SÉRIE (II) – Em quem votar ou não votar – Lúdio Cabral
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
Lúdio Cabral (PT) é o segundo pré-candidato a prefeito focalizado pela Série Em quem votar ou não votar, que aborda aleatoriamente os nomes que estão em pré-campanha para a Prefeitura de Cuiabá e dos municípios de Barra do Garças, Várzea Grande, Sinop, Rondonópolis e outras importantes cidades mato-grossenses.
A série começou com Beto Farias (PL) de Barra do Garças.
Lúdio Cabral
Lúdio Frank Martins Cabral é goiano de Rio Verde nascido em 15 de março de 1971. Em 1985, aos 14 anos, mudou-se para Cáceres com a família. Na adolescência trabalhou três anos em um banco. Em 1990 passou no vestibular de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso e em 1996 concluiu o curso. Em seguida foi para Ribeirão Preto (SP) onde fez residência médica em Medicina Preventiva e Social no campus da Universidade de São Paulo (USP), naquela cidade.
Médico sanitarista do governo estadual e da Prefeitura de Cuiabá, Lúdio tem pouco tempo para a Medicina, pois há 20 anos está nos palanques e no período disputou sete mandatos. Nas últimas duas décadas ele foi o segundo político que mais participou de eleições em Mato Grosso, perdendo apenas para o Procurador Mauro (PSOL) que registrou nove candidaturas no período.
PALANQUES – A trajetória de Lúdio na vida pública sempre foi pelo PT. Tudo começou em 2004 ao se eleger vereador por Cuiabá com 2.640 votos. Quatro anos depois foi reeleito com 3.849 votos. Na primeira eleição adotou na urna o nome de Dr. Lúdio, e na segunda, de Dr. Lúdio Cabral. Vale observar que no período da faculdade Lúdio presidiu a Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina.

Em 2010, embalado pelas vitórias para vereador, concorreu para deputado estadual, mas perdeu. Não passou de 11.431 votos. Esse tropeção não o desanimou e dois anos depois, apadrinhado pelo governador Silval Barbosa (PMDB) foi candidato a prefeito de Cuiabá numa chapa com o vice Francisco Faiad (PMDB) e o pleito foi vencido por Mauro Mendes (PSB) com o vice João Malheiros (PR) pela coligação de seus partidos com o PDT, PPS e PV. Mauro recebeu 137.125 votos no primeiro turno e 169.688 (54,65%) no segundo; Lúdio somou 131.877 votos no primeiro e 140.798 (45,35%) no segundo turno. João Malheiros era deputado estadual e não assumiu o cargo de vice-prefeito optando por permanecer na Assembleia.
Em 2014 quando nacionalmente e em Mato Grosso ninguém sabia onde o PT acabava e o PMDB começava, e vice-versa, novamente Silval apostou politicamente em Lúdio e o lançou candidato ao governo com a deputada estadual Teté Bezerra (PMDB) de vice. O pleito foi vencido pelo senador Pedro Taques com o vice Carlos Fávaro (PP). Taques ganhou fácil no primeiro turno, com 833.788 votos (57,25%) e Lúdio, o segundo colocado, recebeu 472.507 votos (32.45%).
Lúdio mal curou a rouquidão com os discursos em 2014 e correu para novo palanque. Em 2018 venceu a eleição para deputado estadual com 22.701 votos e foi reeleito com 47.533 votos.
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Na disputa domiciliar nas eleições em 2018 e 2022 Lúdio amarrotou o deputado Eduardo Botelho (União), presidente da Assembleia e pré-candidato a prefeito. Em ambas Lúdio foi o mais votado ao cargo em Cuiabá, com 12.690 votos, em 2018, e com 22.356 votos em 2022; Botelho foi o terceiro em 2018 com 10.800 votos, e o segundo quatro anos depois, com 16.778 votos. Em 2022, no município de Cuiabá, o candidato a deputado federal Abilio Brunini (PL) foi campeão na votação ao cargo com 41.621 votos. Abílio é pré-candidato a prefeito.
Lúdio tem o perfil perfeito de liderança esquerdista: formação acadêmica, militante nos meios universitários e com discurso político da luta de classes. Assim, na superficialidade, mas quando se busca o verdadeiro cidadão Lúdio no passado ele pode até ser encontrado numa plenária petista, mas nem por isso deixará de ser visto nas reuniões mais reservadas do grupo de Silval.
As candidaturas de Lúdio a prefeito e ao governo não foram meros afagos do PMDB de Silval com ele. O Partido dos Trabalhadores participava do governo em Mato Grosso. Rosa Neide foi secretária estadual de Educação e em novembro de 2020, quando Rosa Neide era deputada federal a Delegacia Fazendária cumpriu mandados de busca e apreensão em sua mansão em Cuiabá, na Operação Fake Delivery, que investigava um suposto rombo superior a um milhão de reais na compra de materiais escolares para aldeias indígenas pela secretaria de Rosa Neide. Com foro privilegiado Rosa Neide foi ao Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes barrou a operação autorizada pela juíza Ana Cristina Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá. Rosa Neide não foi reeleita, perdeu o foro privilegiado, mas a ação hiberna no Judiciário.
Na campanha de Lúdio para prefeito, ninguém menos que o então poderoso secretário Eder Moraes respondia por seus elos com cabos eleitorais, movimentos comunitários etc.
O passado de Lúdio o incomoda, muito embora ele sempre diga que jamais participou de ato ilícito ou que tenha levado algum tipo de vantagem. Em 2014 nós conversamos na redação do Diário de Cuiabá sobre esse cenário. Disse a ele que o casamento do PT com o PMDB em Mato Grosso simplesmente reproduzia o casório nacional dos dois partidos, que resultou dentre outras coisas na Operação Lava Jato – desqualificada pelo STF alguns anos depois. Ele, porém, ponderou que os fatos em Mato Grosso eram extremamente graves e poderiam respingar em sua trajetória política, que segundo ele era feita com as mãos limpas. Mesmo com o pé atrás Lúdio assegurou que não desistiria da política.
Em fevereiro de 2017 surgiu um escândalo envolvendo Lúdio a Faiad. O Ministério Público e a Delegacia Fazendária (Defaz) lançaram a 5ª fase da Operação Sodoma e ambos afirmaram que logo após a eleição em 2012 Faiad foi nomeado secretário de Administração de Silval, para arrecadar recursos para quitar débitos decorrentes daquela campanha e que o Auto Posto Marmeleiro e a Saga Comércio e Serviço de Tecnologia e Informática teriam sido utilizados para tanto, após vencerem uma série de licitações do governo e que teriam pago 5,1 milhões de reais em propina.
O entrosamento de Lúdio com Silval foi citado na Operação Lava Jato. Em delação premiada o então diretor de Infraestrutura da Odebrecht (rebatizada Novonor) Benedito Barbosa e Silva Júnior, o JB, revelou que Lúdio teria recebido propina de 1 milhão de reais na campanha para governador em 2014, e que seu codinome no esquema desmontado pela Operação Lava Jato era Ema. Segundo as investigações, a Odebrecht teria torrado dinheirama com o esquema de Silval, que era esteio político de Lula em Mato Grosso. Lúdio nega com todas as letras.
Mato Grosso tem grande capacidade de perdoar e de esquecer. Isso pode ser benéfico para Lúdio. Em 2014 a estreante em política Janaína Riva (PSD) elegeu-se deputada estadual utilizando-se da estrutura eleitoral e de campanha de seu pai, José Riva, mandachuva na Assembleia por 20 anos e que naquele pleito foi alcançado pela Lei Ficha Limpa. O pai Riva assumiu em delação premiada que liderou um esquema que surrupiou 175 milhões de reais dos cofres públicos e ninguém se refere a Janaína, agora no terceiro mandato na Assembleia, como beneficiária do caos provocado por Riva, o pai.
Nenhum dos participantes do esquema de Silval está preso. Cuiabá e Várzea Grande ainda convivem com obras inacabadas da Copa do Mundo de 2014, quando a dinheirama tomou Doril, e não há pai para aquele filho feio.

Lúdio não é diferente da classe política. No radical cenário de direita contra esquerda e vice-versa o máximo que pesará contra ele nos debates e xingamentos será a pecha de esquerdista, ideologia essa que o honra, muito embora diga que pretenda administrar com todos, indistintamente.
Se o passado pesa, o momento alivia. Lúdio tem Lula ao seu lado, e embora o presidente seja satanizado por muitos em Cuiabá, o lulismo cuiabano hoje é mais forte do que em 2022, por conta do mandato do petista.
O histórico parlamentar de Lúdio é pouco mais que uma página em branco. Sua passagem pela Câmara foi bem discreta. Na Assembleia, por ser oposicionista ao governo Mauro Mendes (União), ele sequer se arrisca com projetos de lei. Seus discursos trombam com a base do governo, mas nem por isso ele radicaliza e legisla numa faixa que pode ser considerada de oposição confiável.

VICE – A Federação Brasil da Esperança (PT/PV/PCdoB) homologou o nome de Lúdio depois que o vice-prefeito de Cuiabá, José Roberto Stopa (PV) recuou na pré-candidatura a prefeito, mas não definiu o vice para a futura chapa de Lúdio, porém, está certo que não será alguém dos três partidos da federação. A possibilidade maior é que o senador e ministro da Agricultura Carlos Fávaro indique uma mulher de seu partido, e nesse caso desponta a médica Natasha Slhessarenko filha da ex-senadora Serys Slhessarenko, que no passado foi petista e atualmente trabalha no gabinete do deputado estadual Wilson Santos (PSB).
Quanto ao vice, nada decidido ainda. Porém é certo que Lúdio não pedirá licença na Assembleia ao longo da campanha. Caso seja eleito sua cadeira ficará para a vereadora por Cuiabá, Edna Sampaio (16.488 votos em 2022), mas Edna está na bica para ser cassada pela Câmara, onde responde pela acusação de apropriação da verba indenizatória (VI) de sua então chefe de gabinete; Edna argumenta que o dinheiro da VI teria sido destinado para cobrir os gastos com a política por ela adotada em seu gabinete. O segundo suplente é o professor Henrique Lopes (15.154 votos).
RENOVAÇÃO – Lúdio não terá nenhum nome novato de peso para vereador em seu palanque. Seu partido é fechado e praticamente não se renova, mesmo diante da grande resistência nos meios universitários ao bolsonarismo. A novidade para a Câmara será a candidatura da dentista petista Rose Barranco, que é mulher do deputado estadual Valdir Barranco.
O fechamento do PT aos novos nomes também é uma forma de blindagem eleitoral para sua cúpula. Em 2022 a atriz pornô Ester Tigresa manifestou desejo de disputar a Assembleia, mas o partido encontrou barreiras para ela no preciosismo de seu estatuto. Tigresa deveria receber uma votação consagradora e poderia botar em risco a permanência de Lúdio ou de Barranco no poder.
O fechamento do PT pode ser a razão para o aniquilamento do partido nos municípios. A última prefeitura que os petistas controlavam era a de Castanheira, com a reeleita Mabel de Fátima Melanezi Almici, que debandou para o PSD, pelo qual foi candidata a deputada federal em 2022.
COVID – Quando da pandemia da covid havia quatro deputados estaduais médicos; Lúdio era um deles, e nenhum deixou o cargo para a suplência de modo que pudesse ir para a linha de frente enfrentar a doença. Os outros: Dr. Eugênio (PDB), Dr. Gimenez (PV) e Dr. João (MDB); em 2018 foram eleitos cinco deputados estaduais médicos, mas Guilherme Maluf (PSDB) foi nomeado conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e também não arredou pé da chamada corte de contas para atuar no atendimento aos infectados.
PS – Continue lendo a série. A postagem dos nomes é aleatória e o texto não focaliza a vida pessoal dos citados.
Permitida a reprodução em sites, revistas, jornais e blogs, desde que na íntegra, mantido o título e informado o nome do jornalista que escreve a série e o endereço eletrônico completo do www.blogdoeduardogomes.com.br
Fotos: 1 – Blog; 2 e 5 – Site Assembleia Legislativa; 3 – Assessoria PMDB; 4 – Dinalte Miranda, o Tuiuiú; 6 – Assessoria Lúdio Cabral; 7 – Facebook de Ester Tigresa
Postado em 3 de junho de 2024
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