Série TRANSPARÊNCIA (31) Perfil de Mauro Mendes
Mauro Mendes Ferreira, 54 anos, nascido em Anápolis (GO), engenheiro eletricista e empresário, casado, filiado ao Democratas, é candidato ao governo de Mato Grosso pela segunda vez e foi prefeito de Cuiabá.
O perfil de Mauro é o sexto postado pela Série TRANSPARÊNCIA, sobre a disputa majoritária.
Mauro está à frente da coligação “Pra mudar Mato Grosso“, formada por oito partidos: DEM, PDT de seu vice Otaviano Pivetta, MDB do cacique Carlos Bezerra, PSD do ex-vice-governador e candidato ao Senado Carlos Fávaro, PSC, PMB, PHS e PTC. Jayme Campos, ex-governador e ex-senador candidato ao Senado, é o principal nome do Democratas na aliança de Mauro.
SISTEMA S – A presidência do Sistema Federação das Indústrias (Fiemt) caiu no colo de Mauro em 2007 e ele continuou no cargo até 2012 na condição de um dos capitães do empresariado mato-grossense. Paralelamente a isso, por um período, foi vice-presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), numa das vice-presidências que a Avenida Paulista distribui pelos estados para afagar os delegados regionais que chancelam a eternização do alto empresariado na cúpula daquela entidade que é um dos dentes do Sistema S, que suga o Brasil.
PALANQUE – Em 2008 quando Blairo Maggi (PR) governava e sua administração tinha alto índice de aprovação, Mauro foi seu candidato a prefeito de Cuiabá numa dobradinha com a professora e ex-deputada estadual Verinha Araújo (PT). Essa chapa foi escolhida a dedo por Blairo, para mostrar a harmonia entre o alto empresariado e o proletariado, no caso representado pela professorinha candidata a vice-prefeita e, de quebra, para afagar Lula da Silva – que àquela época era considerado homem público-modelo. Blairo e seus candidatos deram com os burros n’água. Wilson Santos (PSDB), agora deputado estadual, com bens bloqueados, denunciado pelo Ministério Público por supostas improbidades administrativas, venceu o pleito em segundo turno com 175.038 votos (60,47%) e seu vice foi Chico Galindo (PTB). Mauro e Verinha ficaram em segundo com 114.432 votos (39,53%). Mauro era nome estranho ao cidadão do povo, muito embora fosse muito conhecido entre o empresariado, os barões da soja e os caciques políticos. No horário eleitoral prometia levar para a vida pública sua gestão empresarial dita de muito sucesso. Falou até em pagar 18º salário ao servidor público, a exemplo do que faria em sua empresa. Carlos Brito (PSD) candidato a prefeito com apoio do então poderoso deputado estadual José Riva, atacou Mauro num revide raivoso: Brito disse que ele (Mauro) realmente pagava, mas com dinheiro do povo, que recebia por meio de incentivos fiscais ilegais e imorais. Depois, Brito foi leal servidor do alto escalão do governo tucano de Pedro Taques, onde também se alojaram muitos ex-luas pretas de Riva e do ex-governador Silval Barbosa; Brito é candidato a deputado estadual pelo PSB.
A derrota não o desmotivou. Dois anos depois Mauro continuava no palanque, mas dessa vez correndo atrás de votos para o governo. Naquela eleição ele não tinha a bênção de Blairo, que se empenhava até o último pé de soja pela eleição de seu ex-vice-governador Silval Barbosa (PMDB), o que acabou acontecendo, em primeiro turno; Silval havia assumido o Palácio Paiaguás em março daquele ano, com a renúncia de Blairo para disputar e vencer a eleição ao Senado. Em primeiro turno, com 759.805 votos (51,21%) e com Chico Daltro (PP) de vice, Silval bateu Mauro (PSB) e seu vice Pivetta (PDT), que receberam 472.474 votos (31,85%); o terceiro colocado foi Wilson Santos (PSDB), com 245.527 votos (16,55%), que completava sua chapa com Dilceu Dal’Bosco (DEM). Marcos Magno com seu vice José Roberto formaram a chapa partidária do PSOL ao governo em 2010. O desempenho foi acanhado: 5.771 votos (0,39%). Detalhe: Mauro e Pivetta defenderam a candidatura de Pedro (PDT) ao Senado e a recíproca foi verdadeira.
Mesmo acumulando duas derrotas consecutivas Mauro continuou no palanque. Em 2012, pelo PSB, em segundo turno foi eleito prefeito de Cuiabá com 169.668 votos (54,65%); seu vice foi o republicano João Malheiros. A chapa derrotada foi encabeçada pelo petista Lúdio Cabral com Francisco Faiad (PMDB) de vice – 140.798 votos (45,35%).
Considerações sobre a eleição de 2008. João Malheiros, o vice de Mauro, era deputado estadual e não tomou posse. Malheiros alegou que permanecendo na Assembleia poderia ser mais útil a Cuiabá; nos bastidores, a versão é de fazer chorar até a madrinha de batismo de Malheiros. Com 5.824 votos João Emanuel (PSD) foi o vereador mais votado; pra se avaliar seu desempenho nas urnas: o segundo foi Adevair Cabral (PDT), com 4.354 votos. Detalhe: João Emanuel à época era genro de José Riva, que comandava a Assembleia e dava cartas no governo; com padrinho tão poderoso João Emanuel chegou à presidência da Câmara, mas chutou o balde de leite. Moral: sogro e genro foram condenados por improbidade e João Emanuel cumpre pena preso enquanto Riva recorre em liberdade. Arrematando 2012: Mauro recebeu a prefeitura de Chico Galindo, que a assumiu com a renúncia do titular Wilson Santos. Num efeito dominó, Galindo era deputado estadual, renunciou ao cargo para ser vice e sua cadeira foi ocupada pela suplente Vilma Moreira (PSB) – a primeira e até agora única deputada estadual negra em Mato Grosso.
PREFEITO – Mauro foi prefeito sem grandes obras. Seu ponto alto na administração foi a pavimentação de 500 quilômetros de ruas pelo programa Novos Caminhos. Prometeu que titularia os imóveis sem escritura, mas não cumpriu integralmente a promessa. Seus quatro anos na prefeitura foram marcados por uma crônica crise na Saúde Pública. Parte de sua gestão coincidiu com o período de obras para a Copa do Mundo de 2014, quando Cuiabá ganhou viadutos e trincheiras que melhoraram o trânsito urbano.
Mesmo enfrentando problemas orçamentários Mauro não enxugou a máquina administrativa preferindo manter em suas funções quase 18 mil servidores da prefeitura. Em setembro de 2016, faltando três meses para conlcuir o mandato, Mauro recebeu boa avaliação numa pesquisa do Ibope, que registrou sua administração com 68% de aprovação.
Em 2016 Mauro teve seu nome apontado para a reeleição, mas desistiu e manteve-se afastado da disputa.
O empresário
A empresa-âncora de Mauro era a Bimetal Indústria Metalúrgica, que em Cuiabá produzia torres de telefonia com mercado nacional e mundial. Não é fácil entender a Bimetal. A matéria-prima das torres saía das usinas em São Paulo e era trazida para Mato Grosso em carretas; aqui, transformada no produto final, era levada para a mesma São Paulo e conseguia vencer concorrentes paulistanas, sem que o elevado frete nos dois sentidos jogasse o preço nas nuvens. Era uma proeza e tanto, pois mercado empresarial não engole desafios da logística. Há quem diga que os incentivos fiscais criticados por Brito davam poder de competitividade ao produto Made in Cuiabá. À época das vacas gordas a Bimetal criava asas e vale observar que naquele período, na mesma capital do agronegócio, Mauro montou uma indústria para fabricar silos e não prosperou naquela atividade. Resumindo: Havia clientela para torres de comunicação, mas na terra da soja, do milho, do algodão e do arroz o empresário Mauro não conseguia um nicho sequer de mercado para os silos que fabricava. Fica a dúvida: o negócio improvável dava lucro e o negócio viável foi por águas abaixo.
Chegou 2017 com Mauro à frente de um diversificado grupo de empresas criadas a partir da Bimetal. Naquele ano a juíza Anglizey Solivan de Oliveira, da 1ª Vara Cível de Falências, Recuperação Judicial e Cartas Precatórias de Cuiabá, chancelou a recuperação judicial da Bimetal; da Bipar Investimentos e Participações; da Bipar Energia; e da Mavi Engenharia e Construções. Esse grupo de empresas é considerado de Mauro, mas na verdade ele tem sócios nos mesmos.
Assim, Mauro perdeu o rótulo do administrador exemplar. Esse fato criou o ambiente propício para que ele ficasse na linha de tiro dos ataques feitos por prepostos de caciques políticos. Esses ataques nascem do julgamento popular distorcido, que é crítico impiedoso do político que ‘quebra’, mas costuma ser complacente com as figuras poderosas da política que enriquecem ilicitamente.
Resumo: Mauro ficou sem o discurso empresarial. Imagino que ele pense que lhe resta discurso político, o que na verdade a soma de alguns fatos deixa claro que não há mais.
Sem analogia com a Planam, mas é preciso tomar por exemplo aquela empresa que foi a mãe do escândalo da Máfia das Ambulâncias, pra se entender o que acontecia com a Bimetal.
A Planam, empresa criada em Cuiabá no ano de 1993 pelo empresário Darci Vedoim conseguia a proeza de montar ambulâncias sobre chassis de camionetes e vendê-las para prefeituras do ABC Paulista, onde se instalou o maior parque automobilístico da América Latina. A força da Planam acabou em 2006 quando o Ministério Público Federal revelou que suas vendas, bancadas com recursos de emendas parlamentares federais, eram superfaturadas e o excedente dividido entre prefeitos e parlamentares. Essa descoberta levou a Polícia Federal a desencadear a Operação Sanguessuga. Mais de 75 prefeitos mato-grossenses e quase toda a bancada federal da época foram relacionados entre os corruptos que se beneficiaram daquele esquema, que teve a participação de boa parte do Congresso Nacional e de prefeituras de praticamente todos os estados.
O transporte de aço é gargalo para Mato Grosso. Em 2004 o governador Blairo Maggi anunciou que a Agco, que fabrica o Massey Farguson, montaria uma planta em Rondonópolis para fabricar um trator médio destinado ao Mercosul. Ouvi um diretor da Agco, mas ele com a devida cautela para não trombar com o governador e cliente Blairo, me disse que uma planta industrial para aquela cidade estaria descartada até a chegada da ferrovia (que aconteceu no final de 2012). Explicou que o transporte de bobina de aço por rodovia era proibido, por questão de segurança, e que mesmo se houvesse liberação, o frete inviabilizaria o preço do trator.
Resumo: No passado Planam e Bimetal viveram época de ouro. Depois ambas baixaram as portas e deixaram de atuar em setores atípicos para a economia mato-grossense.
O político
Não sei se Mauro é o político certo, mas tenho convicção que ele estava (e continua) no lugar errado e na hora imprópria.
Mauro era filiado ao PSB e sabia que se continuasse naquele partido seria engolido por Pedro. Não estava errado ao pensar assim. O deputado federal Valtenir Pereira, que controlava a sigla com mão de ferro foi defenestrado e o controle partidário foi assumido por Pedro, por meio do deputado estadual Max Russi, que foi integrante de seu secretariado. Diretamente Pedro não participa das jogadas para seu grupo assumir controle suprapartidário.
Com o PSB congestionado Mauro teria que procurar uma sigla e foi para o DEM. Antes dessa troca partidária ele viu seu amigo Percival Muniz ser destituído da presidência regional do PPS por uma jogada de bastidores de Pedro com o cacique nacional Roberto Freire. Marco Marrafon, então secretário de Educação do governo, assumiu o partido.
As manobras de Pedro para controlar o PPS e o PSB foram fulminantes. O PSDB para Mauro seria o mesmo que falar em corda na casa de enforcado. Carlos Bezerra é o MDB e pronto. Candidato a governador Wellington Fagundes dá as cartas no PR. Ezequiel Fonseca está à frente do PP e nenhum político em sã consciência teria coragem de planejar candidatura que passasse por decisão de Ezequiel. Os petistas de Ságuas Moraes bateriam a porta na cara de Mauro. Com o calendário apertando o cerco Mauro correu para o colo político de Jayme Campos no DEM – fugiu do diabo tucano e entrou num inferno tão ou quase satânico como aquele do qual se esquivou.
Contra Mauro há algo pior do que o Comitê da Maldade, de triste lembrança, conduzido por Antero Paes de Barros – que nessa eleição é seu marqueteiro. Mauro não é santo e também não há santidade do outro lado da crítica, mas como parte dos ataques aconteceu o vazamento de uma audiência marcada em 24 de maio para 11 de julho, na 3ª Vara da Justiça Federal, com o juiz César Augusto Bearsi, onde Mauro é réu numa ação por suposta improbidade na compra de uma mineradora em leilão judicial. Mesmo sob segredo de Justiça o caso ganhou as manchetes imediatamente após Bearsi marcar a data para o depoimento. Mauro jura inocência.
Nos meios jornalísticos circula a informação de bastidores dando conta da existência de um dossiê contra Mauro, onde ele entre outras coisas é acusado de envolvimento com Silval, por uma suposta sociedade que teria com o ex-governador. Conhecidas figuras que coabitam redes sociais defendendo Pedro estariam a postos à espera do sinal para o fuzilamento moral de Mauro – algumas dessas figuras ocupam cargos comissionados no governo Taques.
Ainda sobre Silval é interessante observar que antes do casório político de Pedro e Mauro, havia uma química política entre Silval e Mauro. Tanto havia, que em 2008, quando Mauro disputou pela primeira vez a prefeitura de Cuiabá, seu coordenador de campanha foi o então vice-governador Silval. Essa relação aparentemente ficou no passado. Nos últimos anos reinou um clima de lua de mel eleitoral entre Pedro e Mauro.
Siameses
Pedro só não joga pôquer porque não quer. Seu perfil é o do jogador que não move músculo da face diante do perigo nem do afago. Para azar de Mauro, Pedro vai muito além de conhecê-lo, pois os dois são praticamente siameses na esfera politica e dividiram o poder nos primeiros três anos do mandato de governador. Nos meios palacianos, antigos servidores às vésperas da aposentadoria costumavam criticar a dobradinha – antes que formalmente ela se desfizesse – deles: diziam em off que Pedro é dono do governo e Mauro seu sócio.
Não há como negar a condição siamesa deles, tanto pelas campanhas eleitorais em que estiveram juntos quanto pela quantidade de barnabés graúdos que Mauro mandou nomear no governo Pedro: Thiago França, Marioneide Angélica Klimaschewsk, Alan Porto, José Rodrigues Rocha Júnior, Suelme Evangelista, Guilherme Müller, Kleber Lima, Rogério Gallo, Beto Dois a Um etc. Alguns não estão mais na folha de pagamento dos servidores,
Siameses, erraram e acertaram. Agora, em palanques distintos, tentam passar ao eleitor a imagem de desafetos, quando na verdade são ‘inimigos’ fraternos, que atuam em duas frentes, porém com o mesmo objetivo: a continuidade no poder. Coincidentemente ou não o palanque de Mauro é formado basicamente por ex-apoiadores de Pedro, a começar por seu companheiro de chapa, Pivetta. Esse palanque tem ainda Carlos Fávaro, ex-vice-governador de Pedro e candidato ao Senado; Jayme Campos (DEM) que disputa vaga de senador; o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM); o deputado federal e presidente regional do Democratas, Fábio Garcia; o ex-prefeito de Rondonópolis, Percival Muniz; candidato a suplente de Jayme na chapa ao Senado; e outros políticos.
TÁTICA – O governador sabe que seu desempenho eleitoral fora da grande Cuiabá será catastrófico como consequência do vácuo de seu governo. Por isso, tenta se segurar na capital e Várzea Grande, onde teoricamente estaria sua força nas urnas. Coincidentemente o território onde Taques imagina reinar também seria a principal base de Mauro. Exorcizando o fantasma Mauro, Taques teria uma reserva estratégica de votos para enfrentar a oposição representada por Wellington Fagundes, que sonha chegar ao ao eixo Cuiabá-Várzea Grande com uma larga vantagem obtida em 139 municípios.
O vice
O empresário gaúcho Otaviano Olavo Pivetta é um dos maiores empresários do agronegócio nacional. Por três vezes foi prefeito de Lucas do Rio Verde, cumpriu mandato de deputado estadual e em parte do primeiro governo de Blairo Maggi (2003/06) foi secretário de Desenvolvimento Rural.
Em 2016 Pivetta tentou se reeleger prefeito, mas perdeu a eleição por 242 votos para Flori Binotti (PSD). Detalhe: na noite anterior ao pleito o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), por unanimidade, cassou o registro da candidatura de Pivetta e ele concorreu sub judice, o que pode ter influenciado na decisão do eleitorado. Imediatamente após o pleito, o mesmo TRE o absolveu.
No começo da década de 1990 a Cooperativa Mista Agropecuária de Lucas do Rio Verde (Cooperlucas) deu um rombo milionário no Banco do Brasil ao efetuar transações ilegais; o caso virou inquérito na Polícia Federal com 3 mil páginas, chegou à Justiça Federal e ninguém foi condenado.
Pivetta estava entre os suspeitos e investigados, juntamente com os deputados federais Carlos Bezerra e Jonas Pinheiro – já falecido – e outros empresários, políticos, advogados e funcionários do Banco do Brasil, mas nada se provou contra eles.
Pivetta também teve seu nome envolvido no escândalo da Máfia das Ambulâncias e foi indiciado à revelia pela Polícia Federal, por uma suposta compra superfaturada de ambulância para a prefeitura de Lucas. Ele nega.
COMPOSIÇÃO – A chapa Mauro e Pivetta reedita a disputa ao governo em 2010. Transcorridos oito anos a única mudança nessa composição é a filiação partidária de Mauro, que trocou o PSB pelo DEM.
Pivetta e Mauro são amigos, mas até julho ambos eram pré-candidatos ao governo. Porém, Pivetta cedeu e voltou a formar dobradinha com Mauro.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Dinalte Miranda/2016
2 – Eduardo Gomes/2010
3 – Divulgação/Arquivo
4 – Geraldo Tavares/2006
5 – Assessoria de Campanha/2018
6 – Gabinete de Comunicação do Governo/Arquivo
essa série é bem esclarecedora e o Mauro só vive em más companhias kkkkkkkkk