Requerimento por vaga de deputado preso chama atenção para o mar de lama na Assembleia

Situação complicada. Assim se encontra a Assembleia Legislativa de Mato Grosso, que tem 16 dos 24 deputados sob algum tipo de investigação, ou preso, ou processado, ou delatado, ou condenado em primeira instância, muito embora todos neguem as denúncias que sofrem. Nesta terça-feira, 7, um episódio isolado aponta para o fundo do poço em que se encontra o Legislativo. O suplente Waldir Bento (MDB) protocolou requerimento para assumir a vaga de Mauro Savi (DEM), que está preso. Esse pedido desperta a atenção para o mar de lama que deixa a legislatura em curso na contramão da história parlamentar.

Bento preside a Câmara de Várzea Grande e em 2014 ao receber 11.350 votos conquistou a quarta suplência  da coligação “Amor à Nossa Gente II”, que era formada pelo PMDB (agora MDB), PR, PCdoB, PT e PROS. Essa sopa de letrinhas conquistou oito cadeiras com Sebastião Rezende, Baiano Filho, Savi, Nininho, Romoaldo Júnior, Wagner Ramos, Emanuel Pinheiro e Silvano Amaral.

Com o resultado das urnas Bento tinha três suplentes à sua frente, mas esse número caiu em 2016 com a eleição do primeiro suplente Altir Peruzzo para prefeito de Juína; e com a vitória de Emanuel Pinheiro para a prefeitura de Cuiabá, o que abriu vaga ao terceiro suplente Allan Kardec (agora PDT). Essas mudanças fizeram de Ademir Brunetto (agora PSB) primeiro suplente e Bento chegou à segunda. Pelo esquema de rodízio parlamentar devidamente pago pelo contribuinte, Brunetto ocupa uma cadeira. Com o caminho livre Bento quer ser convocado para a cadeira de Savi, que se encontra vazia desde 9 de maio quando o mesmo foi preso preventivamente por decisão do desembargador do Tribunal de Justiça,  José Zuquim, a pedido do Ministério Público, que o acusa de integrar uma organização criminosa que teria desviado mais de R$ 30 milhões do Detran.

A Assembleia engoliu em seco o requerimento de Bento. Segundo fontes ligadas àquele parlamento, há temor generalizado de se convocar suplente para o lugar de Savi, que estaria insatisfeito com colegas que o teriam abandonado. A  ocupação de sua cadeira poderia levá-lo a uma delação premiada, que seria um verdadeiro terremoto na legislatura que chega ao fim.

Nada de estranho no requerimento de Bento se o documento for visto apenas por seu conteúdo, mas ele chama a atenção para um fato extremamente grave: os oito deputados eleitos pela coligação Amor à Nossa Gente II estão mergulhados em diversos escândalos, sendo que Nininho, Romoaldo, Baiano Filho e Wagner Ramos foram denunciados juntamente com Savi pelo rombo no Detran. Emanuel Pinheiro responde a muitas acusações, que vão de recebimento irregular de Verba Indenizatória e Verba de Custeio por meio de notas fiscais frias a mensaleiro – uma filmagem mostra dinheiro caindo do bolso do paletó de Emanuel quando ele recebia maços de notas de Sílvio Corrêa, então chefe de Gabinete do à época governador Silval Barbosa, e por esse episódio a sabedoria popular o apelidou de Paletó.

Além dos eleitos na coligação de Bento, o suplente Brunetto também está atolado em escândalos. Silval e o ex-presidente da Assembleia, José Riva, o denunciaram enquanto mensaleiro. Riva o acusou em depoimento na 7ª Vara Criminal de Cuiabá; Silval o faz numa delação premiada homologada pelo ministro do STF Luiz Fux..

Manter a cadeira de Savi vazia quando ele chega ao terceiro mês de prisão é absurdo. A presença de tantos deputados em plenário e na presidência – o presidente Eduardo Botelho (DEM) é um dos denunciados pelo suposto desvio milionário no Detran. – é algo anormal.

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS: Arquivo: Secretaria de Comunicação da Assembleia Legislativa