Mergulhada numa montanha de dívida superior a 90 milhões, com salários em atraso e disputada por dois grupos, a Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis é a pior imagem possível para um hospital filantrópico. Sob investigação da Câmara Municipal e com a judicialização da eleição pelo seu comando, o último lance de seu xadrez é uma liminar concedida pela juíza Milene Aparecida Pereira Beltramini, da 4ª Vara Cível, numa ação movida por Iracema Dinardi Peixoto, que suspendeu o pleito que aconteceria no dia 24 deste mês, em razão da alegada inelegibilidade estatutária de integrantes da Chapa 1, encabeçada por Leonardo Santos Rezende. Iracema disputa a presidência do Conselho Administrativo e Financeiro da Santa Casa com Leonardo Rezende.
A Santa Casa é um poço de mistério e uma Comissão Especial de Investigação da Câmara (CEI) presidida por Ibrahim Zaher (MDB) tenta encontrar o fio da meada para tamanho endividamento. Além dos repasses regulares que recebe do Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde da da prefeitura, o hospital também é contemplado com emendas parlamentares. Em off moradores da cidade denunciam que apadrinhamento de servidores e alguns salários astronômicos, de até 50 mil reais para cargos executivos, podem ser a razão para o seu desmantelamento financeiro.
Resta aos vereadores da CEI passarem a limpo a movimentação financeira para se chegar ao rombo que deixa a Santa Casa à beira do abismo, como aconteceu com a bicentenária Santa Casa de Cuiabá, que entrou na bancarrota em 2019 com um dívida de 118 milhões em aberto com fornecedores e os 800 funcionários de seus quadros; a saída foi o governo estadual assumi-la transformando-a no Hospital Estadual Santa Casa.
Um abafa social não permitiu que o rombo em Cuiabá fosse passado a limpo. À época, alguns veículos de Comunicação revelaram que a alta cúpula da Santa Casa cuiabana mantinha jardineiros dos quadros daquele hospital trabalhando em suas residências. Ficou o dito pelo não dito e um vazio perante a população, que sempre foi solidária com aquela instituição. Pessoas humildes colaboraram para sua manutenção doando pequenos valores que eram debitados em suas faturas de energia elétrica.
Em Rondonópolis também há mistério. A única faceta negativa tornada pública foi a crônica briga do ex-prefeito Zé Carlos do Pátio (PSB) com a Santa Casa, com ambos os lados sustentando que o outro estava errado. Uma das poucas vozes por um pente fino na Santa Casa foi o recente grito da à época deputada estadual Marildes Ferreira (PSB), que pediu ao governador Mauro Mendes (União) que decretasse intervenção estadual naquele hospital, mas o governante tirou o corpo fora.
A eleição suspensa judicialmente tem o pomposo nome de Assembleia Geral Ordinária (para a escolha dos mandatários). A decisão liminar da juíza foi em atendimento a um Procedimento Comum Civil de Iracema Peixoto e proíbe o pleito até o julgamento do mérito.
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A medida judicial atingiu seis integrantes da Chapa 1, o que na prática a pulverizou.
Os candidatos liminarmente impedidos são os seguintes:
1 – Leonardo Santos Rezende – por manter contrato ativo de honorários advocatícios com a Santa Casa.
2 – Ernando Cabral Machado – firmou contrato de aluguel de imóvel com a Secretaria Municipal de Saúde, no montante de R$ 1.850.502,72, “ensejando conflito de interesse com a instituição”, segundo a decisão.
3 – Renato del Cistia – por ser filho de Sérgio del Cistia, que é sócio e fundador da empresa Elétrica Serpal, que tem contratos ativos e faturas em aberto com a Santa Casa.
4 – Adão Hipólito Garay da Silva – por seu pai de uma médica do corpo clínico da Santa Casa, o que caracteriza nepotismo.
5 – Katia Fares Dib – por conta de certidão positiva de protesto e de títulos e execuções judiciais.
6 – Ovídio Zanchet – teria fornecido um número de CPF que não seria o dele.
SANTA CASA – O Hospital Regional Irmã Elza Giovanella e a Santa Casa, ambos em Rondonópolis, são referências para atendimento pelo SUS por meio do Consórcio Regional de Saúde do Sul de Mato Grosso (CORESS) que tem abrangência em 19 municípioS*, numa área de 90.449,743 km² com 608.080 habitantes.
Idealizada e lançada pelo Rotary Club de Rondonópolis, a Santa Casa foi construída pela população da região, e que inclusive realizou vários bingos de bovinos para a arrecadação de fundos. A área para sua construção foi doada pelo casal Jupia Oliveira Mestre e José Salmen Hanze, o Zé Turquinho.
O grau de transparência da administração da Santa Casa é baixo. Sua direção somente fala em recursos quando corre o pires em busca de emenda parlamentar ou de auxílio complementar na área pública. Em Rondonópolis uma corrente defende que a mesma deveria ser transformada numa fundação, para que sua movimentação financeira fosse fiscalizada e auditada externamente, com acompanhamento pelo Ministério Público Estadual e a Procuradora Geral da República.
Os descompassos da Santa Casa que recentemente levaram seus médicos a uma greve que somente foi suspensa graças a uma negociação com a participação do prefeito Cláudio Ferreira (PL), do deputado estadual Nininho (PSD) e outras autoridades políticas. Os médicos voltaram ao trabalho, mas deixaram claro que aguardam apenas 45 dias para que seus salários sejam regularizados, sob pena de nova paralisação.
Greve na Santa Casa não atinge somente a população rondonopolitana atendida pelo SUS. Em quase todos os municípios em sua base territorial, o médico é o Dr. Ambulância, que transporta pacientes para Rondonópolis. A má gestão atinge a todos, indistintamente, na área de abrangência do CORESS, que se fosse estado seria maior que a Paraíba, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe ou o Distrito Federal; e que se fosse país teria área maior que a Coreia do Sul ou a Dinamarca.
SÍNTESE – A região de Rondonópolis tem que sair da zona de conforto e encarar de frente o caos na Santa Casa num movimento suprapartidário e sem ranço ideológico, com a participação do presidente do CORESS e prefeito de Tesouro, Isaack Castelo Branco (PSB); do senador Wellington Fagundes (PL); dos deputados federais Rodrigo da Zaeli e José Medeiros (ambos do PL); dos deputados estaduais Nininho, Sebastião Rezende (União) e Thiago Silva (MDB); do prefeito Cláudio Ferreira e dos demais prefeitos da área; dos vereadores e das entidades de classe. O rombo é milionário, a crise é antiga, os personagens que lutam pelo comando do hospital são praticamente os mesmos. Aplicação de recurso público (emendas etc.) tem que ser transparente. A população que paga o pato não aguenta mais.
*Rondonópolis, com 259.167 habitantes, Tesouro (2.977), São Pedro da Cipa (4.247), Alto Garças (13.707), Alto Taquari (11.571), Alto Araguaia (17.657), São José do Povo (2.780), Araguainha (1.006), Santo Antônio do Leste (4.212), Campo Verde (47.831), Dom Aquino (7.915), Primavera do Leste (92.927), Poxoréu (24.587), Itiquira (12.519), Jaciara (35.899, Juscimeira (11.620), Paranatinga (28.204), Pedra Preta (18.722) e Guiratinga (10.532).
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