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Jovens em busca de voto hereditário: é a familiocracia

Pai ensina filho pescar votos
Pai ensina filho pescar votos

Familiocracia é uma tradição política, que como o próprio nome sugere passa de geração pra geração. Nas eleições deste ano, 10 familiocratas disputam mandato de deputado federal e estadual, e de suplente de senador por diferentes partidos. São homens e mulheres herdeiros do capital eleitoral de pais, avós e tios. Esse grupo é formado por Janaína Riva, Carlos Rafael, Toco Palma, Renata Viana, Fábio GarciaLeonardo de Oliveira, Vander Masson, Elias Galli, Emanuelzinho e  Wener Klesley dos Santos.

Janaína Greyce Riva (MDB) é advogada nascida em Juara e na eleição de 2014 elegeu-se deputada estadual pelo PSD com 48.171 votos ficando em segundo lugar na votação ao cargo, logo abaixo de Mauro Savi (DEM), que ora se encontra preso em Cuiabá acusado de chefiar uma organização criminosa que teria desviado mais de R$ 30 milhões do Detran. Janaína tenta a reeleição.

Janaína e José Riva
Janaína e José Riva

Janaína é filha de José Riva, político que durante 20 anos foi o deputado estadual mais influente em Mato Grosso e que sempre se reelegia com a maior votação ao cargo. Riva foi uma das figuras mais importantes na criação do PSD nacional. Durante muitos anos o pai de Janaína carregou a pecha de maior ficha suja do Brasil, incômodo título que perdeu para figurões que foram desmascarados pela Operação Lava Jato. Acumula penas em primeira instância por crimes de improbidade administrativa e em liberdade aguarda os julgamentos de suas ações por tribunal colegiado. Riva é réu confesso em algumas ações.

Sebastião Carlos e Carlos Rafael
Sebastião Carlos e Carlos Rafael

Em 2014 Riva não conseguiu registro de sua candidatura ao governo e lançou sua mulher, Janete Riva, que ficou em terceiro lugar com 144.440 votos (9,92%). Fora do poder Riva perdeu o controle do PSD, que foi assumido pelo então vice-governador Carlos Fávaro, que continua na sua presidência; sem o pai na direção partidária Janaína filiou-se ao MDB do cacique Carlos Bezerra.

Chapa parlamentar tucana: papai Saturnino, Nilson Leitão e Vander
Chapa parlamentar tucana: papai Saturnino, Nilson Leitão e Vander

Carlos Rafael Demian Gomes de Carvalho, advogado  e professor universitário cuiabano, é candidato a deputado estadual pelo PROS. Seu pai, Sebastião Carlos Gomes de Carvalho é candidato ao Senado pela Rede Sustentabilidade e foi vereador pelo antigo PMDB em Barra do Garças.

Sebastião Carlos é escritor, presidente licenciado da Academia Mato-grossense de Letras e integra outras academias e institutos históricos; é conferencista, advogado e servidor público aposentado da Assembleia Legislativa.

Papai Emanuel inspira Emanuelzinho
Papai Emanuel inspira Emanuelzinho

O empresário Vander Alberto Masson (PSDB), nascido em Nova Olímpia, é candidato a deputado federal.

Vander é filho do deputado estadual e candidato à reeleição, Saturnino Masson (PSDB). Pai e filho dobram com os tucanos Nilson Leitão ao Senado e Pedro Taques à reeleição para governador.

Pelo PSDB Vander disputou a prefeitura de Tangará da Serra em 2016 ficando em terceiro lugar com 12.446 votos. Fábio Junqueira (MDB) venceu o pleito com 18.063 votos e Reck Júnior (PSD) ficou em segundo com 14.590 votos.

Saturnino, o pai, foi vice-prefeito e prefeito duas vezes (uma eleito pela Câmara) de Tangará da Serra. Suplente de deputado federal. Cumpre o primeiro mandato na Assembleia e concorre à reeleição.

Renata com tio Zeca e Ciro Gomes
Renata com tio Zeca e Ciro Gomes

Manoel Antônio Garcia Palma, o Toco Palma ((PHS) é candidato a deputado estadual. Toco Palma, cuiabano, advogado, é filho de Rodrigues Palma (PR), suplente de senador de Blairo Maggi (PP), ora no exercício do cargo.

O pai de Toco Palma foi prefeito de Cuiabá indicado pelo sogro- o então governador biônico Garcia Neto -, deputado estadual e deputado federal. Garcia Neto também exerceu importantes cargos eletivos em Mato Grosso.

Toco Palma foi candidato a vereador por Cuiabá em 2004 pelo PTB e cravou 1.806 votos ficando numa distante suplência.

Dante era tio de Leonardo de Oliveira
Dante era tio de Leonardo de Oliveira

Também da linhagem do ex-governador Garcia Neto, seu neto Fábio Garcia (DEM) é deputado federal em primeiro mandato e candidato a primeiro suplente de senador do correligionário Jayme Campos; a candidata a segunda suplente é Cândida Farias (MDB), viúva do ex-governador Wilmar Peres de Farias.

Fábio Garcia preside o Democratas em Mato Grosso e seu pai é o empresário Robério Garcia.

Garcia Neto, avô de Toco Palma e Fábio Garcia
Garcia Neto, avô de Toco Palma e Fábio Garcia

Engenheiro civil e empresário cuiabano, Fábio Garcia foi secretário municipal em Cuiabá na gestão de Mauro Mendes (2013/16). Eleito deputado federal pelo PSB com 104.976 votos, Fábio Garcia desistiu da reeleição.

Renata do Carmo Viana Malacrida é advogada sul-mato-grossense de Mundo Novo e secretaria o PDT de Mato Grosso, que é presidido por seu tio e deputado estadual Zeca Viana.

Renata Viana é candidata a deputada federal em dobradinha pedetista com o tio Zeca Viana que busca o terceiro mandato consecutivo.

Zeca Viana iniciou sua carreira política em 2010 quando foi homologado em convenção primeiro suplente na chapa ao Senado de seu correligionário pedetista Pedro Taques, mas renunciou àquela disputa e se lançou para deputado estadual.

Zeca Viana prestigia politicamente a família. Em 2012 lançou o filho Mateus Viana (PDT) candidato a prefeito de Primavera do Leste. Mateus recebeu 12.810 votos sendo batido pelo democrata Érico Piana, com 16.876 votos.

Em 2004 e 2008 Getúlio Viana (PR), irmão de Zeca Viana venceu a eleição para prefeito de Primavera do Leste. Em 2016 novamente Getúlio foi eleito pelo mesmo partido, mas com condenação colegiada pelo Tribunal de Contas da União, por improbidade administrativa seu diploma foi cassado e a Justiça Eleitoral realizou eleição suplementar para o cargo.

Leonardo Gonzales de Oliveira Ribeiro, advogado cuiabano é candidato a deputado estadual pelo PPS. Sobrinho de Dante de Oliveira, é um dos herdeiros políticos do Homem das Diretas, juntamente com a viúva de Dante, Thelma de Oliveira (PSDB), prefeita de Chapada dos Guimarães.

Leonardo Oliveira disputou uma vaga à Câmara de Cuiabá em 2000, filiado ao PSDB e amargou suplência distante com 2.587 votos. Oito anos depois, pelo mesmo partido, novamente tentou o cargo, mas patinou na suplência com 2.351 votos. Finalmente, em 2012, elegeu-se vereador por sua cidade, pelo PTB, com 2.717 votos.

Mesmo sem mandato Leonardo Oliveira sempre participou do poder. Foi servidor do Ministério Público, assessor da presidência do Instituto de Terras (Intermat) e da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, diretor de Planejamento e de Serviços Urbanos da mesma prefeitura. No governo Pedro Taques ganhou a Secretaria-Adjunta de Esportes e Lazer.

Emanuelzinho (PTB), 23 anos, cuiabano, estudante de Direito é Emanuel Pinheiro da Silva Primo, candidato a deputado federal. Emanuelzinho nunca disputou eleição e dedica-se exclusivamente ao seu curso universitário.

Filho do prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro (MDB), Emanuelzinho pertence a uma família de tradição política. Seu avô paterno, Emanuel Pinheiro, foi deputado estadual e deputado federal, mas sua carreira foi interrompida em 1974 com seu assassinato. O pai de Emanuelzinho é político e advogado; sua vida pública começou em 1988 – quando tinha a idade do herdeiro, agora – ao se eleger vereador por Cuiabá. Quatro anos depois foi reeleito. Em 1994 e 1998 foi deputado estadual reeleito. Entre um e outro mandato na Assembleia, tentou ser prefeito da capital em 2000, mas foi derrotado. Na eleição de 2006 buscou o terceiro mandato de deputado, mas não conseguiu – porém fez uma proeza que asseguraria sua tranquilidade financeira para o resto da vida: ao sair da Assembleia em 2007 estava aposentado com salário integral de deputado estadual pelo Fundo de Assistência Parlamentar (FAP). Derrotado, mas aposentado, Emanuel ganhou um mimo do prefeito cuiabano Wilson Santos: foi nomeado secretário municipal de Trânsito e Transportes Urbanos.

Júlio: pelo filho, Emanuel barrou candidatura de Fábio Garcia à reeleição
Júlio: pelo filho, Emanuel barrou candidatura de Fábio Garcia à reeleição

Em 2010  Emanuel novamente derrotado para deputado estadual, mas assumiu o cargo em 2013 com a vitória de Wallace Guimarães (MDB) para prefeito de Várzea Grande em outubro de 2012. Em 2014 Emanuel voltou a conquistar diploma de deputado estadual  – nesse último mandato protagonizou uma das cenas mais grotescas da política mato-grossense:foi filmado recebendo pacotes de dinheiro de Sílvio Corrêa, então chefe de Gabinete do à época governador Silval Barbosa. Em delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, Silval informou que o dinheiro entregue a Emanuel era pagamento de mensalinho. Por essa delação Emanuel e outros ex-deputados foram denunciados pelo Ministério Público Federal. Além da enrascada na Justiça, Emanuel ainda saiu do episódio com o jocoso apelido de Paletó, criado pela sabedoria popular, por conta de um incidente na hora de abocanhar o dinheiro: um pacote caiu do bolso de seu paletó, que já estava abarrotado com outros maços. Seu filho Emanuelzinho, que nada tem a ver com o episódio também ficou arranhado, pois a mesma sabedoria o apelidou de Paletozinho.

Júlio Campos (DEM), um dos principais políticos de Mato Grosso, revelou que a desistência da candidatura do deputado federal Fábio Garcia (DEM) à reeleição foi por conta de pressão de Emanuel sobre a cúpula do Democratas. O prefeito queria abrir caminho em Cuiabá ao filho Emanuelzinho para deputado federal na coligação liderada por Mauro Mendes (DEM) que é candidato ao governo. Para tanto – segundo Júlio – os caciques convenceram Fábio Garcia a aceitar compor a chama de Jayme Campos ao Senado. Júlio observou que não se tratou de pressão por pressão, pois Emanuel teria assegurado que levaria para a coligação de Mauro Mendes o PP e o PTB, mas não conseguiu honrar o compromisso.

Felicidade do pai Victorio Galli e do filho Elias Galli
Felicidade do pai Victorio Galli e do filho Elias Galli

Elias do Nascimento Galli, cuiabano, 30 anos, casado, filho do deputado federal e presidente regional do PSL Victorio Galli, é candidato a deputado estadual pelo partido do pai.

Elias é o braço direito do pai e para atendê-lo costuma ocupar funções diferentes. É primeiro-secretário da Comissão Executiva Provisória do PSL em Mato Grosso. Foi assessor parlamentar do vereador por Cuiabá Oseas Machado, quando ele, o pai e Machado eram filiados ao PSC. Naquela função se meteu numa enrascada que deixou o Ministério Público de cabelos em pé: o suposto lançamento de mulheres candidatas laranjas à Câmara Municipal – esse caso deu em nada, como tradicionalmente acontece nos meios políticos. Também foi técnico instrumental do governo estadual enquanto analista de sistemas.

Wener entre o mano Cidinho e o padrinho de ambos, Blairo Maggi
Wener entre o mano Cidinho e o padrinho de ambos, Blairo Maggi

Wener Klesley dos Santos é candidato a deputado estadual pelo PP. Foi prefeito de Nova Marilândia (2013/16) pelo PSD. Tentou a reeleição e foi batido por Juvenal Alexandre da Silva (PSDB) que encabeçou a chapa com o vice Ademar Soave (DEM). Alexandre recebeu 1.217 votos (54.75%) e Wener 890 (40,04%).

Wener é irmão mais novo de Cidinho dos Santos e foi eleito prefeito em 2012 disputando pelo PR em candidatura única. Cravou 1.483 votos (68,03%), 59 votaram em branco (2,71%)) e 638 (29,27%) anularam. Sua companheira de chapa foi Vilma Fernandes (PR) .

Cidinho, o mano mais velho de Wener, por três vezes foi prefeito de Nova Marilândia, presidiu a associação dos prefeitos (AMM) e integrou o secretariado do governador Blairo Maggi (2003/10) em boa parte de seus dois mandatos. Em 2010 foi eleito primeiro suplente de senador de Blairo, ambos pelo PR – mesmo partido do segundo suplente Rodrigues Palma.

Antes de ser prefeito Cidinho secretariou o então deputado estadual e ex-prefeito de Tangará da Serra, Jaime Muraro (PFL), que se meteu em incontáveis escândalos.

Considerado um dos homens forte de Blairo, Cidinho conquistou esse espaço ao apoia-lo ao governo em 2002. À época Cidinho administrava Nova Marilândia e foi um dos poucos prefeitos no palanque oposicionista de Blairo.

Cidinho não disputa mandato, mas coordena a campanha do democrata Mauro Mendes ao governo, ao passo que seu irmão compõe a coligação que trabalha para a eleição do senador republicano Wellington Fagundes do governo.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Arquivo ilustrativa

2 – Maurício Barbant – Assembleia Legislativa

3 –  Youtube

4 – Divulgação PSDB

5 – Sobre imagem da TV Globo

6 – Divulgação PDT

7 e 8 – Arquivo
9 – Dinalte Miranda em arquivo

10 – Site vgnoticias.com.br

11 – Assessoria Blairo Maggi

 

 

 

1 comentário
  1. Crisóstomo Diz

    meu velho amigo Brigadeiro e seus moinhos você é o diferencial no jornalismo. meus parabéns pela qualidade e seriedade nas suas reportagens

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