PERFIL – Roberto França e uma página com 50 anos em branco

Mais velho, não; mas o homem público em atividade que exerceu o mais remoto mandato em Mato Grosso. Assim é Roberto França, 72 anos, candidato a prefeito de Cuiabá pelo Patriota. Além disso, é um político sem histórico parlamentar e administrativo mesmo tendo sido vereador, deputado estadual, deputado federal, prefeito da capital e ocupado relevante cargo no governo. Sua página de 50 anos na vida pública está em branco.
Roberto França Auad é um radialista, apresentador de TV e aposentado pelo Fundo de Assistência Parlamentar (FAP) com longa atuação na vida pública, onde colecionou filiações partidárias na Arena, PDS, PMDB, PTB, PSDB, PPS, PV e agora se encontra no Patriota. Sua carreira começou em 1970 ao se eleger vereador. Presidiu a Câmara Municipal. e se elegeu deputado estadual em 1974, 78, 82, 86 e 90 – nesse ciclo de vitórias para a Assembleia, foi derrotado para prefeito em 1988 pelo ex-governador Frederico Campos; ainda deputado, presidiu o Legislativo. Em 1994 foi o deputado federal mais votado em Mato Grosso, com 108 mil votos, dos quais 104 mil em Cuiabá. Em 1996 conquistou a prefeitura e se reelegeu em 2000.
Em 2006, na última eleição que disputou, França amargou suplência para deputado estadual pelo PPS, com 19.521 votos (60% recebidos fora de Cuiabá) e chegou ao plenário em 2007 pelo sistema de rodízio graças ao afastamento de Gilmar Fabris (DEM), que se elegeu por sua coligação.
Enquanto parlamentar nas três esferas o desempenho de França foi pífio. Não conseguiu aprovar uma lei relevante sequer. Sua administração na prefitura foi um fracasso – não há uma grande obra que leve seu DNA e, para piorar, com o beneplácito do Banco do Brasil, criou um precedente grave na relação dos poderes com os servidores: o CDC.
A administração de França se caracterizou pelos crônicos atrasos salariais. Quando o salário era pago o extinto jornal Folha do Estado abria manchete mais ou menos assim: França arrebenta, paga três folhas e inejta dinheiro na praça. A Folha somente não dizia que o pagamento tinha um grave componente: o CDC. Isso mesmo!. Um entendimento do prefeito com o banco assegurava que todos os servidores contraíssem o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) para desconto consignado em folha, no futuro, quando Deus permitisse. Com isso, França mantinha a política do empreguismo com a prefeitura inchada de servidores. sem se preocupar em promover um reforma administrativa e sanear as finanças do município desfagando o orçamento.
O precedente citado não é fantasioso. José Riva, que era mandachuva na Assembleia quando França foi prefeito, viu a jogada do CDC e passou a fazê-la com as bênçãos do BB para quitar a folha dos servidores da Assembleia. O que aconteceu na gestão de Riva no Legislativo é de domínio público.

GOVERNO – Em 11 de novembro de 2009, nomeado pelo governador Blairo Maggi secretário de Comunicação da Agência de Execução de Projetos da Copa de 2014 (Agecopa), França assumiu o cargo. Blairo deixou o governo e Silval Barbosa o substituiu. Silval transformou a Agecopa em Secopa (a mesma coisa, mas com o rótulo de secretaria) e França ganhou um mimo: foi escolhido secretário-adjunto de Obras, mas se sentiu desprestigiado, pegou o boné e se mandou. Ali começava um de seus calvários.
Silval denunciou que na saída da Secopa França teria recebido R$ 1.5 milhão em propina desviada de contrato do governo com a empresa Agrimat Engenharia, que executou obras rodoviárias de interesse da Copa do Mundo. França nega com convicção. Mais e paralelamente a isso, França foi condenado em 2014 a 6 anos e 4 meses de prisão por improbidade administrativa, pelo juiz da 7ª Vara Federal, Paulo Cezar Alves Sodré. Essa condenação não o torna inelegível, por ser em primeira instância, mas a ação tramita.
DE NOVO – Sem disputar mandato desde 2006, França tenta voltar à prefeitura, Declarou patrimônio de R$ 966.319,59. Seu vice é o vereador democrata Marcelo Bussiki, que na Câmara se destacou por tentar apurar na CPI do Paletó, o escândalo de domínio público que envolve o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), que tenta se reeleger.
França é marido da ex-vice-governadora Iraci França (2003/10) que se elegeu pelo PPS numa chapa partidária encabeçada por Blairo Maggi.
PS – Este texto integra uma série de blogdoeduardogomes que aleatoriamente mostra o perfil dos candidatos ao Senado e a prefeito de Cuiabá. A abordagem anterior foi sobre Emanuel Pinheiro.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Programa Resumo do Dia
2 – Marcos Negrini – Site público do Governo de Mato Grosso
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