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271 ANOS – O marco temporal do desenvolvimento de Mato Grosso

Campo Verde nasceu com o agro
Campo Verde nasceu com o agro
Mato Grosso celebra 271 anos, mas o marco temporal de seu desenvolvimento é 1970, ano em que o agronegócio o escolheu pra celeiro agrícola

 

“Noventa milhões em ação / Pra frente Brasil do meu coração / Todos juntos vamos / pra frente Brasil, salve a Seleção”. Este refrão foi o DNA da música mais tocada no rádio e cantada pelas multidões nas ruas do país inteiro no começo de 1970. Ele é a alma da canção “Pra frente Brasil”, do compositor Miguel Gustavo, que soava como patriótico grito de apoio aos jogadores canarinhos que tentariam a conquista do tricampeonato mundial de futebol naquele ano, no México, o que efetivamente aconteceu. Mato Grosso não era exceção e todas as suas vozes também entoavam aquela espécie de hino da pátria de chuteiras, como a definiu Nelson Rodrigues.

Cuiabá em 1970 quando o agro chegou
Cuiabá em 1970 quando o agro chegou

A música de Miguel Gustavo fala da população, que naquele ano de conquista da Seleção alcançava 90 milhões de brasileiros. Na área mato-grossense que mais tarde seria remanescente à divisão territorial que criou Mato Grosso do Sul, o número de habitantes era modesto: 663.625 e se concentrava em 34 municípios. No território que pertenceria a Mato Grosso do Sul, formado por 50 municípios havia 933.465 moradoresNo Estado intacto, os residentes somavam 1.597.090.

Cuiabá tinha 100.860 moradores; o núcleo das maiores cidades era formado por Cáceres, com 85.699; Rondonópolis, 50.594; Poxoréu, 27.854; e Poconé, 19.278. Na outra ponta, Porto dos Gaúchos, com 1.235; Araguainha, 1.804; Aripuanã, 2.006; Luciara, 3.131; e Ponte Branca, 3.556. Mato Grosso era um grande vazio populacional com 0,73 habitante por quilômetro quadrado. A maior parte da população vivia na zona rural, à exceção do mosaico populacional de Cuiabá, Cáceres, Rondonópolis e Várzea Grande (18.305 habitantes).

Alguns municípios eram maiores que países, mas com a ocupação do vazio demográfico impulsionada pelo agro surgiram vilas planejadas ou nascidas do improviso, que mais tarde seriam importantes cidades. A população tendia a aumentar e passar por forte miscigenação, pois estava em curso um grande processo migratório que arrastava para Mato Grosso gente de todos os cantos do Brasil e até do exterior.

Pela precariedade e a limitação da malha rodoviária, Mato Grosso era administrado à distância, o que resultava no vácuo do Estado sobre imensas áreas. Em 1970 o governador era Pedro Pedrossian e em Cuiabá, além da prefeitura local, também funcionava a de Aripuanã, município na divisa com o Território Federal de Rondônia e o Amazonas, que não tinha acesso por estrada.

Tapurah é um das novas cidades…

Com a chegada do agro Mato Grosso cresceu, sua economia ganhou vitalidade e sua base econômica, dentro da cadeia do agro, é bastante diversificada. São 141 municípios com 3.441.998 habitantes. No período surgiram cidades importantes a exemplo de Sinop, Sorriso, Alta Floresta, Mirassol D’Oeste, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Pontes e Lacerda, Canarana, Araputanga, Vila Rica,  Colíder, Água Boa, Primavera do Leste, São Félix do Araguaia, Nova Olímpia, Campo Verde, Tangará da Serra, Juína, Juara, Colniza, Guarantã do Norte, Sapezal, São José dos Quatro Marcos, Campo Novo do Parecis, Brasnorte, Comodoro, Querência, Nova Ubiratã, Alto Taquari, Paranatinga, São José do Rio Claro, Confresa, Peixoto de Azevedo e Tapurah – todas ligadas a elos da grande cadeia do agro.

A receptividade aos novos moradores era muito boa tanto em Cuiabá quanto nos demais municípios. À época não havia a idiota discriminação criada na capital, mas felizmente pouco utilizada ao pé da letra, que define o nativo com raízes cuiabanas de tchapa e cruix e o migrante e o nascido na cidade, mas sem vínculos de ancestralidade com ela, de pau-rodado.

O conceito discriminatório é incompatível com a localização geográfica de Cuiabá, no centro do continente, condição essa que a faz atrair novos moradores. Além disso, é preciso observar que seu fundador, o bandeirante Pascoal Moreira Cabral e seus companheiros que assinaram a ata da fundação da cidade em 8 de abril de 1719 não tinham nas veias o sangue da chamada cuiabania; Moreira Cabral nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo.

... Nova Mutum, também
… Nova Mutum, também

Hoje, a cuiabania é minoria. No passado, os migrantes e os recém-chegados se sentiam bem em Cuiabá entre a população nativa predominante. Bom exemplo foi a identidade do fotógrafo armênio Lázaro Papazian, o Cháu. Fora da capital também havia boa acolhida e, em alguns casos, os que chegavam se tornavam os primeiros moradores do lugar, como é o caso de Henrique Lopes de Lima, o Gaúcho, que fundou a vila Gaúcho em Guarantã do Norte, no dia 14 de novembro de 1976.

.A índole do mato-grossense é boa e sempre funciona como fator de aproximação com as pessoas. O padre Antonino Cândido Paixão, nascido em Chapada dos Guimarães, foi o único sacerdote católico eleito prefeito em Mato Grosso após a chegada do agro e, com seu temperamento sociável, sabe muito bem cativar os fiéis. Padre Antonino administrava São José do Povo (2001/04), mas o bispo de Rondonópolis, Dom Osório Stoffel, não permitia que ele celebrasse missa em seu município.

Para não deixar padre Antonino fora do altar a saída foi botá-la nas celebrações dominicais na Igreja São José Operário,  em Vila Operária,  de Rondonópolis, distante 45 quilômetros de São José do Povo. Vascaíno roxo, o celebrante encontrou a forma de descontrair a missa conciliando a religião com sua paixão pelo clube da Cruz de Malta. Na bênção final bradava:

– O SENHOR ESTEJA COM VAAAAAAAAAAASCO!

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS

1 – Valmir Faria

2 – Redes sociais

3 – Divulgação Prefeitura de Tapurah

4 -Alex Pereira – Prefeitura de Nova Mutum

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