SÉRIE – Sete querem o governo – Otaviano Pivetta
Eduardo Gomes
@andradeeduardo gomes
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BR-163, município de Diamantino, 26 de agosto de 1982. O caminhão para. O motorista, de bolsos vazios, desce, pisa na estrada, olha em todas as direções e vê a vila cercada pela imensidão do cerrado à espera de braços para fazê-lo produzir. O vento bate forte, a poeira levanta e cobre a paisagem de vermelho. Aos poucos, tudo volta ao normal ao seu redor. “Que coisa fantástica esse lugar! ” – Pensou. Empolgado com o cenário da natureza emoldurado pelas pessoas em movimento, o peito queima e o coração lhe diz: o lugar é aqui! Esse foi o primeiro contato de Otaviano Olavo Pivetta com Lucas do Rio Verde, no Nortão. O possante que o trouxe de Caiçara, no Rio Grande do Sul, virou lavoura. Os primeiros passos foram difíceis, mas nunca o esmoreceram. Ao contrário, a cada dia conscientemente buscava mais força nos ensinamentos do pai, Tilídio, que era pequeno agricultor em Caiçara. E inconscientemente também inspirava-se na paixão do velho pela política, afinal seo Tilídio foi prefeito de Caiçara em dois mandatos, pelo MDB ou Manda Brasa. Com um olho no campo e outro na vida pública, Pivetta construiu um império que o situa entre os maiores produtores mundiais de grãos e os grandes exportadores brasileiros de carne suína, e transformou-se em líder político: é vice-governador de Mato Grosso e quer ser governador. Por esse desejo é personagem da série Sete querem o governo.
ELE – Otaviano Olavo Pivetta nasceu em Caiçara (RS) no dia 10 de maio de 1959. É um dos principais líderes do agronegócio nacional. Fez fortuna em Mato Grosso e seu primeiro passo para a riqueza foi a compra da fazenda Ribeiro do Céu, que pertencia ao advogado, agropecuarista e fundador de Nova Mutum, José Aparecido Ribeiro, o Dr. Ribeiro. Procurado pelo dono da área que queria vendê-la, Pivetta disse que não tinha dinheiro para pagamento à vista. Dr. Ribeiro facilitou a transação com parcelamento. Assustado com o negócio, Pivetta disse a ele: Ribeiro do céu, agora terei que trabalhar em dobro para pagá-lo – trabalhou. Dessa expressão surgiu o nome Ribeiro do Céu.
VIDA PÚBLICA – A carreira de Pivetta começou em 1990, quando foi candidato a primeiro suplente de senador, pelo PSB, na chapa encabeçada por Moisés Martins (PDT). Naquele pleito Júlio Campos (PFL) venceu com 331.212 votos. O segundo colocado foi Carlos Bezerra (PMDB), com 136.238 votos. A chapa de Moisés Martins conquistou 50.986 votos.
Em 1996 (PFL), 2000 (PPS) e 2012 (PDT) Pivetta foi prefeito de Lucas. Em 2016 Pivetta tentou a reeleição, mas tombou vítima de fogo-amigo. Pivetta foi um dos pilares da campanha de Pedro Taques (PDT) ao governo em 2014, e também na sua eleição ao Senado em 2010, mas Taques não levou isso em conta na eleição municipal em 2016 em Lucas.
Pivetta esperava contar com apoio de Taques, porém, isso não aconteceu. Segundo os bastidores políticos, Taques mandou o então vice-governador Carlos Fávaro lançar um candidato a prefeito pelo PSD. Fávaro indicou Flori Luiz Binotti. Flori recebeu 14.408 votos e Pivetta 14.166. Pivetta teve o registro de sua candidatura cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral na antevéspera do pleito e quando reverteu a situação foi tarde demais – a decisão judicial prejudicou seu desempenho nas urnas.
Eleição em Lucas sempre é muito disputada, mas em 2016 aconteceu um fato atípico que também contribuiu para a derrota de Pivetta. Operários maranhenses contratados por um complexo industrial foram estimulados a transferirem seus títulos, e teriam recebido generosas injeções de mimos para votarem em Binotti. Fávaro estaria por trás dessa jogada, que foi fatal.
Pivetta, sem dúvida, foi o melhor prefeito mato-grossense em todos os tempos. A saúde pública, a rede escolar, pavimentação total da cidade e outras obras e projetos atestam isso. Jamais permitiu culto à personalidade. Sua administração inovou ao lançar e construir agroestradas – vicinais pavimentadas e asfaltou toda a área urbana.

SECRETÁRIO – Ao assumir o governo em janeiro de 2003, Blairo Maggi nomeou Homero Pereira secretário de Desenvolvimento Rural (Seder). Em 2005, portanto dois anos depois, Homero deixou a Seder para reassumir a presidência da Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), da qual estava afastado para integrar o secretariado.
Para o lugar de Homero o governador nomeou Pivetta, que ficou na secretaria somente até 25 de junho daquele ano. Jilson Francisco da Costa, o Jilson da Fetagri, era secretário-adjunto e assumiu interinamente a Seder, que ganhou novo nome: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf).
DEPUTADO – Em 2006 Pivetta estava nos palanques pedindo votos para deputado estadual. Pelo PDT recebeu 35.901 votos ficando em quinto lugar sendo o campeão José Riva (PP), com 82.799 seguido por Walter Rabello (PMDB), Zé Carlos do Pátio (PMDB) e Percival Muniz (PPS).
Na Assembleia o mandato de Pivetta foi o mais apagado possível em razão de sua tentativa de enfrentar o mandachuva José Riva, que controlava aquele Legislativo com mão de ferro. Pivetta ficou quatro anos em plenário e não deixou sua marca parlamentar, mas saiu de cabeça erguida sem se curvar ao poderio de Riva.

DERROTA – Mauro Mendes (PSB) disputou o governo em 2010 com Pivetta (PDT) de vice e sua chapa recebeu 472.475 votos. Silval Barbosa (PMDB) com o vice Chico Daltro (PP) venceu o pleito em primeiro turno com 759.805 votos (51,21%). Wilson Santos (PSDB) dobrou com o deputado estadual Dilceu Dal’Bosco (DEM) e recebeu 245.527 votos. Marcos Magno formou chapa com o vice José Roberto, ambos do PSOL e cravou 5.771 votos.

VICE – Na eleição ao governo em 2018 Mauro Mendes (DEM) elegeu-se em primeiro turno com 840.094 votos (58,69%) tendo Pivetta (PDT) de vice.

Em 2022 ao vencer a reeleição em primeiro turno, com 1.114.549 votos, a chapa Mauro Mendes (União) e Pivetta (Republicanos) quebrou um recorde eleitoral que durava 12 anos: em 2010 Blairo Maggi (PR) ganhou a disputa ao Senado com 1.073.039 votos.
Filiado ao Republicanos presidido regionalmente pelo ex-deputado federal Adilton Sachetti, Pivetta acompanhou Mauro Mendes no apoio à tentativa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
PULMÃO – Nunca vice-governador teve tamanha influência no governo mato-grossense quanto Pivetta, que é considerado pulmão e cérebro da administração. Articulador, seu gabinete é o destino certo de prefeitos, vereadores, sindicalistas, empresários e indígenas em busca de solução para problemas estruturais e por investimento nos municípios. Habilidoso, está sempre pronto para ouvir e, quando possível, atender, mas sempre tem o cuidado de não criar melindres com deputados, pois existe um oculto e estranho zoneamento regional que estabelece verdadeiras capitanias parlamentares, nas chamadas bases eleitorais.
Administrar não é o forte de Mauro Mendes, que uma vez instalou uma fábrica de silos em Cuiabá e não conseguiu levá-la adiante; também do governador é a proeza de quebrar a Bimetal, a grande indústria que ele montou no distrito industrial de Cuiabá e que virou pó.
No governo quando Mauro Mendes age sem a participação de Pivetta, os projetos costumam dar errado, como é o caso da obra do BRT em Cuiabá e Várzea Grande, que o governante demorou cinco anos para iniciar, e que virou um nó sem ponta, como é de domínio público.
Percorrendo Mato Grosso Pivetta vê figuras que defendem a divisão territorial de Mato Grosso, mas ele sempre desconversa sobre o tema, embora seja morador em Lucas do Rio Verde, cidade do Nortão, que é uma das regiões que buscam autonomia política, a exemplo do que fez Mato Grosso do Sul.
ACUSAÇÃO – Citar Cooperlucas em Lucas é o mesmo que falar em corda na casa de enforcado. Cooperlucas é a sigla da extinta Cooperativa Agropecuária de Lucas do Rio Verde, que entre 1994 e 2000 causou um rombo de R$ 230 milhões (em valores da época) ao governo federal em transações criminosas. A Cooperlucas era fiel depositária da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Produtores faziam entrega fictícia de grãos, contratavam Empréstimo do Governo Federal (EGF) e quitavam tais dividas por meio de operação mata-mata (um financiamento para pagar outro) e adotavam outras práticas que juntas causaram aquele que foi considerado o maior golpe na área agrícola nacional.
Estariam envolvidos no esquema grandes produtores rurais e dentre eles Pivetta; funcionários do Banco do Brasil incluindo o então superintendente em Mato Grosso, Milton Luciano dos Santos; e os então senadores Carlos Bezerra e Jonas Pinheiro, além de outras figuras.
Pivetta não aceita a pecha de ligação com a Cooperlucas e alega que sequer foi seu diretor. Milton Luciano, após a denúncia foi superintendente do Banco do Brasil em Santa Catarina e seu vice-presidente; se a denúncia tivesse consistência ele não teria exercido tais cargos. Num depoimento à Justiça Eleitoral o ex-mandachuva da Assembleia, José Riva, declarou que o então procurador da República e mais tarde governador Pedro Taques teria manobrado para a prescrição de um processo sobre Cooperlucas, para blindar Pivetta, mas ele nega. A palavra de Riva é ouvida com ressalvas. Recentemente condenado a uma branda pena de três anos pelo desfalque de R$ 175 milhões que ele assume ter causado aos cofres públicos, Riva tornou-se réu confesso, e já goza de liberdade.
Bezerra nega participação. Jonas Pinheiro, já falecido, também negava. O mesmo faz Milton Luciano, que além de outros cargos exercidos no banco recebeu convite do então governador Blairo Maggi para presidir à época a recém-criada agência de fomento MT Fomento, mas que o recusou.
Também pesa contra Pivetta a acusação de envolvimento com a Máfia das Ambulâncias ou Sanguessugas, escândalo nacional com epicentro em Cuiabá e que veio a público em 2006. Trata-se da compra superfaturada de ambulâncias e unidades móveis de saúde encarroçadas na capital mato-grossense por uma empresa chamada Planam, do empresário Darci Vedoin e seu filho Luiz Antônio Vedoin, que baixou as portas quando o caldo entornou. Os veículos eram comprados com recursos de emendas parlamentares federais em vários estados.
Em Mato Grosso 75 prefeitos foram acusados de participação e quase toda a bancada federal sob a liderança para esse caso, dos deputados Lino Rossi e Ricarte de Freitas – ambos negaram . As negociatas teriam acontecido na sede da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), à época presidida por Cidinho dos Santos, que era prefeito de Nova Marilândia e que teve o irmão Wagner – superintendente da AMM – preso pela Polícia Federal.
Cidinho nega participação. Pivetta justifica que não recebeu nenhuma vantagem e que somente aceitou a ambulância porque a mesma teria custo zero para seu município. Resumo: filho feio não tem pai. A Máfia das Ambulâncias foi um clássico exemplo de impunidade coletiva Brasil afora, sem excluir Mato Grosso, onde nasceu e foi administrada com a participação das cabeças mais coroadas de dezenas de municípios. Mesmo sem paternidade Pivetta foi indiciado pelo delegado da Polícia Federal, José Maria Fonseca.
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ALTO LÁ – Pivetta era prefeito de Lucas do Rio Verde quando o governo construiu o linhão de energia ligando Cuiabá a Alta Floresta e a interligando ao sistema nacional. Dante de Oliveira era governador e não engolia Pivetta. As torres foram levantadas e os fios estendidos, mas ninguém pode afirmar que por pirraça Dante deixou Lucas sem estação de rabaixamento. Enquanto as demais cidades recebiam a energia firme, a população luverdense se enfumaçava com lamparinas.
Uma manhã Mato Grosso foi sacudido com uma notícia policial, com cheiro de terrorismo: torres próximas a Lucas foram dinamitadas. Equipes foram para o local e a Polícia Federal passou a investigar o caso. Dias depois, na mesma região, outras torres foram dinamitadas. Dante engoliu em seco. Além da equipe para reconstruir as torres também foi enviada outra, para rebaixar a energia. Não se sabe quem lançou mão do radicalismo. Vocês leram acima que em Lucas filho feio não tem pai.
2026 – Pivetta sonha acordado com 2026 e caso se eleja não terá direito à reeleição, pois estará no governo, uma vez que o titular Mauro Mendes deixará o cargo para concorrer ao Senado. Vale observar que Pivetta disputando ou não, candidatura ao Paiaguás, é um dos principais personagens dos meios políticos nos últimos 14 anos:

PITICO – Em 2010 Pivetta perdeu para vice-governador. Em 2014 foi um dos gurus da candidatura vitoriosa do senador Pedro Taques (PDT) ao governo e durante os dois primeiros meses de seu mandato foi eminência parda – mandava e desmandava. Ao ser traído na eleição de 2016 pelo vice Carlos Fávaro, Pivetta afastou-se de Taques, ao qual chamava de Pitico.
Articulado e confiante, Pivetta leva a sério o projeto 2026. Enquanto Mauro Mendes ocupa espaço na mídia regiamente paga, o vice-governador bota o pé na estrada e costura apoio suprapartidário. Para formar chapa, Pivetta preferencialmente teria que buscar um nome em outro partido, e de preferência deverá ser uma mulher cuiabana de tchapa e crux ou alguma radicada na cidade e que não tenha histórico de página familiar maculada pela corrupção. Porém, a participação feminina na política cuiabana é acanhada, e figuras ligadas a Pivetta acreditam que a escolhida será a vereadora Maysa Leão (Republicanos), que embora sendo sua correligionária teria condições de conquistar votos.
A liderança política de Pivetta facilitará a montagem de chapas proporcionais para puxarem votos. O prefeito de Lucas do Rio Verde, Miguel Vaz (Republicanos) foi vice-prefeito de Pivetta e deverá transmitir a prefeitura ao vice para engrossar a chapa de Pivetta para a Assembleia. O presidente regional do partido, Adilton Sachetti, foi deputado federal e prefeito de Rondonópolis, onde é um dos principais líderes.
Adriano Pivetta, irmão e sócio de Pivetta foi prefeito em Nova Mutum (vizinha e Lucas do Rio Verde) em quatro mandatos, num bolsão no eixo de influência da BR-163, onde os filhos de seo Tilídio têm forte reduto eleitoral. Adriano também deverá concorrer para deputado estadual em nome do projeto do mano.
SÉRIE – Continuem lendo a série Sete querem o governo.
A postagem dos nomes citados ao governo é aleatória.
A postagem começou no dia 3 deste mês e o primeiro focalizado foi o senador Wellington Fagundes (PL).
A segunda postagem aconteceu na quinta-feira, 5 deste mês.
O focalizado foi o senador licenciado e ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (PSD).
A terceira postagem data do domingo, dia 9 de fevereiro.
O texto abordou o engenheiro civil e professor universitário José Carlos Junqueira de Araújo, o Zé Carlos do Pátio (PSB), que foi vereador e prefeito de Rondonópolis, e deputado estadual.
A postagem da série continuará de forma aleatória, como aconteceu até agora. Seu objetivo é mostrar a Mato Grosso os nomes querem querem governá-los a partir de 2027.
Leiam, compartilhem e ajudem a divulgar a série, que além se ser o exercício do verdadeiro jornalismo, é um resgate da trajetória política de figuras de destaque na vida pública mato-grossense.
Fotos:
1 – Arte Marco Antônio Raimundo sobre foto da ALMT
2 – Secom/MT
3, 5, 6 e 7 – Eduardo Gomes
8 – Gazeta Digital
Excelentes linhas