Às nossas mato-grossenses Eunice Paiva
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Ainda estou aqui é o filme que nos mostra a mão assassina do estado de exceção e a fibra da advogada Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, e também que nenhum dos lados defendia a democracia. A esquerda queria por todos os meios estabelecer o regime comunista no Brasil. A direita não aceitava o pensamento do outro lado, mas não se interessava pela plenitude democrática. Mesmo com a verdadeira liberdade fora do roteiro, a obra escrita por Marcelo Rubens Paiva e dirigida pelo bilionário Walter Salles terá impacto político no país. Com a devida vênia, tomo a liberdade dedicar às mulheres mato-grossenses, a força da personagem central Eunice Paiva. Não saberia citá-las uma por uma nem haveria espaço para tanto, mas extrai alguns nomes representativos da política, magistratura, profissões liberais, ordens religiosas, ciência, artes, esporte, segurança, educação e outros segmentos, para simbolizá-las.
Dedico o texto a elas neste Mês da Mulher, por entender que todas, indistintamente, são Eunice Paiva nesta terra onde das formas mais diferentes o Estado nos faz Rubens Paiva deixando sobre os ombros delas o peso das consequências e omissões administrativas. Por saber a força feminina e sua infinita sensibilidade, junto à homenagem o pedido para lutem, acima das questões ideológicas e partidárias, muito além do gênero humano e independentemente de credo ou ausência de fé, para que possamos sepultar o sufocante poder reinante em toda sua dimensão e que teima em nos fazer menores, enquanto seus agentes acumulam fortunas num clima de impunidade que fere a alma do cidadão do povo. Senão vejamos.
A mato- grossense é Eunice Paiva quando procura saúde pública e não a encontra, do mesmo modo que a personagem nunca mais encontrou seu marido. Mato Grosso deve ser o Estado que mais gasta com propaganda sobre saúde, enquanto o cidadão – os filhos de Eunice Paiva – morrem por falta de leito hospitalar, de medicamentos, de cirurgia. Quem mora em Comodoro sabe que em 20 de outubro de 2021 uma ambulância da prefeitura bateu de frente na BR-364 causando 13 mortes. O veículo transportava pacientes para hemodiálise em Vilhena, em Rondônia. Transcorridos mais de três anos a cidade continua sem centro de hemodiálise. As mulheres precisam gritar contra o vácuo do Estado naquele município na fronteira com a Bolívia. Na maioria dos municípios o único médico é o Dr. Ambulância.
A mato-grossense é Eunice Paiva quando o governador Mauro Mendes intempestivamente fecha a escola estadual onde seus filhos são matriculados. Ela também é coestaduana do Marechal Rondon, quando o mesmo governante desativa delegacias e centros de detenção provisória nesta terra onde o que mais avança é o crime organizado.
Eunice Paiva é a mulher mato-grossense que abre a torneira e não tem água; que olha para a calçada e vê esgoto correndo a céu aberto; que reside em rua permanentemente esburacada.
Não menos Eunice Paiva é a mulher em Rondolândia, a cidade que não tem ligação rodoviária perene interna com Mato Grosso, por pirraça administrativa.
Eunice Paiva mato-grossense é a mulher pescadora ou casada com pescador, pois o governo não permite o transporte de pescado de rios.

Eunice Paiva é a mulher do xomano que tem dificuldade de transporte para ir ao trabalho em Cuiabá e Várzea Grande, onde o sonho com o VLT virou pesadelo, que virou BRT, que voltou a ser pesadelo e que nem Deus sabe o que se esconde por trás desse troca-troca.
Eunice Paiva em Água Boa é a mulher que vê caminhão limpa-fossa combatendo incêndio em automóvel por falta de Corpo de Bombeiros naquela cidade.
Eunice Paiva em Mato Grosso é a lavradora sem garantias jurídicas e sem acesso às linhas de crédito, por conta da balbúrdia fundiária que deixa milhares de propriedades sem título definitivo.
Eunice Paiva aldeada em Mato Grosso é a indígena Enawenê-Nawê que sofre com a precariedade da saúde em seu território.
Eunice Paiva entre nós é a mulher do produtor rural ou pecuarista que depende da burocracia no Incra e na Secretaria de Meio Ambiente (Sema), onde servidores criam dificuldades para vender facilidades.
Mato-grossense é a Eunice Paiva que chora pelo filho, marido, irmão, tia e conhecidos mortos nas rodovias estaduais pavimentadas, mas com acostamento manga curta, onde não é possível estacionar – o que resulta em acidentes.
Eunice Paiva da terra de Eurico Gaspar Dutra é a mulher que vê o poderio político hereditário que perpetua os grupos que promoveram os maiores saques ao erário público.
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Excelente artigo, o nobre Brigadeiro com seu tino jornalístico conseguiu se superar, parabéns 👏👏👏 numa só tacada definiu ditadura, democracia, democracia relativa, situação política do Mato Grosso, enalteceu grandes figuras femininas do nosso Estado e exortou ã todas na luta pela verdadeira Liberdade. Artigo excelente, repito. Irretocável.
Apenas gostaria de ter visto serem citadas as Eunice Paiva patriotas de todo o Brasil que saíram em luta por essa verdadeira Liberdade armadas apenas com uma Bíblia e nossa Bandeira, e estão covardemente presas até hoje sem qualquer recurso legal.
Estamos todas aqui, ainda.
Que honra. Recebo com muito carinho
Juliana Scardua
Que texto incrível, Brigadeiro!
Você escreve com maestria e se transforma na voz de tantas Eunices. Uma hora fazer parte desse seleto grupo de mulheres homenageadas.
Forte abraço!
Yael Botelho
Muito obrigada e honrada pela deferência
Rejane Garcia
Muito obrigada
Dalva Peres
Rico texto para refletir, parabéns!
Josué Brandão
Você é o cara meus parabéns
José Rivaldo Assis
Que honra meu amigo querido. Gratidão
Impactante e atual o artigo para o Dia das Mulheres
Parabéns..!
Jonas Silva
Brigadeiro, seus textos são excelentes, mas neste você conseguiu se superar.
Professora Martinha
Persistente batalhadora destemida e vencedora! Deixou um legado de que mesmo na tempestade é possível continuar de pé… E alcançar o objetivo proposto…
Samantha dos Anjos
Quanta honra! Grata pela lembrança e deferência!
Seus textos sempre vigorosos, parabéns!
Vera Terezinha Faccin Carpenedo
Quanta honra, me sinto lisonjeada por ter sido mencionada.
Muito obrigada pela gentileza.