CPI do Paletó assusta e enfrenta resistência da cúpula política de Mato Grosso
“Não”, unânime.
Esse é o posicionamento da cúpula política mato-grossense -com raras exceções – quando o assunto é a instalação da CPI do Paletó na Câmara de Cuiabá (foto), para apurar o grotesco episódio do prefeito e então deputado estadual Emanuel Pinheiro (PMDB) recebendo maços de dinheiro – a ponto de deixar cair pacote – de Sílvio Corrêa, à época chefe de Gabinete do governador Silval Barbosa. O temor é generalizado, pois depoimentos poderão reacender a chama popular contra a dita bancada hollywoodiana – só tem artista – e contribuir para que o Ministério Público Federal (MPF) feche o mais rápido possível o cerco sobre o caso.
O escândalo envolvendo Emanuel é investigado pelo MPF e a Polícia Federal, mas seu desfecho judicial será demorado. A demora dá sobrevida política aos envolvidos e os que os cercam.
Um depoimento detalhado de Silval teria força para criar ingovernabilidade na prefeitura de Cuiabá e atingiria em cheio a Assembleia Legislativa, que é o principal pilar de sustentação do governo de Pedro Taques. Seria uma espécie de enterro coletivo de dezenas de cabeças coroadas.
Emanuel foi filmado por Sílvio recebendo aquilo que ele chamou de mensalinho, em sua delação. O prefeito nega. Depois de um longo silêncio disse que realmente esteve com o chefe do Gabinete, mas não pra levar vantagem indevida e, sim, para cobrar um crédito de um de seus irmãos junto a Silval, oriundo de uma pesquisa.
Emanuel não apresentou nota fiscal da prestação de serviço, não provou sua realização com seu respectivo registro junto ao Tribunal Regional Eleitoral – caso opte pela versão de pesquisa eleitoral – nem nenhuma prova documental de sua realização e se a mesma atendeu ao governo etc.
A Comissão Parlamentar de Inquérito requerida em 27 de agosto – imediatamente após a filmagem ser exibida na TV Globo – ganhou o irreverente apelido de CPI do Paletó, por conta do dinheiro que caiu do bolso do paletó de Emanuel, pois o mesmo estava abarrotado com um pacote de cédulas recebido momentos antes. Seu autor foi Marcelo Bussiki (PSB). Na Câmara o abafa foi geral e a CPI não conseguiu o número mínimo de assinaturas para sua instalação; são necessários nove vereadores ou um terço da legislatura em número redondo. Oito assinaram: o autor; Abílio Guimarães e Sargento Joelson (ambos PSC); Dilemário Alencar (Pros); Felipe Wellaton (PV); Gilberto Figueiredo (PSB); Elizeu Nascimento (PSDC); e Diego Guimarães (PP). Faltava um vereador para a instalação.
O pedido de instalação da CPI hibernava. Enquanto isso, longe do olhar da população, prefeito e vereadores costuravam seu abafa. Porém, de última hora, Toninho de Souza (PSD), que é apresentador de TV do Grupo Gazeta de Comunicação, botou o jamegão no documento. Paralelamente a isso o Jornal A Gazeta, carro-chefe do Grupo, abriu manchetes sobre o escândalo do mensalinho e o paletó de Emanuel.
Na terça-feira, 14, finalmente a CPI do Paletó foi instalada pelo presidente da Câmara, Justino Malheiros (PV). Sua composição será definida na quinta-feira, 16, numa reunião de Malheiros com o Colégio de Líderes.
Na Câmara a palavra CPI soa como falar em corda na casa do enforcado – na Assembleia Legislativa e no Palácio Paiaguás todos rezam por seu sepultamento ou quando nada, esvaziamento. Não se pode desconsiderar a possibilidade de que algum vereador retire sua assinatura.
Se no pior dos mundos para a cúpula política a CPI do Paletó sobreviver – acreditam analistas e formadores de opinião – não faltarão manobras para esvazia-la empurrando-a com a barriga para 2018 após o recesso parlamentar do final de ano, para que a mesma perca força.
O MEDO
Deputados e governo sentem urticária com a CPI do Paletó.
Não é pra menos.
Dois de seus personagens centrais poderão botar fogo no circo político: Silval e Sílvio. Ambos estão sob juramento na delação premiada feita ao MPF e homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux. Chamados pelos vereadores terão que dizer a verdade, sem nenhum artifício de frase que coloque em dúvida o que disseram ao MPF. Falando atingirão em cheio a Assembleia e consequentemente a base de apoio do governador Pedro Taques (ainda no PSDB).
Silval terá que repetir a denúncia delatada sobre o pagamento de mensalinho; de compra de votos para eleição da mesa diretora da Assembleia; e que o deputado Nininho (PSD) teria desembolsado em propina R$ 7,5 milhões para que sua empresa Morro de Mesa ganhasse a concessão da rodovia MT-130 entre Rondonópolis e a BR-070 nas imediações de Primavera do Leste passando por Poxoréu.
Um depoimento nesse sentido atingiria a maioria dos deputados e muitos ex-deputados, inclusive o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP), que à época era deputado estadual.
Sílvio também teria que repetir o que disse aos procuradores da República.
A Assembleia está mergulhada em escândalos. A CPI do Paletó dará palanque a Silval para dizer perante a imprensa fatos que a cúpula política não quer ouvir e torce para que ninguém os ouça.
Na relação do ex-governador, da bancada estadual com 24 nomes, 14 teriam recebido vantagens ou tentando obtê-las; além desses, outros três são parentes de ex-deputados que também teriam “mordido” seu esquema de compra de apoio, bancado com dinheiro de corrupção, como ele admite.
A CPI do Paletó preocupa porque nela Silval poderá jogar uma pá de cal sobre Emanuel e os deputados estaduais que teriam recebido mensalinho ou outras vantagens: Wagner Ramos, José Domingos, Gilmar Fabris, Pedro Satélite e Nininho (todos do PSD); Guilherme Maluf e Baiano Filho (ambos do PSDB); Sebastião Rezende (PSC); Dilmar Dal’Bosco (DEM); Oscar Bezerra e Mauro Savi (ambos PSB); Silvano Amaral e Romoaldo Júnior (ambos PMDB); e Daltinho (SD).
O ex-governador também atingiria os ex-deputados José Riva, Luiz Marinho e Luciane Bezerra – Riva é pai da deputada Janaína Riva (PMDB); Oscar é marido de Luciane, que agora é prefeita de Juara; e Luiz Marinho é irmão do presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (PSB).
O estrago que Silval poderia fazer depondo à CPI do Paletó também atingiria a bancada federal. Ezequiel teria recebido mensalinho; o deputado federal Ságuas Moraes, foi deputado estadual e secretário de Educação e Silval o incluiu ao esquema corrupto no governo; e o senador licenciado e ministro da Agricultura, Blairo Maggi, foi governador e teria “comprado” uma mudança de depoimento do ex-secretário de Estado Éder Moraes, no episódio nebuloso da famosa compra de vaga no Tribunal de Contas do Estado pelo deputado estadual Sérgio Ricardo ao conselheiro Alencar Soares.
Bussiki mirou no pé de Emanuel, mas sua CPI do Paletó poderá liquidar perante a opinião pública boa parte da elite política mato-grossense levando consigo também o prefeito e os 16 vereadores que insistem no abafa: Justino, o presidente que defende o prefeito; Adevair Cabral, Ricardo Saad e Renivaldo Nascimento (todos do PSDB) Chico 2000 (PR); Delegado Marcos Veloso e Mário Nadaf (ambos PV); Dr. Xavier (PTC); Juca do Guaraná Filho (PTdoB); Lilo Pinheiro e Orivaldo da Farmácia (ambos PRP); Marcrean Santos (PRTB); Misael Galvão (PSB); Paulo Araújo e Luiz Cláudio (ambos PP); e Wilson Kero Kero (PSL).
O senhor usou o argumento da CPI para mostrar a sujeira dos Deputados e deu um show
Cadeia para todos Emanuel, Deputados, Silval e Ezequiel com Saguas e Blairo e os demais