DIA DO AVIADOR – Data para Mato Grosso refletir

Imaginem um território com 903 mil quilômetros quadrados, que se fosse nação ocuparia o 33º lugar entre as maiores do mundo, e que essa área não conte com base aeronáutica para sua defesa militar e combate ao narcotráfico em seu espaço aéreo. Imaginem mais: que essa imensidão tenha 983 quilômetros de fronteira com uma nação que é uma das maiores produtoras mundiais de cocaína, e que essa extensão fronteiriça tenha 730 quilômetros em solo firme numa região que se caracteriza pelo vazio demográfico de ambos os lados (o restante da fronteira é fluvial). Imaginaram? Agora, respondam: que lugar é esse? Quem disser Mato Grosso acerta. Por isso, a data de 23 de outubro, dia da Força Aérea Brasileira (FAB), Dia da Aviação e Dia do Aviador deve ser de reflexão para as autoridades e a população mato-grossenses.
Mato Grosso não tem base aérea. Quando se faz necessário interceptar avião suspeito de voar para o narcotráfico na fronteira, aciona-se Campo Grande ou Porto Velho. Essa realidade é tratada com desdém pelo governo federal e não é cobrada com rigor pelo governo, a bancada federal e a Assembleia Legislativa. Sob todos os aspectos é inconcebível a ausência da FAB.
Promessas de construção de uma base aérea em Cáceres – a principal cidade da fronteira – não faltam. Um delas, foi do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, em 2008 – portanto há 10 anos -, naquela cidade, durante uma inspeção a uma operação militar na fronteira.
O Brasil não tem a responsabilidade que deveria ter sobre a segurança nas nossas fronteiras, especialmente em Mato Grosso.
Falta Força Aérea em Mato Grosso.

A Força Naval na fronteira mato-grossense tem presença simbólica, porque o rio Paraguai – principal meio de navegação na faixa de fronteira, não permite o emprego de navios de grande porte nem de submarinos; temos uma base naval em Ladário (MS), e rio acima, os marinheiros marcam presença com ações sociais, pois a modernização do poderio bélico torna obsoleto suas embarcações.
A Força Terrestre tem um batalhão em Cáceres, o 2º Batalhão de Fronteira do Exército, mas o patrulhamento da fronteira, antes feito pelos militares, inclusive com Destacamentos em Corixa, Santa Rita, Fortuna, Descalvado etc. foi terceirizado ao governo de Mato Grosso, que para tanto, em março de 2002 criou o Grupo Especial de Fronteira (Gefron). Lamentável, preocupante e até assustador é saber que até mesmo na faixa de 150 quilômetros da fronteira, o Exército abdique seu poder de polícia.
O Gefron, com sede em Porto Esperidião, é composto por oficiais e praças que se desdobram para o melhor cumprimento de suas atribuições, mas ainda assim, aquela instituição não consegue substituir os militares. É preciso observar que os narcotraficante se suas ‘mulas’ sabem onde mora o policial do Gefron, sabem qual é sua rua, sua quadra, o número de sua casa, seu bairro e cidade. Se a segurança fosse devolvida aos militares, a rotatividade com abrangência nacional não permitiria nenhum tipo de ameaça ou insinuação por parte do crime organizado, e não deixaria o militar temeroso quanto a essa possibilidade.
A situação se acomoda na fronteira porque o Estado quer recursos para sua força policial, e paralelamente a isso a União se sente tranquila e cômoda por não se vê na obrigação de intensificar a atuação dos militares, o que se agrava dia após dia desde a redemocratização, em razão da resistência de segmentos ao pessoal da caserna.
Patrulhamento e monitoramento de fronteira, mesmo em tempo de paz, é atribuição militar no mundo inteiro. No Brasil, sobretudo em Mato Grosso, não. É preciso que se tenham em conta que a América do Sul não é um paraíso da paz. Há várias divergências entre nações. Nossa vizinha Bolívia é traumatizada com guerras: foi vencida por Chile e Paraguai; perdeu o Acre para o Brasil e questiona passivamente territórios, inclusive a ilha de Guajará-Mirim, no rio Mamoré, que os bolivianos chamam de Isla Suárez – nenhum dos países explora comercialmente a ilha, mas os bolivianos instalaram uma unidade naval ao lado, na cidade de Guayaramerín,
Em resumo, é preciso refletir sobre a segurança na fronteira em Mato Grosso. Falta presença militar e se faz necessário fortalecer a Polícia Federal na área, pois é dela a atribuição de inteligência e a competência de polícia judiciária para os crimes transnacionais. De igual modo é imprescindível estruturar a Polícia Rodoviária Federal ao longo das rodovias da União que cruzam aquele território.
Pela data, devemos reverenciar a memória do mineiro Santos Dumont, que em 23 de outubro de 1906, voou pela primeira vez impulsionado por uma motor a gasolina. De igual modo e com fervor cívico temos que recordar e render homenagem aos feitos dos bravos pilotos militares brasileiros na Segunda Guerra Mundial – ao brado de Senta a pua! Ainda pela data temos que cobrar ao governo brasileiro a presença da FAB em Mato Grosso e a devolução do patrulhamento terrestre da nossa fronteira ao Exército.
Eduardo Gomes – é editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1- FAB
2 – Luiz Eduardo
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