Boa Midia

Por que livros são mais caros que drogas?

 

Leandro Lima*

MATUPÁ

Em um país onde a posse de drogas para uso pessoal gerou, em média, 365 novas ações judiciais por dia no primeiro quadrimestre de 2024, o acesso à cultura e à educação ainda enfrenta desafios profundos.

Recentemente, o funkeiro MC Poze do Rodo foi preso sob suspeita de envolvimento com o Comando Vermelho e por apologia ao crime em suas músicas. Apesar da ausência de evidências concretas, a prisão foi posteriormente revogada por meio de habeas corpus.

Nas imagens dele deixando a prisão, uma multidão de fãs o aguardava. Durante a entrevista, uma cena me chamou a atenção: uma criança, vestindo uniforme escolar, observava tudo com os braços cruzados. Onde essa criança deveria estar naquele momento?

Enquanto isso, o consumo de drogas segue em crescimento. Em 2022, mais de 292 milhões de pessoas usaram drogas — um aumento de 20% em relação à década anterior. No Brasil, o uso de analgésicos opioides saltou de 0,8% em 2012 para 7,6% em 2023.

Diante desse cenário, surge a pergunta: por que livros são mais caros que drogas?
Enquanto o acesso à cultura e à educação é barrado por obstáculos econômicos e institucionais, as drogas, muitas vezes, estão ao alcance de qualquer esquina, perpetuando ciclos de exclusão, violência e marginalização.

É urgente repensar nossas prioridades como sociedade. Investir em educação e cultura é oferecer caminhos, alternativas reais e oportunidades, especialmente para os mais vulneráveis. Só assim poderemos construir um futuro mais justo, consciente e equitativo.

Como escritor, especialmente de histórias infantis como a série As Três Capivarinhas e A Missão dos Emoticons na Escola do Coração, enfrento diariamente a dificuldade de levar livros até escolas, prefeituras, educadores, pais e famílias. Falta incentivo, apoio — e muitas vezes, interesse.

Precisamos urgentemente de uma mudança de mentalidade. Pais, invistam em livros que contribuam para a formação intelectual, emocional e ética dos seus filhos. Menos telas. Mais presença. Mais leitura. Mais diálogo. Mais família.

Não tenho todas as respostas sobre como transformar essa realidade. Mas tenho certeza de uma coisa: políticos e gestores públicos podem — e devem — fazer a diferença. Investir em materiais de qualidade para nossas crianças é investir no futuro. E o futuro de uma criança começa agora.

*Leandro Lima é escritor e defensor da democratização do acesso à cultura e à educação

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