Cinco lutam pela cadeira de governador
Corrida ao governo é imprevisível, mas em Mato Grosso nem tanto, pelo menos sob alguns aspectos, desde a retomada do pleito direto em 1982. Em nove disputas os vencedores ultrapassaram na primeira votação 50% mais um voto; todas as eleições foram polarizadas; e os governadores Dante de Oliveira (PDT e PSDB), Blairo Maggi (PPS e PR) e Silval Barbosa (PMDB) que chegaram ao poder após a instituição do segundo turno venceram no primeiro. A disputa pela cadeira mais importante do Estado tem cinco nomes e 2.330.724 eleitores para decidirem. O governador Pedro Taques (PSDB) tenta continuar a ocupá-la. Mauro Mendes (DEM), Arthur Nogueira (Rede), Wellington Fagundes (PR) e Moisés Franz (PSOL) brigam por ela.
Franz, servidor público estadual, é estreante e concorre em chapa partidária. Seu vice é o cuiabano Vanderley da Guia, o Enfermeiro Vanderley Guia, que foi candidato a deputado federal em 2014 recebendo 1.425 votos, e concorreu a vereador por Cuiabá em 2016 cravando 261 votos.
Nogueira é cuiabano, policial rodoviário federal e foi superintendente da Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso; é administrador de empresas e bacharel em direito. Formou aliança e seu vice é o gaúcho Sadi Oliveira dos Santos (PPL), que reside em Cuiabá desde 1983; atua no ramo publicitário; e preside a ONG Amigos do Bem, o Instituto São Pio e a Associação Mato-grossense de Doenças Inflamatórias.
Taques foi senador por quatro anos. Wellington cumpriu seis mandatos consecutivos de deputado federal, é senador e por duas vezes foi derrotado enquanto candidato a prefeito de Rondonópolis. Mauro foi prefeito de Cuiabá e perdeu duas eleições: para a prefeitura da capital e ao governo.
Taques tem um palanque com 10 siglas: PSDB, PSL, PPS, PRP, Avante, DC, Solidariedade, Patriota, PRPB e PSB. Wellington também tem 10: PR, PV, PP, PTB, PCdoB, PT, PRB, Pode, PMN e Pros. Mauro uniu cinco partidos: DEM, PDT, MDB, PHS e PSD.
O vice de Mauro é o empresário, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Lucas do Rio Verde em três mandatos, Otaviano Pivetta (PDT); Mauro repete a chapa de 2010, quando concorreu ao governo – à época pelo PSB – com Pivetta de vice, quando foi batido em primeiro turno por Silval Barbosa (PMDB).
A chapa de Wellington é a única ao governo com uma mulher de vice: Sirlei Theis (PV); até então Mato Grosso teve uma vice-governadora, Iraci França (PPS), eleita na chapa de Blairo Maggi em 2002. Blairo e Wellington são de Rondonópolis.
Taques formou chapa partidária com o produtor rural, veterinário e sindicalista Rui Prado. Em sua eleição ao governo, Taques também fez dobradinha com um produtor Carlos Fávaro (antes PP e agora PSD).
Em 1998 o governador Dante de Oliveira e o vice-governador Márcio Lacerda romperam politicamente e Lacerda passou a fazer oposição a Dante, que foi reeleito e Lacerda caiu no esquecimento.
Em 2018 Taques e Fávaro romperam politicamente. Fávaro renunciou, assinou manifesto contra o governador e aderiu à coligação de Mauro, pela qual concorre ao Senado.
Mauro e Taques estiveram juntos nas últimas eleições. Parte do secretariado de Taques pertenceu à equipe de Mauro. Os dois romperam recentemente e trocam acusações.
Com uma campanha manga curta, os candidatos terão que usar bem as redes sociais e o tempo no rádio e televisão, que será assim distribuído: Wellington 3 min 17,8s; Mauro 2 min 41,9 s; Taques 2 min 2,8 s; Moisés 15,5 s; e Nogueira 12,7 s.
DOMICÍLIO – Os cuiabanos Dante (duas vezes) e Taques (uma) chegaram ao poder. Rondonópolis empata com a capital em número de mandatos: Carlos Bezerra (MDB) uma vez e Blairo duas. Os irmãos Júlio e Jayme Campos, ambos do DEM (à época PDS e PFL respectivamente), de Várzea Grande, foram governadores no período em que não havia reeleição. Silval, de Matupá, concluiu um mandato e conquistou o segundo.
O desempate em números de mandatos entre cuiabanos e rondonopolitanos será definido favoravelmente aos primeiros em caso da vitória de Franz, ou de Nogueira, ou de Taques ou ainda de Mauro; Wellington é o único que poderia colocar Rondonópolis à frente.
ROTEIRO:
Pedrossian, biônicos e democracia
Em 31 de janeiro de 1966, Pedro Pedrossian assumiu o governo de Mato Grosso após vencer a eleição no ano anterior. Passou a administrar o segundo maior Estado, com 1.260.000 km², maior que o Pará. Em 15 de março de 1971 entregou o poder ao sucessor José Fragelli, que chegou ao cargo por eleição indireta decidida pelo Colégio Eleitoral criado pelos militares que controlavam o Brasil desde 1964. Fragelli foi sucedido por Garcia Neto, que deixou o mandato para concorrer sem sucesso ao Senado e em seu lugar assumiu o vice-governador Cássio Leite de Barros. Cássio entregou a faixa governamental para Frederico Campos, o último governante biônico – como eram chamados os detentores de mandatos sem votos.
Os ventos democráticos no começo dos anos 1980 restabeleceram a eleição direta ao governo. Mato Grosso do Sul havia se desmembrado. O território remanescente, com 903 mil km², tinha 1.538.472 habitantes e Cuiabá era chamada de Portal da Amazônia, mas não passava de uma média cidade com 126.926 moradores que começam a se acostumar com a miscigenação que acontecia com a chegada de levas de migrantes atraídos por oportunidades.
Em 1982 o deputado federal e ex-prefeito de Várzea Grande Júlio Campos (PDS), com 203.605 votos, venceu seu principal adversário, o padre Raimundo Pombo (MDB), que cravou 188.878 votos. Júlio deixou o cargo para disputar e vencer a eleição à Câmara dos Deputados e foi substituído por Wilmar Peres de Farias, seu vice.
A soma de alguns fatores contribuiu para a vitória de Júlio (51,64%): mas o principal foi a candidatura do mato-grossense embaixador Roberto Campos (PDS) ao Senado. O diplomata praticamente pulverizou seus adversários arrastando para seu palanque quase toda a classe política. Júlio, jovem, articulado e orador convincente, soube bem tirar proveito daquela situação, pois à época havia voto vinculado: o eleitor teria que votar em candidatos do mesmo partido, de vereador a governador, muito embora pudesse optar por branco ou nulo para qualquer cargo ou cargos.
No começo dos anos 1980 o MDB mudou sua sigla para PMDB e estava no auge da popularidade graças à recente e fracassada campanha pela eleição direta para presidente, que nasceu de uma emenda do deputado federal mato-grossense Dante de Oliveira, daquele partido. Em 1986 Carlos Bezerra (PMDB), ex-prefeito de Rondonópolis e que antes fora deputado estadual e deputado federal, venceu a eleição com 394.786 votos (65,73%) e o segundo colocado foi Frederico Campos (PMB) com 177.933 votos. Bezerra se desincompatibilizou para concorrer ao Senado e foi derrotado. Seu vice e correligionário Edison de Freitas sofreu acidente aéreo em Chapada dos Guimarães e renunciou. O presidente da Assembleia Legislativa, Moisés Feltrin, assumiu o governo constitucionalmente por 34 dias até a posse de Jayme Campos (PFL). O final do governo de Bezerra e Edison de Freitas foi melancólico a tal ponto que o PMDB não conseguiu eleger um deputado federal sequer.
Pedra 90. Com esse apelido o ex-prefeito de Várzea Grande, Jayme Campos (PFL) concorreu ao governo dobrando ao Senado com seu irmão deputado federal e correligionário Júlio Campos. Os dois venceram com facilidade. Jayme recebeu 401.005 votos (66,85%) e seu principal adversário, Agripino Bonilha (PMDB), 83.053. Naquele pleito aconteceu algo inédito. Alegando que as emissoras de rádio e televisão não teriam condições de transmitir o horário eleitoral, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) limitou a programação a Cuiabá, Várzea Grande e entorno. Com essa decisão, o PMDB foi prejudicado, pois a principal base de Bezerra era fora da região metropolitana.
Jayme cumpriu o mandato e em 1994 lançou seu vice, Osvaldo Sobrinho (PTB) ao governo. Sobrinho enfrentou o primo Dante de Oliveira (PDT), que estava com no auge do prestígio por força da emenda das Diretas para presidente, de sua autoria; Dante chegou ao poder com o vice Márcio Lacerda (PMDB), sacramentado por 471.104 votos (71,27%) enquanto Sobrinho recebeu 167.072.
Dante disputou a reeleição, mas rompido com Lacerda (PMDB), que foi jogado no limbo. O segundo mandato foi alcançado numa chapa tucana que se completava com o ex-prefeito de Rondonópolis Rogério Salles. Sua chapa recebeu 472.409 votos (53,95%). Júlio Campos (PFL) com Rodrigues Palma (PTB) de vice conquistou 332.023 votos (37,91%).
Para concorrer ao Senado, o governador Dante deixou o Paiaguás e Rogério concluiu o mandato. Dante não alcançou sua meta, pois a eleição às duas cadeiras em disputa foi vencida por Jonas Pinheiro (PFL) e Serys Slhessarenko (PT).
A eleição de 2002 foi um marco na democracia mato-grossense. Blairo Maggi (PPS) elegeu-se numa chapa partidária que tinha Iraci França de vice. Foi a primeira e até agora única mulher a ocupar aquele cargo. Essa eleição foi polarizada com o senador tucano Antero Paes de Barros que encabeçava uma chapa partidária que se completava com Janete Riva, mulher do então deputado estadual José Riva.
Em 2006 Blairo se reelege, pelo PPS, numa chapa com o presidente da Assembleia Legislativa, Silval Barbosa (PMDB) de vice; Silval é de Matupá. Blairo recebeu 922.765 votos (65,39%) e Antero (PSDB) novamente foi seu principal concorrente, com 279.873. Naquele pleito Antero rendeu homenagem à memória do deputado estadual Jorge Abreu (PMN) que morreu num acidente aéreo em 19 de setembro de 1998 escolhendo para sua vice Sinéia Abreu, viúva de Jorge.
Blairo renunciou em 31 de março de 2010 para disputar e vencer a eleição ao Senado com 1.073.039 votos – único candidato que chegou à casa de 1 milhão de votos numa só eleição em Mato Grosso, encabeçando uma chapa com os correligionários Cidinho dos Santos e Rodrigues Palma.
Em 2010 o governador Silval, que cumpria mandato desde 31 de março daquele ano, foi eleito em primeiro turno com 759.805 votos (51,21%) e seu vice foi Chico Daltro (PP). A chapa Mauro Mendes (PSB) e Otaviano Pivetta (PDT) recebeu 472.475 votos (31,85%) e bem distante em terceiro, Wilson Santos (PSDB) com 245.527 votos (16,55%): o vice de Wilson foi o tucano Dilceu Dal’Bosco.
TAQUES – O governador Pedro Taques venceu a eleição em 2014 pelo PDT com 833.788 votos (57,25%). Seu vice foi Carlos Fávaro (PP). Lúdio Cabral (PT) ficou em segundo lugar com 472.507. Fávaro recentemente renunciou ao cargo – primeira renúncia dessa natureza no Brasil – e rompeu politicamente com Taques.
Antes do governo, Taques foi senador (2011-14) e deixou o cargo ao suplente José Medeiros (PPS e agora Podemos); recentemente Medeiros foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral, por fraude na ata da convenção que o escolheu. A cadeira de Medeiros será ocupada por Paulo Fiúza (PV) que foi eleito segundo suplente de Taques.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Édson Xavier montagem sobre arquivo
2- Marcos Bergamasco
3 – Assessoria PSDB
4 – Assessoria DEM
5 – Assessoria PV
6 – Assessoria Rede
7 – Instituto Memória do Poder Legislativa
8, 9, 10, 11 e 12 – Arquivo Governo de Mato Grosso
13, 14 e 15 – José Medeiros
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