Que Rondon nos perdoe!
Mato Grosso atravessa um sombrio momento político e social. Parte dessa situação tem que ser debitada ao jornalismo. O restante deve ser debitado ao povo – não ao conjunto populacional, mas àquele segmento que lê, curte e compartilha rede social, e que se sente agente da grande mudança do globalizado universo a um passo da transposição da matéria.
Pobre Mato Grosso do conteúdo jornalístico chapa branca, que se multiplica nas pequenas cidades por sites sempre prontos ao “sim”, ao culto às figuras do poder, ao silêncio crítico.
Pobre Mato Grosso onde os temas mais responsáveis e sérios são preteridos pela futilidade da comunicação – e pela doçura da preservação dos donos do poder.
Pobre Mato Grosso com hospitais regionais e filantrópicos sucateados.
Pobre Mato Grosso onde soldado porta trabuco com munição “caduca”.
Pobre Mato Grosso onde oficial de Justiça não tem estrutura para cumprir diligência.
Pobre Mato Grosso sem reagente no IML.
Pobre Mato Grosso de assentamentos da reforma agrária ainda não emancipados.
Pobre Mato Grosso onde não se cumpre repasse de duodécimo e onde os chefes dos poderes dizem “amém” a essa criminosa realidade.
Pobre Mato Grosso que pavimenta rodovias estaduais com acostamento manga curta.
Pobre Mato Grosso cujo Tribunal de Contas do Estado (TCE) tem cinco dos sete conselheiros afastados e funciona monocraticamente quando visto pela titularidade de seus membros. Os afastados são: Antônio Joaquim, Waldir Teis, Sérgio Ricardo, Valter Albano e José Carlos Novelli. Vale observar que antes do afastamento desse quinteto (que aconteceu em setembro do ano passado), o conselheiro afastado pelo TSE Humberto Bosaipo conseguiu sua aposentadoria, mesmo afastado sob a acusação de improbidade administrativa.
Pobre Mato Grosso onde o único conselheiro titular do TCE – Campos Neto – é acusado de mensaleiro.
Pobre Mato Grosso onde a maioria dos deputados estaduais responde a processo, inquéritos ou sofre algum tipo de acusação formal. Esse grupo é formado por Dilmar Dal’Bosco, Pedro Satélite, Romoaldo Júnior, Oscar Bezerra, Baiano Filho, Silvano Amaral, José Domingos Fraga, Wilson Santos (e seu suplente Jajah Neves), Wagner Ramos, Adalto de Freitas, Sebastião Rezende, Gilmar Fabris, Nininho, Guilherme Maluf, Mauro Savi e o suplente em exercício Adriano Silva.
Pobre Mato Grosso onde o deputado federal Ezequiel Fonseca foi flagrado em vídeo recebendo dinheiro que o ex-governador Silval Barbosa sustenta que se trata de mensalinho.
Pobre Mato Grosso que cria uma CPI na Assembleia para apurar supostos desvios dos fundos Fethab e Fundeb por parte do governador Pedro Taques, para outra finalidade, e nomeia seu presidente o deputado Mauro Savi, que acaba de se tornar réu em ação penal para julgar suposto desvio de recursos públicos – e que é citado enquanto mensaleiro.
Pobre Mato Grosso que comenta com naturalidade a possível nomeação do deputado Wilson Santos para conselheiro do TCE. Wilson, segundo o suplente de deputado Jajah Neves, em áudio, estaria recebendo a verba indenizatória que deveria ser repassada a Jajah, e que é réu em ação na Justiça Federal, acusado de improbo, por suposto desvio de recursos públicos na obra do paralisado Rodoanel Norte de Cuiabá – o que culminou em bloqueio de parte de seus bens para eventual ressarcimento ao erário público.
Pobre Mato Grosso dos vergonhosos desvios de dinheiro público na execução das obras para a Copa do Mundo de 2014, onde os nomes de Silval Barbosa, Éder Moraes, Yuri Bastos, Maurício Guimarães e outros aparecem como líderes dos esquema criminosos que lesaram os cofres públicos.
Pobre Mato Grosso que abafa o escândalo da Grampolândia Pantaneira, e de modo especial tenta blindar o governador Pedro Taques nesse episódio.
Pobre Mato Grosso onde o Ministério Público concorda em não receber pontualmente repasses do duodécimo e não instaura procedimento para se saber o que se esconde por trás dos atrasos nos repasses.
Pobre Mato Grosso que tem um governo estadual inerte, gutembergueano.
Pobre Mato Grosso onde o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, é filmado recebendo maços de dinheiro e os guardando no bolso do paletó – a ponto de um pacote cair – e que Silval jura se tratar de mensalinho.
Pobre Mato Grosso com sua Assembleia que custa os olhos da cara ao contribuinte, que se mantém submissa ao governo e tem em sua composição uma legislatura caracterizada por conduta parlamentar desabonadora.
Pobre Mato Grosso que critica quem aponta o dedo pra essa realidade.
Pobre Mato Grosso que amamos e que não encontra o caminho que o livre de tudo isso.
Pobre Mato Grosso.
Que Rondon nos perdoe!
Eduardo Gomes de Andrade
Editor deste site
blogdoeduardogomes2017@gmail.com
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