eh cruix,como se diz na cidade de Moreira Cabral, Bruna Villas Bôas Kamphorst ganhou os palcos e os corações de seus fãs com o nome artístico de Bruna Viola.

Cantora de mão cheia, ela agora entrou definitivamente no plano internacional. Las Vegas ficou aos seus pés, reverente, para vê-la receber o Grammy Latino categoria Melhor Álbum de Músicas Raízes do Brasil, com o seu “Melodias do Sertão”.A premiação, em 2017, pela primeira vez deu destaque internacional a uma voz mato-grossense. A obra tem 14 faixas, cada uma mais sertaneja do que a outra, com destaque para “Flor Mato-grossense”, que ela compôs e canta como se estivesse diante de um espelho falando com seu coração, seus sonhos e desejos.

 

“Sou uma flor desabrochando, estou aprendendo agora /

Que o orvalho vai secando quando vem rompendo a aurora /

Aprendi que pra casar, primeiro a gente namora /

Sou nova pra namorar, gosto é de tocar viola /

Educação vem de berço, também se aprende na escola /

Sou uma flor mato-grossense, meu nome é Bruna Viola /

Sou adolescente ainda, mas aprendi com meus pais /

Que pra se vencer na vida temos que correr atrás /

Nunca atropelar ninguém, a hora a gente é que faz /

Andar com honestidade pra alcançar os ideais /

Acreditar sempre em Deus que logo a gente decola /

Sou uma flor mato-grossense, meu nome é Bruna Viola /…

 

 

É ELA

 

Bruna não valoriza a Bandeira de Mato Grosso
Bruna não valoriza a Bandeira de Mato Grosso

Menina linda, charmosa, civilizada, educada, que não perde a humildade para o nariz arrebitado que costuma ser marca registrada de famosos, Bruna Viola é orgulho da nossa terra, é o Grammy Latino de 3 milhões e 300 mil mato-grossenses; é nossa voz ecoando mundo afora.

Apaixonada por sua terra a ganhadora do Grammy Latino tem em sua inseparável viola um adesivo com a Bandeira de Mato Grosso, que também está cravado em seu coração.

Pena que Mato Grosso prevaleça a máxima “Santo de casa não faz milagres”.

Bruna Viola é a grande ausência nos shows promovidos pelo governo estadual e a Assembleia Legislativa; neles, não há lugar para ela, que também não tem espaço junto ao prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, na programação dos festejos do tricentenário da capital mato-grossense.

Canta Bruna Viola!

Canta menina bonita de Mato Grosso.

FOTOS:
1 – Instagram Bruna Viola
2 – Agência Brasil em arquivo

 

Dona Zizi é uma das referências rondonopolitanas

Dona Zizi guarda segredo sobre o famoso molho de sua pastelaria
Dona Zizi e o segredo do famoso molho de sua pastelaria

Não adianta procurar pela dona Idalina Alves Pereira. Em Rondonópolis ninguém a conhece pelo nome e sobrenome. Porém, se alguém perguntar pela dona Zizi da pastelaria, os 228.857 moradores e até as pedras saberão de quem se trata. Afinal, ela faz o mais famoso molho e o mais apreciado pastel em Rondonópolis, a única cidade à margem do rio Poguba, dos bororos, que nós chamamos de Vermelho.

Dupla perfeita: pastel e molho
Dupla perfeita: pastel e molho

Dona Zizi além de pasteleira famosa e de mão cheia, é pioneira em Rondonópolis, onde chegou no alvorecer de 1955, portanto há 60 anos, tão logo deixou a Boa Terra. A cidade ensaiava seus passos iniciais e sua população era predominantemente oriunda da Bahia. Até o primeiro prefeito do município, Rosalvo Fernandes Farias – nomeado para o cargo – era seu coestaduano. Em 31 de janeiro daquele ano Rosalvo transmitiu a prefeitura para o primeiro prefeito eleito,Daniel Martins de Moura.

Prendada e cozinheira famosa por seus pratos e temperos, a jovem baiana que a cada dia mais e mais assumia seu lado rondonopolitano, decidiu montar um negócio para garantir seu sustento. Isso, há 40 anos.

Foi assim que surgiu a banca de pastel da Zizi, na Praça dos Carreiros, na região central, entre as avenidas Amazonas e Marechal Rondon, e as ruas Dom Pedro II e Barão do Rio Branco, onde todos os sábados havia uma feira-livre. A área não era urbanizada. Cada feirante se virava como podia enfrentando chuva, sol, poeira e barro. A feira, espremida num canto, dividia espaço com um ponto de caminhões de frete e outro de táxi. Esporadicamente o lugar ficava ainda mais apertado para as barracas, porque ali eram armados os circos e parques de diversão com suas tendas coloridas.

Em 1980 a Praça dos Carreiros foi urbanizada e sua feira-livre transferida para o bairro Vila Aurora, no local onde ainda se encontra. A banca da Zizi acompanhou a mudança, mas ganhou status de empresa: Pastelaria da Zizi. Num segundo passo, acompanhando o modismo, o empreendimento foi rebatizado: Pastelaria da Tia Zizi.

A Pastelaria da Tia Zizi ocupa um galpão ao lado de outras, próximo ao alambrado que a isola da calçada na Rua Barão do Rio Branco, e funciona às sextas-feiras, dia de realização da feira-livre de Vila Aurora. Sua pastelaria, porém, é diferenciada por ser ponto de encontro das famílias de pioneiros e antigos moradores da cidade; mas além dessa freguesia fiel, entre suas mesas ao ar livre se reúnem novos rondonopolitanos, que chegaram à cidade atraídos por seu boom econômico e sua fama de lugar bom indicado para se viver bem e ganhar dinheiro, e as novas gerações ali nascidas.

O endereço do pastel em Rondonópolis
O endereço do pastel em Rondonópolis

A pastelaria não tem cardápio variado. É o trivial: pastel com molho e, para quem pedir, suco de laranja, refrigerante e coxinha. Sua movimentação é intensa, por duas razões e nenhuma tem prevalência: seu pioneirismo, o que consolida freguesia antiga, e a crocância do pastel e o molho sem igual, cuja receita é mantida a sete chaves por dona Zizi e o reduzido número de antigas funcionárias que literalmente botam a mão na massa para sua feitura e fritura.

Pastel frito na hora tem para todos os gostos: carne, palmito, carne com palmito, queijo, queijo e presunto etc. O molho é comum a todos. Servido em copo plástico descartável, é fácil identificar a presença do tomate, da cebola branca, da cebolinha verde, mas é impossível se saber o quê do caldo agridoce que lhe rende fama.

PERSONAGEM – Dona Zizi fala pouco e em voz baixa. Ouve com atenção e não tem pressa para responder. Pergunto quantos pastéis ela avalia ter vendido nas 2.500 feiras – durante alguns anos a feira de Vila Aurora funcionava às sextas e sábados – ao longo dos 40 anos de sua atividade. Serena, com a mão esquerda sobre o rosto, como se o quisesse segurar, responde com naturalidade: “é coisa pra lá de um milhão”.

Sorrio. Agradeço e saio, não antes de manter o velho costume de comer dois pastéis com o danado do irresistível molho agridoce. Penso com meus botões: uma cidade superlativa até na movimentação de uma pastelaria de feira realmente é diferente, a começar por sua gente, a exemplo de dona Idalina Alves Pereira, quer dizer, dona Zizi, porque seu nome de batismo e registro ficou no passado, na Boa Terra, que um dia ela deixou para ajudar a construir uma cidade diferenciada, viciada em crescimento, que esbanja desenvolvimento e está sempre de nariz empinado, no solo vermelho do cerrado à margem do rio Poguba, que desce o planalto e se junta ao São Lourenço numa região que todos chamam de Pantanal.

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS: blogdoeduardogomes

 

 

Irmã Luiza escreveu uma bela página do cristianismo

Em Rondonópolis ninguém pedia com tanta convicção quanto ela. Ninguém pedia com tanta razão quanto ela. Ninguém sabia tanto quanto ela porque estava pedindo. Ninguém recebia tanto ao pedir quanto ela. Afinal, Irmã Luiza cuidava e bem de mães e filhos retirados das ruas, de mães solteiras ou em risco, de doentes, de quem precisava da mão estendida do irmão.

Figura quase onipresente em empresas em Rondonópolis, Irmã Luiza rotineiramente visitava os empresários que a ajudavam na manutenção do “Recanto fraterno”, a casa que acolhe necessitados de amparo, remédios ou de um simples alojamento enquanto aguardam tratamento médico de parentes na cidade.

No centro da cidade Irmã Luiza caminhava pelas calçadas. Em sua bolsa levava balas de gengibre, que fazia para reforçar o orçamento do Recanto fraterno. Boa vendedora, não perdia a oportunidade do cumprimento, para oferecer esse produto artesanal.

Irmã Luiza nasceu em Pirajuí, interior paulista e se chamava Luiza de Souza. Em 1950, na cidade de Lins (SP) optou pela vida religiosa. Entrou para a Congregação Filhas de Maria Auxiliadora (Salesianas). Seis anos depois, em Campo Grande (MS), fez a chamada profissão de fé passando a vestir o hábito religioso.

Os primeiros passos de Irmã Luiza na vida religiosa que abraçou foram na reserva Merure, em Barra do Garças, em 1956, com os bororos – e a partir de 1957, também com os xavantes, que foram removidos para aquela área – e ali permaneceu até 1962. Naquele ano foi transferida para a reserva Sangradouro/Volta Grande, perto de Merure, onde trabalhou até 1964.
Em 1964, Irmã Luiza trocou Sangradouro/Volta Grande pelo Colégio São Gonçalo, em Cuiabá. Em 1971 retornou para Sangradouro, onde permaneceu até 1984.

Em 1984, transferiu-se para o Instituto Pedagógico São Vicente, em Campo Grande. No ano seguinte foi remanejada para o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, naquela cidade, e ali permaneceu até 1987, quando foi transferida para Rondonópolis.

Transferida de Rondonópolis em 2000, para Vale do Paraíso, em Rondônia, Irmã Luiza contraiu malária, mas ali permaneceu até maio de 2005, quando retornou para Rondonópolis. No ano seguinte trabalhou no Externato São José, em Poxoréu.

Em 2007 Irmã Luiza novamente voltou a trabalhar em Rondonópolis. Dividia o tempo entre o Educandário Santo Antônio, na Paróquia Bom Pastor, e o Recanto fraterno, onde além de assistir aos milhares que passam por aquela instituição de atendimento transitório, os ensinava fazer tricô, bordados, tapetes, almofadas e uma série de outras atividades. “A melhor maneira de ajudar alguém é ensiná-lo a trabalhar para que ganhe dinheiro”, disse certa vez ao entrevista-la.

O Recanto fraterno nasceu numa casa alugada, no centro de Rondonópolis, e funcionou naquela instalação enquanto sua sede era construída.

Irmã Luzia conseguiu ajuda financeira da instituição alemã Mizereor para construir o Recanto fraterno, que foi concluído em 1994, originariamente com capacidade para atender 50 pessoas, mas esse número rotineiramente é extrapolado.

Regularmente a instituição recebe subvenção da prefeitura, e ocasionalmente, da União e Governo de Mato Grosso. Atende encaminhados pelo Conselho Tutelar, Delegacia de Defesa da Mulher, hospitais Paulo de Tarso e Regional e outros órgãos e entidades.

Em Rondonópolis Irmã Luiza também dirigiu a Pastoral da Criança, onde ganhou notoriedade pelo combate à subnutrição infantil. Mobilizou a cidade, criou formas alternativas de alimentação e suplementação alimentar para milhares de meninos e meninas que estavam condenados à fome e suas consequências.

Em meio às múltiplas atividades e em razão delas, Irmã Luiza foi eleita pelo Jornal A Tribuna, de Rondonópolis, Personalidade Feminina do Ano em 1992. Essa premiação é concedida anualmente desde 1983 e; juntamente com ela, o então deputado federal Wellington Fagundes foi escolhido Personalidade Masculina.

Em junho de 2011 Irmã Luiza sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), foi socorrida em Rondonópolis encaminhada para Cuiabá. Não se recuperou totalmente e permaneceu acamada até 21 de março de 2013, quando fechou os olhos para sempre numa unidade de terapia intensiva do Hospital Jardim Cuiabá. Assim aos 81 anos, partiu para junto de Jesus Cristo. Seu corpo foi velado na Inspetoria Nossa Senhora da Paz, no bairro Coxipó, em Cuiabá e sepultado no cemitério daquele bairro.

Irmã Luiza escreveu uma bela página do verdadeiro cristianismo.

Eduardo Gomes com foto do mesmo em arquivo

 

 

Deusa das quadras

Ana Tiemi com a Amarelinha
Ana Tiemi com a Amarelinha

Dona Tila fazia das tripas coração para manter a casa limpa, mas a poeira vermelha não dava trégua naquele vilarejo num canto perdido do município de Diamantino, à beira da quase deserta Rodovia Cuiabá-Santarém, onde a malária era companhia constante, em meados dos anos 1980.

O lugar onde dona Tila vivia não tinha nenhuma estrutura, mas seus moradores sonhavam com o amanhã coletivo melhor. Uns cultivavam, outros abriam estabelecimentos comerciais, outros prestavam serviço. Cada um se virava como podia. O tempo passou e a vila cedeu lugar a uma linda cidade sede de um dos principais municípios agrícolas do Brasil, Nova Mutum.

O sonho coletivo em Mutum não tinha espaço para o esporte, principalmente para o vôlei, que exige quadra, treinamento diferenciado e até mesmo altura compatível com os atletas. No entanto, foi na área esportiva que a antiga vila conseguiu seu maior feito.

De sua seleção feminina de vôlei, Mutum mandou para o mundo a genialidade da levantadora Ana Tiemi, filha de dona Tila e orgulho da cidade.

Ana Tiemi Takagui é a cara de Nova Mutum. Nova, ousada, bonita, vencedora, respeitada e admirada. Sua mãe, Cleneci Onghero Takagui ou simplesmente dona Tila, é catarinense; o pai Toshio Takagui, é nissei paulistano. Em épocas diferentes trocaram seus estados de origem por Nobres, cidade no ponto equidistante de Cuiabá a Nova Mutum, e ali se casaram.

Ana Tiemi no Nantes
Ana Tiemi no Nantes

Em 1985, o casal Takagui deixou Nobres por Nova Mutum, onde nem a poeira nem a malária impediram que dona Tila e Toshio gerassem aquela que mais tarde seria a maior estrela do vôlei de Mato Grosso e uma das principais do Brasil. Quando a menina nasceu não havia maternidade em Nova Mutum e a saída foi um hospital na cidade onde os pais se conheceram e se casaram.

A poeira cedeu lugar ao asfalto. A cidade ganhou qualidade de vida e o casal Takagui criou seus filhos em paz. Ana Tiemi alcançou a idade escolar e foi matriculada na Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade, onde conheceu e se apaixonou pelo vôlei.

A mãe de Ana Tiemi continua em Nova Mutum com parte da família. Desde 2005 o pai, Toshio, é um rosto a mais na multidão dos dekasseguis que fizeram o caminho inverso de seus ancestrais, e igual a eles, foi em busca do sonho da realização profissional que tanto pode estar de um como do outro lado do mundo.

Jogando pela Seleção de Vôlei de Nova Mutum, o talento de Ana Tiemi despertou o interesse do Colégio Afirmativo, em Cuiabá, que a levou para sua equipe. Daí, os passos seguintes foram em direção a uma certa camiseta amarela respeitada no mundo inteiro.

Pela Seleção Brasileira Infanto-Juvenil, na Venezuela, faturou duas importantes conquistas: o Sul-Americano e o título de melhor levantadora. Sua trajetória a levou à Seleção Juvenil e à medalha de ouro no Mundial da Turquia.

Incorrigível ganhadora de medalhas e títulos, Ana Tiemi botou na galeria de suas conquistas o Grand Prix, disputado no Japão, que deu ao Brasil seu octacampeonato nessa competição.

Nova Mutum. Cuiabá. Mato Grosso. Minas Tênis. Osasco/Nestlé. Brasil Turquia, França, Bauru, França novamente, Hungria, pelas quadras mundo aforaO planeta é pequeno para Ana Tiemi, a musa morena nipo-brasileira que é pedra angular na Seleção Brasileira de Vôlei.

Da Redação

FOTOS:

1 – CBV

2 – Nantes

 

Railda é exemplo para a mulher mato-grossense

Railda do Afonso Leiteiro, não. Prefeita Railda de Fátima Alves. Afinal, ela venceu a disputa pela prefeitura no ano passado e administra o município de Nova Nazaré.

Logo após a instalação do município de Nova Nazaré, em 2001, Railda mudou-se para aquela cidade acompanhando o marido Adercino Xavier de Carvalho e levando a filha Rayça no colo. Trocou Goiás, onde nasceu, pela aventura no Vale do Araguaia, em busca de dias melhores.

A viagem foi penosa na estrada empoeirada. A velha camionete Chevrolet C-10 movida a GLP – o gás de cozinha – levou o casal e a filha para o lugar que mais tarde os adotaria definitivamente.

Adercino é nome complicado. Daí o marido de Railda virou Afonso e mais tarde Afonso Leiteiro, graças a um lance de sorte. Quando a família chegou com a mudança, o Laticínio Xavante se instalava em Nova Nazaré e precisava contratar camionetes para puxar leite. Para não criar atrito, relacionou os interessados no transporte e sorteou alguns nomes. Afonso foi um deles.

O casal não tinha com quem deixar Rayça e a levava na C-10 estrada afora, na linha de leite. Railda dirigia. A filha era mantida numa improvisada cama no assoalho diante do banco do passageiro.

Afonso recebia e desembarcava os latões na plataforma. Railda passou sete anos na estrada, ao lado dele, sempre feliz e solidária. A princípio a filha era a única companhia constante dos pais. Mais tarde nasceu Filipe, que passou a dividir o espaço na cabine com a irmã.

“Quem é aquela morena candidata a vereadora?”, perguntavam os novatos do lugar. “É Railda do Afonso Leiteiro”, respondia a cidade. Com esse registro na Justiça Eleitoral elegeu-se vereadora pelo PPS em 2004, com 139 votos – campeã das urnas. Da Câmara para a Prefeitura foi um pulo. Railda venceu a eleição com 707 votos, pelo PPS.

Mulher obstinada e guerreira, Railda luta pelo município. É uma mistura de mãe e líder política de sua comunidade. É também um dos símbolos das mulheres que na força do trabalho escrevem a página das transformações sociais mato-grossenses.

O texto acima, escrito em 2009, conta parte da trajetória de Railda, que em 2012, pelo PSD reelegeu-se com 880 votos – poucas mulheres conseguiram a façanha da reeleição para prefeitura em Mato Grosso.

A política não isolou Railda da realidade feminina, onde mulheres mundo afora lutam em todas as frentes possível em busca de espaço, de igualdade. A goiana que escolheu Nova Nazaré para viver não perde a simplicidade da leiteira ao volante, mesmo após três vitórias eleitorais consecutivas e de conquistar diploma de Pedagoga, com pós-graduação. Uma vencedora.

Não pensem que administrar um município pequeno igual a Nova Nazaré, hoje com 3.765 habitantes seja fácil. A prefeitura com orçamento reduzido, com receita de tributos municipais quase zero, o que a faz dependente dos repasses da União e Estado. A população engessada pelo turismo de saúde para atendimento de média e alta complexidade no Hospital Regional Paulo Alemão, na vizinha Água Boa, que é sede de sua comarca. A cidade distante dos grandes centros. O mosaico fundiário permeado por assentamentos da reforma agrária, que aguardam por emancipação; e com boa parte da zona rural sem regularização fundiária. Foi nesse cenário que Railda administrou por oito anos.

Quando se critica a classe política – realmente muito desgastada – é preciso que se faça as devidas ressalvas. Nos meios políticos num ponto perdido no Vale do Araguaia existe uma mulher de fibra, corajosa, trabalhadora e dedicada, que um dia deixou o volante de uma camionete que transportava leite para laticínio, subiu ao palanque, colecionou eleições e mostrou o caminho da cidadania e do desenvolvimento aos seus concidadãos na localidade que no passado era chamada de Borecaia.

NOVA NAZARÉ – Em 1984 os agricultores Paulo Sereno e Geraldo Vicente Faria chegaram ao rio Borecaia, área que pertencia a Água Boa. Na sequência outros em busca de terra para plantar e viver em paz iniciaram o cultivo de lavouras de subsistência. Assim, para suporte da comunidade rural nasceu a vila de Borecaia, que é o nome do rio mais próximo – na calha do rio das Mortes da Bacia do Araguaia.

O fluxo migratório fez Borecaia ganhar ares de vila e a igreja católica enviou a Irmã Vita, para evangelizar aquela comunidade. Elétrica, versátil, a religiosa passou a liderar a população e foi quem escolheu o nome Nova Nazaré, para substituir a denominação anterior, por acreditar que o espírito pacato da população lhe dava áreas de Nazaré, a cidade bíblica. Irmã Vita é o nome missionário adotado por Catharina Bubniak.

Prefeitura e Câmara de Nova Nazaré se instalaram em janeiro de 2001. O primeiro prefeito foi o pecuarista mineiro, adventista, José Marques de Queiróz, que não está mais entre nós.

Estudos apontam que Nova Nazaré será o porto mais ao Norte da Hidrovia Mortes-Araguaia, quando a mesma passar a ser explorada pela navegação comercial.

O município de Nova Nazaré tem grandes reservas indígenas da etnia Xavante. A rodovia MT-326, parcialmente pavimentada entre Água Boa e Cocalinho, divide a cidade ao meio. É a terra da guerreira Railda.

Eduardo Gomes de Andrade   

FOTO: Facebook Railda         

 

Dona Domingas, a mulher que enche Cuiabá de orgulho

Em Mato Grosso tudo é bom, mas o que vem do São Gonçalo Beira Rio é melhor. O bandeirante Moreira Cabral ali desembarcou em 1719, quando fundou Cuiabá. Em sua vida, dona Domingas Leonor da Silva chorou um vez: quando nasceu naquele lugar. São Gonçalo é o bairro onde as águas do rio Cuiabá passam reverentes rumo ao Pantanal. Comunidade onde todos se conhecem, onde as gerações familiares se sucedem, São Gonçalo tem uma estrela internacional. Uma figura polivalente, que é uma mistura de artesã e líder comunitária, de dançarina com incentivadora cultural. de mãe com mulher sedutora, de guerreira com pacificadora, de deusa do Siriri com madrinha do Cururu. É dona Domingas, o grande símbolo da Cuiabá dos 300 anos, mas se quiserem podem chamá-la pelo nome de sua maior criação o Grupo Flor Ribeirinha – o melhor do mundo. O Flor Ribeirinha é um grupo dançante, que divulga a cultura cuiabana, mas que também apresenta números com ritmos musicais de todas as regiões brasileiras.

“É campeão! É campeão! É campeão…”. Em 9 de agosto de 2017, debaixo de um sol escaldante, com esse grito, Cuiabá recebeu o Flor Ribeirinha, que desfilou pela cidade em caminhões dos Bombeiros comemorando a conquista do Festival Buyukçekmece de Cultura e Artes de Istambul, na Turquia, numa competição mundial encerrada no sábado, 5 de agosto daquele ano, que reuniu 27 países e na qual sagrou-se o Melhor do Mundo, segundo um respeitável júri internacional.

Dona Domingas vive além do pulsar de seu coração cuiabano. Coreia do Sul, França, Turquia, Peru, Paraguai, Itália, Rússia, Argentina, Suíça, China  e outros países se curvaram aos encantos e magia do Flor Ribeirinha. Brasília, São Paulo, Rio, Porto Alegre e muitas outras cidades brasileiras se encantaram com o grupo que é a cara e a alma de sua fundadora e figura central. Cuiabá não segue a máxima de que santo de casa não faz milagre. Ao contrário, a cidade que chega ao tricentenário se desmancha pelos ritmos, musicalidade e as cores do melhor grupo do mundo e que personifica o espírito de sua criadora, dona Domingas – a mulher que enche Cuiabá de orgulho.

 

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTO: Jana Pessôa

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