Boa Midia

Ponderações sobre 2026

Eduardo Gomes

andrade@eduardogomes

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Por maior que seja a imprevisibilidade do presidente Trump, ele jamais elegeria o Brasil como desafeto. Não o faria pela importância geopolítica brasileira, pelo comércio entre as duas nações e os vínculos históricos entre elas. Em consequência disso, a última cartada do clã Bolsonaro na tentativa de salvar a pele do seu patriarca – Jair Bolsonaro – desmorona. Não será uma queda brusca, mas de modo suave até que não haja trava entre Washington e Brasília, ainda que para tanto haja idas e vindas no humor do mandatário americano. Esse fato terá efeito imediato no cenário político mato-grossense, em boa parte umbilicalmente ligado ao Mito.

Mato Grosso é um forte reduto bolsonarista e as eleições de 2018, 2022 e 2024 deixaram evidenciado essa condição. O peso de Bolsonaro deu mandatos a figuras desconhecidas, repetindo aquilo que o PMDB fazia nos anos 1980, quando elegia até poste. Na aluvião do Mito, chegaram ao poder, dentre outros, Selma Arruda, Gilberto Cattani, Wellington Fagundes, Nelson Barbudo, Amália Barros, Abílio Brunini, Rafael Ranalli, José Medeiros, Flávia Moretti, Coronel Fernanda, Roberto Dorner, Cláudio Ferreira, Adilson Gonçalves, Coronel Assis e tantos outros. Com a inevitável pulverização de Bolsonaro, as eleições de 2026 serão disputadas no âmbito estadual, sem prejuízo às convicções ideológicas.

Sem a influência de Bolsonaro, líder seguido fanaticamente por muitos em Mato Grosso, o eleitor poderá escolher os nomes que julgar melhor, sem que seu voto seja atrelado ao fanatismo. Que o eleitorado saiba escolher os melhores, quer seja de direita, esquerda ou de centro.

Sem Bolsonaro ficamos livres do radicalismo polarizado. Será possível olhar melhor para as candidaturas, sem a preocupação de agora, como acontece com Wellington Fagundes (PL), que ao invés de ser avaliado por seu histórico, é analisado por sua condição ao não de ‘melancia’.

O eleitor deve levar em conta que ao eleger governante entregará em suas mãos um Estado que deixou de ser coitadinho e ganhou protagonismo nacional por sua estratégica condição de um dos pilares da política de segurança alimentar mundial; quem assumir o Paiaguás estará com as chaves de um cofre que tem recursos muito além das demandas. Portanto, é importante escolher bem. O melhor para Mato Grosso nem sempre tem que ser o melhor para a direita ou à esquerda. Não se deve votar pelo sorriso do candidato ou por sua longevidade política. Observem o caso do senador Wellington Fagundes, que cumpre mandatos no Congresso desde 1990 e que não tem uma folha de serviços prestados a Mato Grosso compatível por sua petrificação política. É, também, a situação do senador Jayme Campos (oriundo do União Brasil e na federação UPB formada com o PP), que está na vida pública há quase meio século mantendo o discurso do “Eu”, incompatível com os dias de hoje. Além dos dois senadores, dentre os postulantes, a médica Natasha Slhessarenko (PSD), que não militou na vida pública e que ao longo de sua carreira empresarial de sucesso nunca teve seu nome associado a alguma ação social ou de benemerência e que sequer conhece Mato Grosso de modo a não ser surpreendida caso chegue ao poder.

Pena que o PT tenha terceirizado as disputas majoritárias ao PSD, com Natasha Slhessarenko ao governo e Carlos Fávaro à reeleição ao Senado. Partido que sempre elege deputados e que recebe em média 20% da votação, o PT opta por permanecer um gueto dominado por Lúdio Cabral, Valdir Barranco e Rosa Neide, que não enxerga além do umbigo e teima em reserva de mercado no poder, pouco se importando com sua defenestração em todas as prefeituras e sem jamais estimular a participação de jovens, para formar lideranças. Este é um problema intestinal petista, mas que não impede o eleitor de buscar os nomes que julgar mais preparados.


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Creio que a prisão de Bolsonaro para cumprimento da pena que lhe foi aplicada causará choro e ranger de dentes no primeiro momento. Porém, com o passar do tempo teremos calmaria, pois o brasileiro não é de permanecer solidário além da celebração da Missa de Sétimo Dia. Avalio que não haverá nenhuma corrente forte defendendo a eleição de congressista com a finalidade de transformar seu mandato em trincheira para Bolsonaro.

Mato Grosso precisará de uma bancada federal expressiva, que o retire do baixo clero, onde sempre esteve, muito embora, mesmo assim, alguns xomanos congressistas tiveram ações pontuais importantes a exemplo de Valdon Varjão, com a lei que impede a venda de sangue, hemoderivados e órgãos; com Serys Slhessarenko, lançando as bases da lei da delação premiada; com Dante de Oliveira e sua Emenda das Diretas; com Bezerra e a PEC das Domésticas; com Júlio Campos e a lei de proteção às testemunhas; e com Wellington Fagundes ao criar a estrutura para o Estatuto do Idoso.

A Assembleia Legislativa precisa ser renovada. Ela que deveria ser a máxima representação popular, infelizmente é uma casa de compadres, que sequer tem independência para apurar suspeitas, indícios e denúncias de canais competentes sobre ilícitos por parte de deputados. A eternização parlamentar é nociva. Mato Grosso em peso tem conhecimento que durante 20 anos o deputado José Riva controlou as sucessivas bancadas estaduais, e nesse período, segundo sua delação homologada pelo desembargador Marcos Machado (TJ), seu esquema surrupiou 175 milhões dos cofres públicos. Riva na Assembleia e Silval Barbosa no governo causaram um grande mal a Mato Grosso. Ambos foram presos, condenados e beneficiados por delação premiada. Quem passa pela avenida Historiador Rubens de Mendonça, em Cuiabá, vê as obras do BRT, em execução para assegurar transporte público em Cuiabá e Várzea Grande. O que nem todos sabem, porque boa parte da população mato-grossense é recém-chegada, é que o perverso esquema da Era Riva-Silval desviou uma montanha de dinheiro no período preparatório para a Copa do Mundo de 2014, e dentre as obras prejudicadas, estava o VLT, que é substituído pelo BRT.

Que Mato Grosso vote bem em 2026, sem o fantasma de Bolsonaro. Voto de Mato Grosso para Mato Grosso e por Mato Grosso. Sem o direcionamento do voto para Bolsonaro ou contra ele, que o eleitor possa votar no candidato, pelo que ele representa e não pela sombra que o cerca.

Sem o fantasma Bolsonaro, que teima na polarização, que é nociva e desvia o foco das atenções, Mato Grosso poderá avaliar melhor a insistência da permanência de núcleos familiares no poder, e a luta de outros para conquistá-lo. Está mais que cristalina a articulação do governador Mauro Mendes para ser senador e sua mulher, Virgínia Mendes, deputada federal, na tentativa de repetir dobradinhas matrimoniais do passado, com Carlos Bezerra e Teté, Jonas Pinheiro e Celcita. Também é muito visível as manobras familiares para abrigar pais e filhos no poder, como querem Carlos Fávaro e Rafael Fávaro, Emanuel Pinheiro (o do paletó) e Emanuelzinho Pinheiro; ou de sogro e norta, como é o caso de Wellington Fagundes e Janaína Riva – deputada estadual pelo MDB; ou ainda de irmãos, como se vê com Jayme Campos e o deputado estadual Júlio Campos. Temos que virar a página de famílias se sentirem no direito de escolherem membros para a disputa desse ou daquele cargo. Sem o fator Bolsonaro, o eleitor terá mais espaço para avaliar a campanha entre aspas que o conselheiro do TCE Sérgio Ricardo faz planejando sua volta à Assembleia; para rememorar o passado dos ex-deputados estaduais Mauro Savi, Ezequiel Fonseca e Emanuel Pinheiro, que querem voltar à cena política.

Enfim, com a presença de Bolsonaro descartada, o eleitor poderá avaliar o desempenho dos parlamentares no Congresso e na Assembleia, pois todos, absolutamente todos, querem continuar no poder. O que se extrai do mandato da Coronel Fernanda? De Juarez Costa? De Nelson Barbudo? De José Medeiros? De Emanuelzinho Pinheiro? De Gilberto Cattani (aquele da prenhez das vacas e a gravidez)? É preciso vê-los com uma lupa que não estampe nem amplie a imagem de Bolsonaro e de seu oponente Lula da Silva.

Nas correntes de pensamento há boas opções de pré-candidaturas. Sem a influência da paixão pelo Mito, que o eleitor escolha os melhores e que na hora do voto tenha em mente o histórico dos candidatos, pois, geralmente, são palanqueiros crônicos.

Que o voto não seja influenciado por redes sociais, onde políticos se apresentam com candura, largos sorrisos, frases prontas para tudo, dispostos a defender todas as causas simpáticas. Não os veja somente pelo rótulo que criam. Busquem suas origens, seus berços. Associem seus nomes aos que os cercam. Levantem seu passado.

O ano de 2026 pode ser um marco político para o mato-grossense. Não pensem que por maior que seja a triagem entregaremos o poder a um grupo de castas colegiais, mas tenham a certeza de que sem a influência externa de Bolsonaro e uma varredura nos nomes em disputa teremos representantes melhores nesta abençoada e ensolarada terra, de impunidade, cumplicidade, hereditariedade política e de matilha com pele de cordeiro.

 

 

 

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