Série TRANSPARÊNCIA (22) – Sebastião Carlos, um Imortal em busca do Senado
Cidadão do Araguaia. Esse é um bom rótulo para Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, que acumula títulos universitários, é Imortal de academia e está em campo enquanto pré-candidato ao Senado pela Rede Sustentabilidade.
Do Araguaia, porque nasceu na goiana Aragarças, passou a infância e juventude em Barra do Garças, e desde pequeno aprendeu com o pai, Antônio Matias de Carvalho, a amar e defender aquela região, onde ele trabalhava enquanto funcionário da lendária Fundação Brasil Central (FBC) criada por Getúlio Vargas sob inspiração do cuiabano marechal Eurico Gaspar Dutra. Aragarças, Barra e Pontal do Araguaia formam uma conturbação com um só povo – independentemente de sua origem goiana ou mato-grossense – ao pé da mística Serra Azul.
O acúmulo de títulos é fácil de entender. Basta ler seu currículo: historiador, advogado, com muitas especializações e outros qualificativos. Além disso, foi professor universitário (UFMT e UNIC) e escreveu mais de 35 obras jurídicas, de cunho ambiental, poéticas e ensaios literários. Mais ainda: preside a Academia Mato-grossense de Letras (AML), é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e de seu coirmão goiano, do Instituto dos Advogados Brasileiros, da Academia Paulista de Letras Jurídicas e outras instituições.
Dom de escrever não se explica, mas a veia literária sempre agradece quando tem um empurrãozinho. Foi exatamente isso que aconteceu com Sebastião Carlos – sua mãe, a professora Esmeralda Gomes de Carvalho, fez das tripas coração pra ver o filho escritor. Cristã fervorosa, a professora que ensinava crianças no Araguaia foi atendida: o menino virou Imortal presidente da AML.
Se ao invés de se preparar para concorrer ao Senado Sebastião Carlos estivesse de olho de algo na área cultural, na lide forense ou no ensino superior, seguramente sua pretensão seria chancelada em Mato Grosso. Porém, em se tratando de disputa eleitoral majoritária nessa terra atípica, onde o número de leitores é pequeno e sua principal referência – a AML – é uma instituição distante da população, ele terá que se desdobrar.
Sebastião Carlos não é o novo em política. Em 1976 sua Barra do Garças o elegeu – 706 votos – vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro, o velho, bom e saudoso Manda Brasa, que virou PMDB e agora voltou à antiga sigla, mas sem a essência democrática do ontem. O mandato foi de seis anos, mas antes de conclui-lo, em 1978, disputou a Assembleia Legislativa ficando na segunda suplência, com cinco mil votos, apesar do bom desempenho eleitoral em sua cidade.
Em 1982, Sebastião Carlos foi aprovado para a Assessoria Jurídica da Assembleia no primeiro concurso público por ela promovido. Foi classificado entre os 11 dos 126 advogados inscritos, mas por pirraça do então vice-presidente daquele Poder, Roberto Cruz, que tinha domicílio eleitoral em Barra do Garças, foi barrado. Para chegar ao cargo recorreu ao Tribunal de Justiça, que por unanimidade de seus 20 desembargadores de então, assegurou sua posse na função de assessor Legislativo. Sebastião Carlos permaneceu na Assembleia por 23 anos e se aposentou enquanto procurador-geral.
Bom tribuno e de raciocínio rápido Sebastião Carlos é o que se pode chamar de bom entrevistado.
Seu mote mostra que em Mato Grosso política é feita com as mesmas propostas e as ideias em véspera de eleição, “e a mesmice das pessoas” – como diz – mudando somente a camisa para o partido “a” “b” ou “c” – por isso ele se apresenta enquanto novo.
Sua plataforma parlamentar é exatamente o que a maioria deseja: fim da corrupção, renovação dos quadros políticos, reforma tributária, fortalecimento da economia com geração de emprego, redução da carga tributária. Além disso, defende o ‘recall’ de políticos que não cumprirem seus compromissos de campanha ou se desviarem dos mesmos.
Hábil, não se indispõe com o agronegócio, mas acende uma boa vela para a agricultura familiar; quanto a isso tem um conceito interessante: não engole que o ranking do desenvolvimento de Mato Grosso seja avaliado somente por seus índices econômicos e defende que ao mesmo tem que se juntar a realidade social, “não é justo um Estado produzir tanto e ao mesmo tempo ter milhares de família abaixo da linha da pobreza ou nela”.
Seu palanque não será o chamado quarteirão de castidade, mas em compensação não terá o peso de tradicionais corruptos que sobrevivem eleitoralmente pleito após pleito. Sua candidata a presidente, Marina Silva, tem discurso afiado para Mato Grosso, por ser o palco das maiores polêmicas ambientais brasileiras. Tanto quanto Marina e se intitulando “legalista”, Sebastião Carlos defende que o desenvolvimento não seja unilateral e, sim, social. Isso em referência à desoneração das commodities agrícolas pela Lei Kandir. Em suma: nada contra o agro, mas sem prejuízo de uma ampla discussão para se chegar ao cerne da desoneração da forma mais abrangente possível, avaliando pros e contra.
Eleitorado exigente
Sebastião Carlos disputará uma eleição qualitativa. O eleitorado dá sinais de insatisfação com a classe política, a exemplo do que se viu recentemente na eleição suplementar ao governo de Tocantins, onde a maioria do eleitorado ou anulou, ou votou em branco ou se absteve.
Se o pleito que Sebastião Carlos pretende disputar não fosse em outubro deste ano, mas no passado, seu currículo encheria os olhos do eleitorado. Porém, agora, o cidadão quer ir além dos títulos, diplomas, rótulos, discursos. Não que Sebastião Carlos tenha nódoa ou sobre ele haja suspeitas. Sua trajetória não foi permeada por escândalos, mas ele precisará esclarecer uma situação em sua vida pública.
Por 23 anos trabalhou na Assembleia exercendo função relevante, a ponto de ser procurador geral. Coincidentemente em boa parte desse período aquele Poder foi palco de falcatruas, de incontáveis atos de improbidade que resultaram em algumas condenações de seu principal vulto, José Riva, que por duas décadas ou presidiu ou foi primeiro-secretário do mesmo. O eleitor poderá apontar o dedo e questiona-lo: o senhor enquanto procurador-geral não ouviu, não suspeitou ou adotou cúmplice silêncio sobre os escândalos que atingiram os ex-deputados José Riva, Humberto Bosaipo, Sérgio Ricardo, Gilmar Fabris e outros?
Disputa
A Rede, em Mato Grosso, terá chapa partidária completa. Sebastião Carlos é pré-candidato ao Senado, mas a sigla também disputará o governo, a Câmara dos Deputados e a Assembleia Legislativa. Sua grande puxadora de votos será Marina Silva, que foi senadora pelo Acre, ministra do Meio Ambiente e candidata a presidente da República.
Em tese a principal base eleitoral de Sebastião Carlos será o meio literário tendo à frente a AML. Porém, não há identificação entre o eleitor dito comum e aquela instituição nesta terra dos escritores Ricardo Guilherme Dickie e Manoel de Barros – o Nequinho, juntadô de palavras -, que nunca transpuseram seus chamados umbrais. O público leitor mato-grossense é pequeno, não conhece bem seus Imortais, e parte da população vê a AML com ressalva em razão de seu silêncio quando do assassinato de seu vice-presidente o juiz de direito Leopoldino Marques do Amaral, em setembro de 1999, no Paraguai.
Partido pequeno que ainda não conseguiu fundar diretório em todos os municípios, com tempo reduzido na TV e sem recursos para campanha, a Rede entra em cena por uma vaga para Sebastião Carlos no Senado. Mesmo com esses entraves ele acredita que terá bom desempenho nas urnas onde, entre outros, possivelmente enfrentará Selma Rosane (PSL), Jayme Campos (DEM), Maria Lúcia (PCdoB), Carlos Fávaro (PSD), José Medeiros (Podemos), Nilson Leitão (PSDB), Margareth Buzetti (PP) e Enelinda Scala (PT). Desse grupo Jayme, Leitão e Enelinda fazem parte da chamada “mesmice” citada por ele.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO: Vanessa Moreno
Capítulos anteriores:
1 – PPP Caipira nasce da ousadia de Pivetta
2 – Suplente de última hora chega ao Senado
3 – Riva mesmo caido derrota Taques
4 – Páginas da vida
5 – Leitão, o único preso entre os pré-candidatos ao Senado e governo
6 – Carona na Arca de Noé
7 – O dedo de Kassab
8 – Taques e o cadeado na hidrovia
9 – Escândalos tomam discurso moralista de Pedro Taques
10 – O temperamento de Jayme Campos.
11 – Rossato, político profissional que diz não ser político.
12 – Selma aplaina caminho ao Senado.
13 – Assembleia Legislativa no fundo do poço.
14 – Blairo e o mistério que o afasta da eleição
15 – Mais que professora: uma lição de vida.
16 – Mauro acuado e num beco sem saída.
17 – Tu és Pedro!
18 – O Japão é aqui
19 – Fundadora do PT, Enelinda quer ser senadora
20 – Pedro e Mauro Mendes, dois amigos estrategistas
21 – Pivetta joga a toalha: “não era, portanto não tem recuo”.
mais um salvador da pátria kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk