Trump traidor dos EUA , filho de imigrante e seus adoradores
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
– Ela começa aqui e termina lá em Cambridge.
– Cambridge?
– É sô; ali pertim de Bosto.
Assim, no mais puro minerêis é a invariável resposta para quem pergunta sobre a casa do mineiro de Alpercata. O começa aqui é a casa em si. O prolongamento até Cambridge é a maneira de dizer que a filharada vive lá, e onde estão os filhos é o lar da família.
A grande Boston e um pouco além de seus limites é a casa da mineirada não somente de Alpercata, mas do Vale do Rio Doce (em Minas e no Espírito Santo), onde a mesma se localiza. A grande cidade de Massachusetts tem sido o lar de milhares – dezenas de milhares – de moradores daquela região, desde os anos 1960, quando o mineiro descobriu que uma boa maneira de vencer na vida é fazer a América. E eles foram indo para lá do jeito que Deus permitia. A travessia do rio Grande, na fronteira dos Estados Unidos com o México, era apenas uma das rotas, mas muitas outras foram utilizadas e sem a necessidade de apoio dos coiotes.
Mesmo sem falar inglês e até mesmo sem o the book is on the table, os mineiros chegaram. Por sorte o mineiro se comunica por mímica e basta perceber pelo olhar o que deve ser feito, que ele faz e, se preciso, responde: nham rãn, nham rãn.

Graças a Deus os mineiros do Vale do Rio Doce descobriram os Estados Unidos. No trabalho pesado do dia a dia, sem cobertura previdenciária, sem saúde pública, marginalizados pelo Estado e compartilhando a população invisível na grande nação do Norte, eles enviam dólares que asseguram dignidade de vida aos pais, avós e bisavós, e constroem moradias – quase sempre sobrados – e melhoram o padrão residencial em Alpercata, Capitão Andrade, Tumiritinga, Inhapim, Frei Inocêncio, Itambacuri, Conselheiro Pena, Linhares, Colatina, Governador Valadares, Periquito, Itanhomi, Chonin de Baixo, Bueno, Engenheiro Caldas, Mantena, Central de Minas, São João do Oriente, Brejaubinha, Santa Maria do Suaçuí, Santa Bárbara do Leste, Taruaçu de Minas, Divino do Traíra, Dom Carloto, Divino das Laranjeiras, São José do Acácio, Alto de Santa Helena, Nacip Raidan, Baixo Guandu, Derribadinha, Naque, Iapu, Malacacheta, Virginópolis, Perdida, Peçanha, Nhonhepe, São Geraldo de Tumiritinga, Era Nova, Resplendor, Aimorés, Dom Cavati, Nova Módica, Galiléia e até Barra do Cuieté – o distrito onde nasci, nas barrancas do rio Doce, em Conselheiro Pena.
O casamento do ilegal mineiro com o trabalho nos Estados Unidos forma o par perfeito. A evolução americana (em boa parte da Europa, também) criou um fosso entre o americano e o trabalho considerado rústico ou degradante, mas pela maciça presença do sangue mineiro não há vácuo de mão de obra. Quem limpa a fossa: é nóis, uai; qualé que trabalha de pedreiro: é o degas, aqui; quem é diarista: é a mineirinha; o motora do caminhão é quem mesmo? O peão vem de onde? A babysitter que consegue sorrir diante da petulância do ianque galeguinho em Somerville nasceu no córrego do Azedo, em Alpercata, ou em Washington? O jardineiro de mãos calejadas ao invés de hambúrguer gosta de angu com feijão, quiabo e carne de porco. O jornaleiro que deixa no portão a edição do dia do The Boston Globe mal lê em português. O borracheiro, o encanador, o vidraceiro, o padeiro, o ajudante de cozinha, o gari e muitos outros profissionais que desceram das montanhas de Minas movimentam eixos da engrenagem social e econômica Estados Unidos coast to coast e não somente em Boston.
Os dólares ganhos nos dentes, são vitais para o Vale do Rio Doce e não menos vital é o trabalho que os mineiros realizam lá. Deveria ser uma relação bilateral respeitosa, mas nunca foi. Para piorar Donald Trump voltou ao poder, mais fortalecido ainda, e disposto a botar em prática uma política xenófoba, que atinge o coração mineiro, muito embora os poetas digam que Minas tem um coração de ouro num peito de ferro – portanto capaz de resistir a tudo. Logo Trump, que não tem senso de gratidão e carrega a pecha de traidor da pátria. Sim, Trump é filho da escocesa Mary Anne MacLeod, que outra não era, senão imigrante; e o falastrão presidente por quatro vezes fugiu a convocação para lutar no Vietnã, onde milhares de americanos morreram defendendo a bandeira de seu país. A covardia de Trump, certamente não lhe permite – ainda hoje, mais de meio século depois de Saigon, ouvir C’era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones, de Gianni Morandi.
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Excelente matéria ! Sou Mineira e suas palavras me representam , representam o orgulho e garra do Mineiro. Que os Brasileiros acordem para terem e viverem em uma nação com dignidade .